“Não vai dar em nada”, diz promotor investigado pela corregedoria por declaração ofensiva a manifestantes
Rogério Zagallo disse que arquivaria o inquérito, caso a PM matasse manifestantes
São Paulo|Fernando Mellis, do R7
Uma declaração na página pessoal do promotor de Justiça Rogério Leão Zagallo no Facebook foi motivo para a Corregedoria do Ministério Público de São Paulo instaurar um processo administrativo contra ele. No texto, Zagallo sugere que manifestantes do MPL (Movimento Passe Livre), em um protesto que atrapalhou o trânsito e dificultou sua chegada em casa, na última sexta-feira (7), fossem mortos pela PM e disse ainda que ele arquivaria o inquérito.
“Estou há duas horas tentando voltar para casa mas tem um bando de bugios revoltados parando a Avenida Faria Lima e a Marginal Pinheiros. Por favor, alguém poderia avisar a Tropa de Choque que essa região faz parte do meu Tribunal do Júri e que se eles matarem esses filhos da p*** eu arquivarei o inquérito policial”, diz o texto.
Mensagem atribuída a promotor sugere que PM mate manifestantes: “eu arquivarei o inquérito”
Assustado com a dimensão que a publicação tomou, Zagallo diz que vai apresentar a versão dele ao corregedor e que não imagina que será punido.
— Vou me defender. Eu tenho certeza que não vai dar em nada, porque não pratiquei nenhum ato ofensivo, da forma como estão colocando. [...] Eles [corregedoria] não são corporativistas. Se tiver que punir, eles vão punir. Eu só acho que eles não vão por causa de clamor público. Eles são pessoas sérias.
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O promotor, que tem um perfil restrito aos mais de 2.000 amigos no Facebook, disse que o comentário não foi público e tratou-se de “um desabafo”.
— O comentário que eu fiz, eu fiz para algumas pessoas, amigos, eu não abri para ninguém. Eu fiz uma coisa absolutamente privada, sem nenhuma intensão de ofender quem quer que fosse. Foi um desabafo para alguns amigos, só que eu acho que eles acabaram divulgando, com ou sem a percepção de que isso poderia tomar uma dimensão maior do que aquela que eu queria.
Protestos
O protesto que atrapalhou a volta para casa do promotor foi o segundo organizado pelo MPL após o aumento das tarifas do transporte público em São Paulo. A caminhada de sexta-feira (7) começou no largo da Batata, em Pinheiros, e percorreu importantes avenidas como a Brigadeiro Faria Lima, Rebouças, a Marginal Pinheiros e a Pedroso de Morais.
A manifestação juntou cerca de 2.000 pessoas e foi acompanhada pela Tropa de Choque da PM, que chegou a enfrentar alguns participantes, na marginal Pinheiros e na avenida Professor Frederico Herman Júnior. Naquela noite, a capital registrou o terceiro maior índice de congestionamento do ano.
Histórico de confusões
Esta não é a primeira polêmica em que se envolve o promotor Rogério Leão Zagallo. Em setembro de 2011, ele declarou que “bandido tem que tomar tiro para morrer”. Foi com argumentos desse tipo que ele pediu à Justiça de São Paulo para arquivar um processo sobre um suposto assalto contra um policial civil que terminou com um suspeito morto.
O crime, considerado pelo promotor como ato de "legítima defesa" ocorreu em setembro de 2010. O texto da promotoria é de 24 de março de 2011. Segundo Zagallo descreveu em seu pedido de arquivamento de processo enviado, o crime foi registrado na delegacia como homicídio doloso (quando há intenção de matar), uma vez que o suspeito foi morto.
Na visão do promotor, porém, houve um erro no registro da ocorrência porque o policial não teria cometido assassinato, e sim, agido em legítima defesa.
Em sua argumentação, Zagallo diz “lamentar, todavia, que tenha sido apenas um dos rapinantes enviado para o inferno” e deixa um conselho para o policial: “melhore sua mira”. Zagallo diz ainda que o suposto bandido foi morto “para o bem da sociedade”.