Apesar de tumultos, protesto contra aumento de tarifa do transporte público é apoiado por populares
Cerca de 2.000 pessoas participaram de uma caminhada nesta sexta-feira, em Pinheiros
São Paulo|Fernando Mellis, do R7
No segundo dia de manifestações contra o aumento das tarifas dos ônibus municipais, dos trens metropolitanos e do metrô, os integrantes do Movimento Passe Livre e simpatizantes percorreram avenidas na região de Pinheiros, inclusive a pista local da marginal, zona oeste de São Paulo, na noite desta sexta-feira (7). Apesar de tumultos em alguns momentos da passeata, que durou quase duas horas, e também dos registros de depredações de ontem, algumas pessoas que estavam apenas assistindo ao protesto nesta noite concordaram com a causa.
Tárcio Moreira é empresário no bairro. Parado, com outras pessoas, ele via os cerca de 2.000 integrantes do protesto passarem, na avenida Professor Frederico Herman Júnior.
— Eu já sabia que passaria por aqui. Vim aqui ver porque acho legal, eu apoio. A gente está vivendo uma ditadura disfarçada. É uma ditadura isso, você reclama e não acontece nada. Eu apoio 100%. Minha vontade era de ir junto, só não vou porque estou trabalhando. Acho que todo mundo tem que participar.
Diferente de quinta-feira, quando houve depredações, nesta sexta-feira, os manifestantes não fizeram estragos ao longo do caminho. Apesar disso, diversos muros, ônibus e até o interior de uma estação de metrô foram pichados. Durante o percurso, houve momentos de tensão entre alguns manifestantes e a Polícia Militar. Bombas de gás lacrimogêneo chegaram a ser jogadas na direção do grupo.
A bacharela em serviço social Silvia Negri estava acompanhando na calçada a passagem da multidão. Ela foi para a rua assim que ouviu o barulho do tambor usado pelos manifestantes.
— A gente tem medo da polícia. Dá um pouco de receio de acontecer alguma coisa, de explodirem, de violência.
Apesar do receio, ela permaneceu na calçada, justamente, porque disse que concorda com as reivindicações.
— Apoio [o movimento]. Acho fundamental ir à rua. É o que mais funciona. Não adianta a gente ficar em casa assistindo à televisão e dizendo que nada funciona se a gente não fizer a nossa parte. Eu já fui muito para a rua protestar.
“A gente não tem que recuar”, diz manifestante ao chegar ao segundo dia de ato contra passagem
Receosos também ficaram alguns comerciantes ao longo do trajeto percorrido pelo grupo. Alguns restaurantes baixaram as portas. Garçons nas calçadas recebiam os clientes e abriam para quem quisesse entrar. Em outros locais, quem tomava café ao ar livre, viu a passagem dos manifestantes, sem sofrer qualquer interrupção.
Ao fim do evento, os participantes retornaram ao largo da Batata, ponto de partida da caminhada, onde se dissiparam. Porém, um grupo isolado tentou ir à avenida Paulista usando a estação Faria Lima, da linha 4 – Amarela do metrô. Eles foram impedidos de entrar pela Tropa de Choque da PM e por seguranças da ViaQuatro.
Manifestação
Nesta quinta-feira (6), um protesto contra a nova tarifa — que ficou em R$ 3,20 —acabou em confronto com a Polícia Militar e 15 detidos. A polícia informou também que, durante a manifestação, houve depredação do terminal Bandeira e de alguns ônibus — não foi informada a quantidade dos veículos. A área externa do Masp (Museu de Arte de São Paulo) sofreu com vandalismo e várias latas de lixo foram queimadas na avenida Paulista.
Além deles, as estações de metrô Paraíso, Trianon e Brigadeiro foram danificadas. Os manifestantes tentaram também invadir a estação Anhangabaú e chegaram a invadir o metrô Paraíso. O prejuízo com a depredação desses locais foi de R$ 73 mil.
Leia mais notícias de São Paulo
Três vias foram interditadas pelos manifestantes, segundo a PM. Duas delas — avenida Nove de Julho e Vinte e Três de Maio — foram fechadas durante o protesto. A terceira via foi a avenida Paulista, que ficou bloqueada totalmente nos dois sentidos.
Dos 15 manifestantes detidos, 13 foram liberados pela Polícia Civil na manhã desta sexta-feira (7).