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No último dia de trabalho, Juliane comemorou a chegada de sobrinho

Sargento que atuava na equipe de Juliane afirma que a trajetória da policial deixará a mensagem de "nunca desistir" para colegas do pelotão

São Paulo|Fabíola Perez, do R7

PM Juliane visitou o sobrinho no último dia de trabalho
PM Juliane visitou o sobrinho no último dia de trabalho

Juliane costumava chegar a 2ª Companhia do 3º Batalhão 30 minutos antes do horário. Às 17 horas chegava com trajes civis, tomava banho e colocava a farda. Às 17h30, a policial militar e os colegas se reuniam em uma preleção e às 18h todos se posicionavam nas viaturas. “Estávamos num clima comemorativo, prestes a sair de férias”, afirma Gilson Moccioli, sargento da equipe de Juliane dos Santos Duarte, morta após ter desaparecido em um bar da comunidade de Paraisópolis, na madrugada da quinta-feira (2).

Na terça-feira (31), a policial telefonou para o sargento Moccioli para avisar que chegaria atrasada. O motivo era que Juliane estava na maternidade vivendo os primeiros minutos com o sobrinho recém-nascido, Théo. As razões para comemorar eram ainda maiores do que os dias de folga que se seguiriam. Mesmo assim, Juliane fez questão de cumprir à risca as obrigações do último dia de trabalho.

“Vários policiais cumprem sua missão, mas alguns se esforçam mais”, diz Moccioli. Para ele, esse era o caso da PM Juliane. “Ela realmente tinha um futuro”, afirma. Certa vez, em uma ocorrência de um suposto roubo em que pessoas teriam sido mantidas em cárcere, Juliane teve a iniciativa de investigar os antecedentes da pessoa que fez a denúncia. Nesse caso, segundo o sargento Moccioli, a PM descobriu que o solicitante era, na verdade, um foragido da polícia.

Parceiro de trabalho de Juliane desde o início do ano, Moccioli lembra que quando chegou ao Batalhão, todos os policiais eram tímidos, pouco falavam com o novo sargento. A policial, porém, era extrovertida e gostava de conversar. Foram sete meses de convivência e boas lembranças.


Todas as noites, Mocciolli saia acompanhado de um policial militar, Juliane e seu parceiro. “Ela era uma pessoa calma e alegre”, diz. A fama de dedicada à profissão vem, não só da esperteza demonstrada nas ocorrências, como também da vontade de ascender na carreira. “Ela me procurou para pedir material de estudo”, lembra o sargento. “Mas como ainda não tinha requisitos para prestar concurso para sargento, ela prestaria concurso para cabo e em seguida, para sargento.”

Para adiantar os estudos Juliane procurou o superior para pegar o material emprestado e se debruçar nos livros. “Era a vontade dela”, diz ele. Assim, Juliane tentava conciliar as responsabilidades de casa, a ajuda no tratamento da mãe, os bicos e os estudos. Apesar do desgaste do trabalho noturno, Juliane fazia todos os dias o turno das 18h às 6h. Nos últimos tempos, ela e o parceiro de viatura teriam sofrido um leve acidente com o veículo. A partir disso, a policial passou então a assumir a direção do veículo para que a parceria de ambos não fosse desfeita.


Assim, o parceiro a acompanhou em sua última ocorrência em Americanópolis, onde realizou uma apreensão de drogas, entre elas, cocaína, maconha e LSD. “Fizemos uma incursão em cinco policiais e ela registrou a ocorrência”, diz Moccioli. Além disso, o sargento conta também que ela tentava unir o grupo. “Ela propunha eventos. Há três meses, fizemos um churrasco. Ela deu ideia de fazermos uma caixinha para qualquer eventualidade.”

Segundo Moccioli, a policial Juliane não costuma desistir fácil das coisas. “Ainda não conversei com o pessoal do pelotão porque estou em férias, mas a principal lição que ela nos deixará é não desistir jamais”, afirma. “Ela fez o que todos os dias tentamos fazer: resolver problemas de quem a gente nem conhece e essa tentativa resultou em sua própria morte”, diz ele, referindo-se a situação envolvendo o celular que teria sumido no bar em Paraisópolis.

Na tarde desta sexta-feira (10), por meio de uma rede social, a irmã de Juliane publicou uma foto da policial com o sobrinho recém-nascido. "É... a gente não sabe porque as coisas acontecem mesmo né, e porque acontecem dessa ou daquela forma, mas uma coisa eu sei, o meu Théo estava ansioso por conhecer a titia babona que estava a sua espera por 9 meses, então ele resolveu sair uns 20 dias antes, para podermos registrar esse momento que ficará eternizado em nossos corações. Foi a primeira a pegar, a primeira a ver."

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