Número de mortos em intervenção policial cresce 20% em um ano
Em um ano, 5.144 pessoas morreram em confronto com a polícia. Isso significa dizer que 14 pessoas morrem por dia vítimas de ações da polícia
São Paulo|Fabíola Perez, do R7
As mortes decorrentes de intervenção policial cresceram 20% entre os anos de 2016 e 2017 em todo o país. De acordo com os dados do 12º Anuário Brasileiro de Segurança Publica, divulgado nesta quinta-feira (9) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Publica, 5.144 pessoas morreram em confronto com a polícia. Isso significa dizer que 14 pessoas morrem por dia vítimas de ações da polícia.
"As pessoas confiam menos em uma policia que age de forma mais violenta e abusa do uso da força letal", afirma Samira Bueno, diretora executiva do Fórum. "Isso cria uma lógica de vingança para quem está na outra ponta", diz ela. Segundo a pesquisadora, o grupo de polícias que age a partir dessa lógica de confronto não é grande, porém "mancha a imagem de toda a corporação".
Por outro lado, o número de policiais mortos em serviço teve uma redução de 4,9% no período pesquisado. Foram 367 policiais mortos, o que significa dizer que um policial civil ou militar foi assassinado por dia em 2017. "Já inúmeros policiais que evitam usar farda", diz Samira.
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Números também divulgados pelo Fórum mostram que 56% dos polícias que morrem são negros e 70% morrem fora da atividade policial, fazendo bicos, por exemplo.
Razões que alimentam a violência
Os números de mortes no Brasil já ultrapassaram as mortes registraram em países como em conflito, como a Síria, e eventos históricos, como o número de vítimas deixados pela bomba atômica. "O padrão de uso da força acaba sendo a resposta diante do descontrole geral do sistema", afirma Renato Sérgio de Lima, diretor do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
"O policial puxa o gatilho, mas o sistema como um todo precisa ser revisto", afirma Lima. Os estados que lideram o ranking de violência policial são Rio de Janeiro, Pará e Amapá. "No Rio de Janeiro, prevalece a ideia do 'eles contra nós', e não se investe na investigação e inteligência", diz o diretor.
Segundo Samira Bueno, a ação e a expansão do crime organizado tem pressionado estados e aumentado a violência, a polícia tem produzido muitas mortes e a violência contra a mulher também aumentou. "O crime organizado gerou uma nova dinâmica. É um problema grave para as corporações, mas não é exclusivo da polícia", afirma o diretor do Fórum.