A Operação Narco Vela, deflagrada na última terça-feira (29) pela Polícia Federal, colocou mais uma vez sob os holofotes os irmãos Levi e Rodrigo Felício.Ambos são apontados na investigação como responsáveis por coordenar um grande esquema de envio de cocaína para a Europa e a África por meio de barcos e veleiros. Só uma apreensão do grupo, realizada pela Marinha dos Estados Unidos em 2023, foram três toneladas apreendidas.A operação envolveu mais de 300 policiais federais e 50 policiais militares, bloqueou judicialmente R$ 1,32 bilhão em bens e envolveu autoridades estrangeiras como a DEA (Drug Enforcement Administration), a Guarda Civil Espanhola e a Marinha Francesa.Nomes fortes do PCC, os irmãos comandaram por anos uma célula da facção baseada na cidade de Limeira (SP), a 144 km de São Paulo, que era responsável pela logística do tráfico de drogas de países vizinhos como a Bolívia, o Paraguai e o Peru até o interior de São Paulo.De lá, o grupo também coordenava o abastecimento de drogas da capital e o envio de drogas para a Europa. A célula dos irmãos Felício era, segundo a Polícia Federal, uma das principais sedes da chamada “sintonia do progresso”, o setor do PCC responsável pela organização do tráfico de drogas, no interior do estado de São Paulo.O grande líder da célula de Limeira era Rodrigo Felício, o “Tico” (também chamado de “Baixinho” ou “Mais Novo”). Ele começou a ganhar destaque e entrar na mira das autoridades na virada da década de 2000.Entre 2009 e 2014, o nome dele foi associado pela Polícia Federal a pelo menos nove apreensões de drogas, que somam 10,3 toneladas de maconha e cocaína em municípios do interior de São Paulo como Bauru, Jaú, Limeira, Bocaina e Santa Barbara D’Oeste.Além disso, também foi ligado a uma apreensão de 109 kg de cocaína apreendidos no porto do Rio de Janeiro — o navio zarpou de Santos e o destino era a cidade de Valência, na Espanha.Tico foi o principal alvo da Operação Gaiola, uma grande operação da Polícia Federal deflagrada nos anos de 2013 e 2014, que também contou com o apoio da agência americana DEA. Um informe dos americanos, emitido em maio de 2013, indicava Rodrigo Felício como o principal comprador de uma organização criminosa sediada na fronteira do Brasil com a Bolívia e com o Paraguai e como membro do PCC.Entre seus parceiros no crime, estavam dois homens que foram assassinados anos depois em casos de grande repercussão na imprensa. Um dos homens apontados pela Polícia Federal como fornecedor de cocaína para a quadrilha de Rodrigo Felício, a partir da fronteira com o Paraguai, era Michel Antunes Pinto, morto junto com a filha de 9 anos em dezembro de 2020 na cidade de Zanja Pytã, vizinha a Pedro Juan Caballero.Outro antigo parceiro comercial de Rodrigo Felício era Juliano Gimenes Medina, executado a tiros de fuzil em junho de 2022 na cidade de São Pedro (SP), a 200 km de São Paulo, em uma cena cinematográfica. Segundo a PF, ele atuou como fornecedor de maconha da quadrilha de Rodrigo Felício.O reinado de Tico nas ruas terminou em 1º de abril de 2014, quando ele foi preso na cidade de Osasco (SP). Em seu lugar, assumiu um nome de peso e do mesmo sangue: seu irmão, Levi Adriano Felício.Levi (também conhecido como “Mais Velho” ou “Parente”) era descrito na Operação Gaiola, em 2014, como um “laranja” do irmão Rodrigo. Tudo mudou, porém, com a prisão de Tico. Levi passou a coordenar o esquema criminoso antes capitaneado pelo irmão a partir do interior de São Paulo.Após outras prisões sofridas pela organização criminosa, Levi deixou o Brasil e radicou-se no Paraguai, onde ficou até ser preso em um apartamento de luxo em Assunção em outubro de 2019.Do país vizinho, ele ascendeu no PCC. Desde o Paraguai, Levi era um dos principais responsáveis por coordenar a logística do tráfico de cocaína para o Brasil. Denunciado na Operação Sharks, deflagrada pelo Ministério Público de São Paulo em 2020, Levi é apontado como destinatário de depósitos em dinheiro do PCC e tinha como função tanto coordenar a logística do envio de cocaína e armas do Paraguai ao Brasil. Era responsável por pagar os “fretes” de droga e armas para o Brasil, bem como por pagar fornecedores dos dois produtos no Paraguai e em outros países vizinhos.A prisão não impediu os irmãos Felício, porém, de seguirem no crime. Segundo as investigações da Operação Narco Vela, por trás das grades, os irmãos recorreram a outro contato: o advogado Leandro Ricardo Cordasso.O advogado Leandro Ricardo Cordasso possui registro de envolvimento com o tráfico de drogas ao menos desde o ano de 2008. Em julho de 2019, ele foi preso em flagrante no Alto da Mooca, na zona leste de São Paulo, com cerca de 11 kg de cocaína em uma caminhonete de sua propriedade.Leandro foi condenado pelo delito de tráfico de drogas e ficou preso até maio de 2021. Quando saiu da prisão, porém, voltou a ter envolvimento com o crime e com os irmãos Felício. A PF diz que Cordasso mantém relações íntimas com os irmãos Felício desde que foi casado com uma sobrinha deles.No caso da Narco Vela, Cordasso é acusado de, a mando dos irmãos Felício, manter contato e coordenar os envios de cocaína em veleiros. Segundo a PF, as ordens partiam de Rodrigo e Levi desde a cadeia e era Cordasso quem executava os planos nas ruas, também a partir de Limeira (SP).Resta saber se, agora, após a deflagração desta nova operação, a Justiça e as autoridades conseguirão impedir que os irmãos Felício comandem atividades do tráfico internacional de drogas desde a prisão.A RECORD procurou a defesa de todos os suspeitos. Localizada, a defesa de Leandro Cordasso não retornou. A reportagem tenta encontrar os advogados dos demais acusados citados. O espaço está aberto para manifestação.Fique por dentro das principais notícias do dia no Brasil e no mundo. 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