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Passageiros se aglomeram por falta de opção e pedem mais proteção

R7 acompanhou a dura rotina de usuários do transporte público da capital paulista nos cinco primeiros dias de volta à fase vermelha

São Paulo|Do R7*

Aglomeração na Estação da Luz
Aglomeração na Estação da Luz Aglomeração na Estação da Luz

A primeira semana de fase vermelha na cidade de São Paulo foi marcada por mais imagens de passageiros amontoados no transporte público e pedidos por distribuição de máscaras de proteção no transporte público. A nova etapa entrou em vigor na segunda-feira (12) em todo o estado, após 28 dias de fase emergencial e se estende até 18 de abril.

Ao longo da semana, o R7 acompanhou a rotina dos usuários que transporte que relataram a necessidade de ir ao trabalho presencial, apesar dos riscos que correm nos aglomerações em ônibus, trens e metrôs. "Tem pessoas que não têm condições de ficar em casa. Eu acabei de ter um filho, tenho que trabalhar pra dar o leite para a criança", disse o estoquista David Santos, de 27 anos, sai de São Miguel Paulista, no extremo leste da cidade, e vai até Pinheiros, na zona oeste, diariamente.

David Santos: "Acabei de ter um filho, tenho que trabalhar pra dar o leite para a criança"
David Santos: "Acabei de ter um filho, tenho que trabalhar pra dar o leite para a criança" David Santos: "Acabei de ter um filho, tenho que trabalhar pra dar o leite para a criança"

Mesmo um ano após o início da pandemia, o transporte público segue como um dos principais vetores de disseminação do vírus. Nem na fase emergencial, em vigor entre 15 de março e 11 de abril, os passageiros conseguiram circular com o distanciamento necessário para evitar a disseminação do vírus. 

A analista de comunicação Bruna Moraes, de 27 anos sai todos os dias da zona leste de São Paulo para trabalhar na região da avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini, na zona sul. "Para mim, está do mesmo jeito. Falta empatia do governo e das empresas, mas entendo que as pessoas precisam trabalhar", diz. "Poderia estar fazendo home office, mas a empresa pede pra irmos. Esse revezamento, não aglomera dentro da empresa, mas estou aglomerando fora e podendo levar [o vírus] para lá. Entendo a parte da economia, mas são vidas", diz.

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Ambiente propício à contaminação

O transporte público reúne um grande número de pessoas, em um espaço pequeno e com pouca ventilação. A combinação favorece um risco excessivo não só dentro do transporte, mas também entre as pessoas que convivem com os passageiros.

Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), a chance de contrair covid-19 é maior em ambientes cheios e espaços sem ventilação adequada onde as pessoas passam longos períodos de tempo próximas umas das outras. "Esses ambientes são onde o vírus parece se espalhar por gotículas respiratórias ou aerossóis de forma mais eficiente, por isso, tomar precauções é ainda mais importante”, alertou o órgão.

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"A maior loucura nessa pandemia é o descaso com os serviços de locomoção de massa. Parece até que o covid-19 não existe nesses locais, frotas reduzidas, transportes precários, super lotação", desabafou nas redes sociais a fotógrafa e auxiliar de marketing, Ludmilla Corrêa.

Ar condicionado

Para essa época de pandemia, seria necessário que a ventilação no transporte público fosse aumentada e que fossem desenvolvidos mecanismos para evitar a aglomeração de pessoas, com os passageiros, preferencialmente, todos sentados. Um dos problemas que pode ainda agravar o risco de se pegar o novo coronavírus é o ar condicionado, muito utilizado no transporte público, alerta Gonzalo Vecina, professor da Faculdade de Saúde Pública de São Paulo,

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“É mais perigoso. Esse ar condicionado [geralmente utilizado no transporte público] é sem filtro, então você tem a recirculação do aerossol, que o mantêm mais tempo ativo. Num ambiente em que você tem a circulação do ar, o aerossol sofre uma dispersão e vai embora", detalha o professor.

Ele detalha a diferença entre os equipamentos usados no transporte público e em aviões. "No caso do Metrô, o ar condicionado recicla esse aerossol, o que é diferente dos aviões. Nos aviões, o ar está continuamente sendo renovado, passa por um filtro absoluto, que filtra a partícula viral. Mas esse ar condicionado, de uma forma geral, que temos em shoppings centers, cinemas e mesmo na nossa casa, esses [modelo] split, não têm filtros. Eles apenas retém partículas grandes de poeira. E essas partículas pequenas, que contém vírus, eles não filtram. Pelo contrário, eles mantêm mais tempo as partículas virais circulando.”

Segundo Vecina, a única maneira de diminuir o risco de contaminação no transporte coletivo seria circular com janelas abertas ou não ter aglomeração - de preferência, não deve levar gente em pé. "O que é absolutamente difícil na situação de uma cidade grande como São Paulo”, disse.

Perfil

O público mais atingido pela lotação de transportes é de baixa renda, uma população com idade economicamente ativa e que recebe, em média, dois salários mínimos. Os passageiros do Metrô de São Paulo, segundo pesquisa de 2018 – a mais recente da companhia –, são pessoas com renda mensal de R$ 2.003 (à época, equivalente a pouco mais de dois salários), em média, e faixa etária de 18 a 34 anos (58%).

"O governo estadual está matando o trabalhador e os empresários" afirma o zelador, Laerte José Oliveira, de 44 anos, que avalia o transporte público em São Paulo como "péssimo" nesta pandemia. "Quem trabalha não consegue se manter com o auxílio, os micro empresários estão falindo. Sou pró-trabalho, o pior da pandemia vai ser o desemprego e a fome", lamentou.

Viagens

O número médio de viagens de passageiros por dia útil nos ônibus da capital paulista aumentou em 300 mil de janeiro para fevereiro deste ano, enquanto a quantidade de ônibus permaneceu a mesma, de acordo com boletim do Monitor de Ônibus SP, do Iema (Instituto de Energia e Meio Ambiente). A frota permanece com média de 12 mil ônibus circulando em dias úteis desde junho do ano passado.

Houve, em média, 5,3 milhões de viagens nos ônibus públicos da capital paulista em cada dia útil de fevereiro deste ano. Desde maio de 2020, nos primeiros meses de adoção do distanciamento social, o número de locomoções por ônibus públicos aumenta gradualmente na cidade. 

A Prefeitura de São Paulo, por meio da SPTrans, informou que a frota de ônibus das linhas municipais da cidade foi mantida acima da demanda apresentada desde o início da pandemia, em março de 2020. No momento, a frota do sistema de transportes está mantida em 88,25% em toda a cidade e em 93,34% nos bairros mais afastados do centro, para uma demanda de menos da metade de passageiros, considerando os números do período anterior à pandemia no ano passado.

Funcionários

Além dos passageiros, os funcionários dos serviços de transporte também sofrem com o descumprimeiro dos protocolos de segurança contra o novo coronavírus.

A letalidade por covid-19 entre motoristas e cobradores de ônibus é três vezes maior do que a média geral da cidade de São Paulo. São trabalhadores da linha de frente que se arriscam todos os dias no contato intenso com a população.

Especialistas estimam que a ocupação do espaço no transporte público de São Paulo em horário de pico é de até nove pessoas por metro quadrado, quando a distância mínima entre passageiros recomendada pelas autoridades sanitárias é de um metro e meio.

O Sindicato dos Metroviários de São Paulo decidiu fazer greve sanitáriana próxima terça-feira (20), para protestar pela contaminação e pelas mortes de colegas em função da pandemia. Uma nova reunião deverá ocorrer no próximo dia 19 (véspera do ato) para discutir a paralisação — que abrangerá funcionários de todas as linhas, inclusive da ViaMobilidade e ViaQuatro.

A Secretaria dos Transportes Metropolitanos informou, por telefone, que as negociações com os metroviários continuam para evitar uma paralisação e afirmou que tem ouvido as reivindicações de todas as categorias. Antes do anúncio da greve, o secretário dos Transportes Metropolitanos, Alexandre Baldy, já havia defendido a vacinação dos trabalhadores do transporte público contra a covid-19. 

"A vacina é nossa esperança! Os trabalhadores do transporte público, aqueles que diariamente têm contato com milhões de pessoas, tem meu apoio na luta para a sua vacinação. Zelar pela saúde da população é nosso dever", escreveu o secretário nas redes sociais no dia 10.

Governo federal

A lotação e aglomeração no transporte público se tornou também uma preocupação do governo federal. Esta semana, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse que o governo pretende lançar um protocolo com orientações para o transporte público. Em encontro com os jornalistas, o ministro da Saúde cobrou disciplina e uso de máscaras por quem utiliza transporte público, como forma de evitar ainda mais a disseminação do novo coronavírus.

Governo estadual e prefeitura

A SMT (Secretaria dos Transportes Metropolitanos) afirma que desde o início da pandemia adotou a Operação Monitorada, com avaliação sistemática a cada faixa de horário, para atender a demanda de passageiros.

Em março de 2020 a demanda caiu 80% em relação a um dia normal e na semana passada – último dado disponível - a queda foi de 61%, na média, entre as três empresas - Metrô, CPTM e EMTU. Antes da pandemia, as empresas transportavam juntas cerca de 10,5 milhões de passageiros por dia, segundo a SMT. A secretaria informa ainda que Plano SP recomenda o escalonamento de entrada e saída de funcionários em atividades essenciais para evitar a concentração nos horários de pico.

Além de afirmar que a frota de ônibus das linhas municipais da cidade de São Paulo foi mantida acima da demanda apresentada desde o início da pandemia, em março de 2020, a SPTrans afirma que, em comparação com um dia útil antes da pandemia, a demanda de passageiros dos ônibus municipais caiu de 61% na semana anterior ao retorno da fase vermelha (em 2 de março), para uma média de 39% nos dias 26, 29, 30 e 31 de março e 1º de abril, feriados antecipados. Nesta sexta-feira (9 de abril), Fase Emergencial, a demanda foi de 48%.

O órgão informa ainda que a equipe técnica da SPTrans monitora diariamente o deslocamento do passageiro na capital com o objetivo de equilibrar a oferta à demanda.

Uma série de medidas preventivas também foram adotadas, como a obrigatoriedade do uso de máscaras por passageiros, motoristas e cobradores, o reforço na higienização dos veículos e nos terminais. Além de reforço da da limpeza já realizada diariamente nas garagens em todos os ônibus, a higienização dos ônibus é reforçada entre as viagens, nos terminais municipais, principalmente nos locais onde há contato mais frequente dos passageiros, como balaústres, corrimãos e assentos.

Fase vermelha

Na etapa atual, estão mantidos o toque de recolher das 20h às 5h, a restrição de atendimento presencial em todos os serviços essenciais. Além disso, permanece oreforço da fiscalização sobre eventos e aglomerações.

A recomendação para o escalonamento na entrada e saída de trabalhadores da indústria, serviços e comércio continua válida, assim como a obrigatoriedade do teletrabalho e a proibição de celebrações religiosas. Na capital, o rodízio noturno continua em vigor, sem prazo para terminar.

*Com informações da Agência Brasil

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