PF apura corrupção que envolve empresa investigada pela CPI Covid
São cumpridos 8 mandados de busca e apreensão na Grande São Paulo e em Passos (MG). Grupo simulava operações comerciais
São Paulo|Do R7
A Polícia Federal, em conjunto com a Receita Federal e o Ministério Público Federal, deflagrou nesta quinta-feira (30) a Operação Acurácia, que é a 14ª fase da Operação Descarte. O objetivo é apurar um esquema de lavagem de dinheiro e corrupção de agentes políticos em troca de apoio na contratação de empresas pertencentes aos investigados por empresas públicas do governo federal.
Um dos alvos é a Global Gestão em Saúde, que é do sócio-proprietário da Precisa Medicamentos, Francisco Maximiano. Em depoimento à CPI da Covid em 19 de agosto, ele permaneceu em silêncio. A empresa representou no Brasil o laboratório indiano Bharat Biotech, fabricante da Covaxin, e firmou contrato de R$ 1,6 bilhão com o Ministério da Saúde. A compra é alvo de investigação de diversos órgãos.
Cerca de 50 policiais federais e servidores da Receita Federal cumprem oito mandados de busca e apreensão na Grande São Paulo e na cidade de Passos (MG). As ordens judiciais foram expedidas pela 2ª Vara Criminal Federal de São Paulo.
Leia também
A PF verificou que o grupo investigado simulou várias operações comerciais e financeiras inexistentes com a finalidade de desviar dinheiro de empresas que atuam na área de medicamentos para empresas de fachada.
Além da Global, o alvo é também o empresário Marco Antonio Carbonari, ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Xis Internet Fibra. Ele é investigado desde 2020 pela Operação Descarte, que apura a sonegação de impostos.
Segundo as investigações, a empresa dele, IMA do Brasil, superfaturava produtos para lavar dinheiro de caixa dois para o banco BMG, cujos executivos também foram investigados. Na ocasião, Carbonari teve os sigilos bancário e fiscal quebrados.
Também na quebra de sigilo bancário da Precisa, que foi entregue à CPI da Covid, a firma de Carbonari aparece como tendo recebido R$ 90 mil da empresa de medicamentos.
O intuito das operações fictícias era gerar dinheiro em espécie, utilizado como propina para agentes políticos como pagamento em troca de favorecimento na contratação das empresas por estatais. A participação dos executivos, funcionários e sócios das empresas envolvidas é investigada.
Os envolvidos poderão responder pelos crimes de associação criminosa, corrupção ativa e passiva, sonegação fiscal, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e operação de instituição financeira sem autorização.
O nome da operação faz referência à razão social de uma das empresas envolvidas, onde na sede é cumprido um mandado de busca e apreensão.
O outro lado
Em nota, os advogados de Maximiano e da Global Saúde, Ticiano Figueiredo e Pedro Ivo Velloso, informaram que "chega a ser surreal repetir a mesma busca e apreensão pela terceira vez em 13 dias, dessa vez para ir atrás de documentos sobre o que delatores disseram que teria acontecido sete anos atrás. Não há qualquer contemporaneidade ou qualquer elemento mínimo para justificar essa operação".
Os advogados concluem: "O que há, sim, é um oportunismo, graças ao retorno da pirotecnia em torno das operações policiais que, em tempos racionais, jamais seriam deferidas pelo Poder Judiciário, ante a manifesta ausência de fundamentação".