Piloto de aeronave que caiu em SP sonhava em ter escola de aviação
Amigos contam que o piloto e diretor de uma empresa de aviação Guilherme Murback praticava esportes, amava voar e pensava em ser pai
São Paulo|Fabíola Perez, do R7
Guilherme Murback, de 26 anos, dizia para os amigos que havia começado uma nova vida. Murba, como era conhecido pelos colegas da aviação, andava sorridente pelos corredores do Aeroclube de São Paulo, afinal, havia feito uma cirurgia para redução do estômago e se sentia melhor tanto na vida pessoal como na profissional.
O jovem piloto chegava cedo ao Aeroclube do Campo de Marte para cuidar dos negócios no escritório, tirar dúvidas de estudantes e pilotar em parceria com muitos deles. A paixão pelos voos particulares era tanta que Guilherme, morto no acidente que ocorreu na avenida Braz Leme, na sexta-feira (30), pensava em abrir uma escola para pilotos em alguns anos.
O sonho surgiu a partir do gosto por estar nos ares. Mais do que isso: Guilherme se sentia à vontade com os jovens que aprendiam a pilotar durante as aulas do Campo de Marte e gostava de cuidar da manutenção de aviões. “Ele chegou a convidar nossa professora de geografia da escola para lecionar nessa escola de aviação”, lembra Alyne Grimaldi dos Santos, 25 anos, amiga de escola.
“O acidente me pegou de surpresa”, diz ela. “Tive uma sensação estranha, mandei mensagem para ele perguntando se estava bem e ele demorou para responder. Ele sempre responde muito rápido. Depois disso, pesquisei na internet e fiquei sabendo”, diz. A colega de ensino médio afirma que os amigos de Guilherme estavam empenhados em marcar um encontro de final de ano. “Estávamos esperando todos saírem de férias para marcar, mas não deu tempo.”
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O amigo e estudante de aviação João Victor Oliveira Pires, 18 anos, costumava tomar café da manhã com Guilherme no aeroclube. “Ele fazia voos frequentes com meu pai. O avião do meu pai ficava perto do escritório dele”, afirma. Guilherme administrava, entre outras, a aeronaves do pai de João Victor. “Nos conhecemos em voos curtos, ele nos deixava em Ourinhos. Também já voamos para Angra dos Reis.”
A relação do jovem com Guilherme ultrapassou a parceira de trabalho e se tornou amizade. “Lembro dele sempre sorrindo. Ele me ajudava a fazer revisão nos aviões”, diz João Victor. Em uma das últimas conversas, o estudante de aviação se lembra que Guilherme chegou a dizer que não trabalhava por fama ou dinheiro. “Não quero ser piloto para ser rico, eu amo voar”, teria dito ele ao amigo.
Para colegas de trabalho, Guilherme era reconhecido pela maturidade profissional. “Ele era esforçado e respeitado, estava além dos seus 26 anos”, disse uma colega que preferiu não se identificar. “Ele nunca tirou nota abaixo da média. Normalmente, os instrutores têm receio de voar com alunos. Com o Guilherme, não tinha isso”, diz João Victor.
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Precavido, Guilherme chegou a suspender voos no aeroclube quando percebeu algum fator de risco. “Qualquer coisa aparentemente irrelevante o fazia parar e fazer a manutenção da aeronave”, diz o amigo. O desejo de Guilherme era continuar fazendo voos particulares. Segundo amigos, não tinha a ambição de migrar para voos comerciais.
Vida pessoal
Antes da aviação, Murba era o Gui. Conhecido por fazer piadas entre amigos, o jovem piloto gostava de praticar esportes. “Ele jogava tênis e fazia natação”, diz Alyne. Ele teria começado a se dedicar mais aos esportes após a cirurgia. “Emagrecer era um dos desafios que ele vinha enfrentando”, diz ela.
João Victor se lembra que Guilherme chegou a pagar mais caro pelas aulas de piloto antes de fazer a cirurgia para reduzir o estômago. “Ele chegou a pagar o dobro porque não cabia no avião. Agora, não tinha mais esse problema”, afirma João Victor. A amiga da escola, porém, ainda se lembra do apelido de adolescente “Chupisco”, como era chamado por estar sempre com “chupe-chupes” de doce de leite.
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Guilherme, segundo amigos próximos, estava no auge quando morreu. Não apenas da carreira, como também da vida: sentia-se realizado em praticamente todas as atividades. “O sonho da vida dele era ter uma filha, uma menina”, diz Alyne. Ainda não havia se casado. Por enquanto, dedicava-se a cuidar de um cachorro.
Mesmo para quem não era tão próximo e só o conhecia dos corredores do aeroclube, como o estudante de aviação Leonardo Paiva, 18 anos, era possível perceber a positividade de Guilherme. “Faço aulas no aeroclube e o conheci em junho desse ano”, diz. “Estava sempre sorridente. Dava para perceber que era apaixonado pelo que fazia.”