PM se ofende com trabalho escolar e ataca professor pela internet
Docente de escola estadual de Sorocaba teve seu nome divulgado na rede social da corporação
São Paulo|Do R7

A página oficial da PM (Polícia Militar) no Facebook atacou o professor de filosofia Valdir Voltapato, por causa de um trabalho escolar feito por duas alunas do ensino médio, da Escola Estadual Prof. Aggêo P. Do Amaral.
Na publicação, a corporação critica o banner feito pelas alunas, no qual constam informações sobre a violência policial e uma charge, na qual um soldado da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) é caracterizado em forma de caveira.
A imagem chegou até a PM após a publicação de um aluno viralizar nas redes sociais.
O trabalho escolar apresenta, de acordo com a Diretoria de Ensino de Sorocaba, informações pesquisadas pelas alunas na internet e em veículos de comunicação, que contextualizam o trabalho dado pelo professor, com base na obra "Vigiar e punir - O nascimento da prisão", de Michel Foucault.
O livro em questão é um estudo científico sobre a evolução histórica da legislação penal e os métodos adotados pelo poder público para reprimir a criminalidade, que vão desde a violência física até as prisões. A conclusão do trabalho foi que "os policiais acabam sendo considerados um grande problema na atualidade usando a força física para obter melhores resultados".
Na publicação, a PM expõe o nome do professor em letras garrafais e cobra explicações à Diretoria de Ensino de Sorocaba sobre a "veracidade do material" e sobre a "real qualidade" do professor. Parte da publicação diz: "Não queremos acreditar que, em pleno século XXI, profissionais da área de ensino posicionem-se de maneira discriminatória, propagando e incutindo o discurso de ódio em desfavor de profissionais da segurança...A Polícia Militar de São Paulo e seus policiais, retratados numa infeliz charge, sempre difundida por determinados e conhecidos grupos, sempre foi e será grande defensora dos Direitos Humanos e dos deveres morais, éticos e legais da sociedade".
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Em nota enviada ao R7, a Diretoria Regional de Ensino de Sorocaba afirma que o trabalho apresentado pelos alunos não reflete a opinião do professor ou da instituição de ensino e que "o projeto tem cunho pedagógico e estabelece a discussão sobre determinado tema, visando orientá-lo sem cercear o direito de livre expressão".

A atitude da PM de criticar e repudiar a atitude do professor soou como uma tentativa de censura para a Comissão de Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) Sorocaba.
De acordo com o presidente da ordem regional, Alexandre Ogusuku, a atitude a uma afronta à liberdade de ensino e comparou a tentativa de censura com a inquisição e o período da ditadura.
— Vamos marcar uma reunião com o comando da PM da cidade para entender os motivos que levaram a corporação a agir dessa maneira.
Em nota de repúdio, a comissão afirmou que "a interferência indevida da Polícia Militar constitui um flagrante ataque ao direito à educação livre...O conteúdo jurídico dessa liberdade de aprender engloba o direito do aluno de estudar sua realidade de forma aprofundada. É dever do docente incentivar esse estudo...Num estado democrático de direito é inadmissível qualquer tipo de censura, não é atribuição da Polícia Militar fazer patrulhamento do conteúdo e da metodologia do estudo acadêmico."
A Apoesp de Sorocaba (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) e a Aproffesp (Associação dos Professores de Filosofia e Filósofos do Estado de São Paulo) também manifestaram apoio ao professor.















