Prédios antigos têm risco maior de incêndios e requerem atenção, apontam especialistas
Edificações como a do centro de São Paulo foram construídas sob normas de décadas passadas, diz professor da Unicamp
São Paulo|Guilherme Padin, do R7
Incêndios como o registrado na noite de domingo (10) no centro de São Paulo, em um edifício que não possuía alvará do Corpo de Bombeiros, jogam luz sobre a necessidade de fiscalizar os imóveis e mantê-los regularizados e seguros.
Especialistas ouvidos pelo R7 afirmam que, por uma série de razões, prédios antigos, como os das imediações da rua 25 de Março, estão mais propensos a ser atingidos pelas chamas.
Essas edificações, como explica Alberto Luiz Francato, engenheiro civil e professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), foram projetadas e construídas sob normas técnicas de décadas passadas. “Na ocasião, não eram previstas determinadas condições de segurança que a tecnologia trouxe com o tempo”, diz.
Dessa forma, as instalações elétricas mais antigas não foram feitas com materiais de baixo potencial de combustibilidade, o que pode gerar sobrecarga em pontos de tomadas elétricas devido à ampliação da demanda por eletrointensivos (consumidores de energia em grande quantidade).
Francato explica que outro fator de influência se dá porque alguns edifícios da região central paulistana têm maior taxa de ocupação ou até, no caso de edifícios abandonados que foram ocupados, têm atividades com maior risco de provocar incêndios, como a preparação de alimentos em fogareiros e a improvisação de sistemas de aquecimento de água, entre outras.
De modo geral, o problema não está relacionado aos materiais de construção da estrutura do prédio, mas às instalações elétricas e à natureza do uso da edificação, explica Antonio Fernando Berto, engenheiro civil e gerente técnico do Laboratório de Segurança ao Fogo e a Explosões do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas).
O início de um foco de incêndio pode se dar, diz Berto, em instalações precárias, equipamentos esquecidos ligados, excesso de carga de combustível, uso de materiais de revestimento e até divisórias de madeira, que podem contribuir para o avanço das chamas.
Fiscalização é insuficiente, e atenção de todos deve ser redobrada
Uma unanimidade entre os engenheiros ouvidos pela reportagem é que, em uma cidade com o tamanho de São Paulo, a fiscalização não é suficiente, seja por não abranger todos os imóveis, seja por ser superficial.
“É difícil, em uma cidade como São Paulo, investigar todas as possibilidades”, diz Antonio Fernando Berto. Dessa maneira, na avaliação dos especialistas, os proprietários devem redobrar a atenção perante os problemas nos edifícios.
É deles a necessidade de manter a vistoria dos bombeiros em dia, afirma Berto: “A cada vencimento, eles têm que solicitar novas vistorias. Eles são ocasionalmente vistoriados, ou deveriam ser, para a renovação do documento”.
Com a quantidade de edifícios em grandes cidades e a impossibilidade de vistoriar todos eles, a população deve ser mais participativa, pondera Valdir Pignatta e Silva, professor-doutor da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo).
“Em outros países, a cultura de segurança contra incêndios é muito mais desenvolvida. Já nós ficamos nas mãos dos bombeiros, que nem sempre têm condições [de vistoriar todas as edificações]”, afirma Pignatta e Silva.
Entre as medidas importantes para minimizar situações como as registradas no centro de São Paulo, Alberto Francato cita campanhas de educação e conscientização do risco de incêndios, fiscalização efetiva e periódica das edificações por parte das autoridades e reforma dos prédios para que ofereçam as mesmas condições de segurança das novas edificações.
“É claro que os edifícios necessitam apresentar o AVCB (Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros), expedido pelo Corpo de Bombeiros, para ser ocupados, mas muitas edificações estão em situação irregular”, aponta Francato.
Se não é possível vistoriar os edifícios com a frequência desejada, Antonio Berto sugere sanções mais rigorosas no caso de irregularidades.
“Os bombeiros poderiam escolher, em um endereço como a 25 de Março, 10 ou 12 edifícios e atribuir responsabilidade e punições, para servir de exemplo. Se fizerem uma vistoria rigorosa, em vez de uma vistoria superficial, que é visual e por amostragem, como está na regulamentação, vão pegar uma série de irregularidades que poderiam ser denunciadas. É uma saída possível, mas isso não é feito”, diz ele.
Para reforçar a importância de a população procurar mais informações sobre os locais que frequenta, Pignatta e Silva oferece um exemplo:
“A pessoa, ao entrar num hotel, tem que olhar onde fica a saída de emergência. Imagine que começa um incêndio, você abre a porta do seu quarto e não sabe nem se correrá para a direita ou a esquerda. Bombeiros não têm como cuidar de tudo ao mesmo tempo, São Paulo é muito grande. Nós também devemos participar”.