Sambódromo de SP faz 30 anos e passa 1º carnaval sem desfiles
Por causa da pandemia, desfiles foram cancelados, ainda assim as escolas de samba mantêm produção nos barracões
São Paulo|Joyce Ribeiro, do R7
No mês em que o Sambódromo do Anhembi completou 30 anos, a passarela do samba de São Paulo está vazia. Por lá não passarão os carros alegóricos, as alas das baianas, as comissões de frente ou qualquer integrante das 34 escolas de samba, sendo 14 do grupo especial. Nesta sexta-feira (12) e sábado (13) estavam marcados os desfiles, que foram suspensos por causa da pandemia.
A Prefeitura de São Paulo cancelou até mesmo o ponto facultativo da terça-feira de Carnaval numa tentativa de barrar a propagação do novo coronavírus.
Os desfiles foram, inicialmente, remarcados para 9 e 10 de julho, mas nesta sexta-feira (12) a prefeitura anunciou o cancelamento da festa em 2021. "Estamos loucos para voltar. O carnaval está inserido na sociedade, mas temos que ter o aval das autoridades sanitárias. Há uma indefinição geral de quando estaremos vacinados para ter um desfile nos moldes de antes", explica Eduardo dos Santos, que é presidente da Acadêmicos do Tatuapé e responsável pela comunicação da Liga Independente das Escolas de Samba.
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Administrado pela SPTuris (São Paulo Turismo) e inaugurado em 1º de fevereiro de 1991, o nome oficial do sambódromo é Polo Cultural e Esportivo Grande Otelo, uma homenagem ao ator, comediante e sambista.
Em três décadas, a passarela do samba foi palco de centenas de eventos, festivais, shows nacionais e internacionais, desfiles e disputas de esportes variados, até Fórmula Indy 300, X-Games e Megarampa.
A Liga das Escolas lamenta que a festa não aconteceu como gostariam. "Teríamos feito alguma festividade porque o sambódromo é uma conquista das escolas. Um espaço para abrigar os desfiles, é a nossa catedral, nosso templo maior, mas não pôde acontecer, como tudo. A importância do sambódromo é inegável: foi responsável por acelerar demais o crescimento do nosso Carnaval", diz Eduardo dos Santos.
O presidente da SPTuris, Luiz Alvaro, reforça a importância do espaço: “O sambódromo, além de casa do Carnaval paulistano, é um marco arquitetônico e turístico, gerador de emprego e renda na cidade de São Paulo”.
Impacto financeiro
A suspensão dos desfiles causa impacto às escolas de samba, que estão fechadas desde o último evento. "Há um ano não temos qualquer atividade social, que é uma fonte de receita importante para as escolas. Não podemos contar com a bilheteria dos ensaios, as quadras estão fechadas para eventos, como as feijoadas, mas todo mês as contas chegam", lembra Eduardo.
Segundo ele, as escolas lutam, como outros setores da economia, para sobreviver em meio à crise e tentar manter os profissionais do Carnaval empregados, apesar das dificuldades financeiras.
"Estamos trabalhando e produzindo o desfile, mas num ritmo diferente, com menos pessoas. O que aconteceria neste fim de semana é o produto final de um processo que dura nove meses. Existe um impacto financeiro grande da não comemoração do Carnaval, porque existe uma arrecadação gigantesca não só com os desfiles, mas com os blocos, a movimentação na cidade. Para a Liga é como se não tivesse atividade por um ano, com contratos, patrocínios e outros", revela Santos.
Segundo a Prefeitura de São Paulo, não é possível afirmar qual a perda de arrecadação com a não realização do Carnaval de Rua, mas, em 2020, o evento atraiu um público de 15 milhões de pessoas e movimentou cerca de R$ 2,75 bilhões na economia da cidade.
Apenas o Carnaval no sambódromo movimentou outros R$ 227 milhões.
De acordo com pesquisa do Observatório do Turismo, do total de foliões, 26,4% eram turistas de outras regiões do estado, do Brasil e de outros países. No ano passado, o período de permanência dos turistas na capital foi de dois dias e o gasto médio de R$ 648. O impacto econômico do evento na cidade inclui gastos com transporte, alimentação, compras, hospedagem e lazer.
Projeto e estrutura
Construído no Complexo Anhembi (Pavilhão de Exposições e Palácio das Convenções), o sambódromo foi projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer e tornou-se um ícone da capital paulista. Entre as características da obra estão os refletores de iluminação curvados, distribuídos ao longo da pista, como se estivessem reverenciando a passarela.
Antes da inauguração, as escolas de samba desfilavam na avenida Tiradentes. Com capacidade inicial para 10 mil pessoas, o sambódromo recebe hoje mais de 30 mil pessoas. Apenas a arquibancada “Monumental”, no setor B, pode abrigar 7.748.
Em dias de apresentação das escolas de samba no Carnaval, o público total, incluindo arquibancadas, camarotes e desfilantes, pode superar 50 mil pessoas.
O Sambódromo do Anhembi possui área de 100 mil m², pista de 530 metros de extensão e 14 metros de largura. A área da concentração tem 23 mil m² e a dispersão, 14 mil m².
Desde novembro do ano passado, o espaço se tornou de lazer ao público, com 2 km de pista de bicicleta, área para corrida e caminhada, área pet, espaço de alimentação, aluguel de bicicleta, triciclo, patins e skate, e exposição sobre o Carnaval, entre outras atrações.
Segundo a prefeitura, a Arena de Lazer está aberta de segunda a sexta-feira, das 8h às 16h e segue os protocolos de prevenção à covid-19, como aferição de temperatura e uso obrigatório de máscara.
Atrações no mês de aniversário
A Liga SP criou uma programação especial para o mês de fevereiro pelos 30 anos do Sambódromo.
Na passarela, foi escrita a frase "Todos Pelas Vacinas". A intervenção pretende chamar atenção para a importância de se garantir acesso total à imunização.
No Espaço Cultural Carnaval, que fica no setor J, há uma exposição com diversos itens carnavalescos que mostram a cultura e a história da festividade em São Paulo.
Há uma exposição de troféus das campeãs de 1991 (Rosas de Ouro e Camisa Verde e Branco), ao lado do troféu da campeã de 2020 (Águia de Ouro), uma redoma de acrílico do disco de vinil de 1991 e de um quadro com o CD de 2020, a bandeira da liga organizadora e imagens na TV dos primeiros desfiles de escolas de samba realizados em 1991.
A exposição “Samba no pé” conta a história de passistas com sapatos, sandálias e fantasias usados nos desfiles ao longo de três décadas e ainda uma mostra de peças de luxo de destaques de escolas de samba, com apoio da ADESP (Associação de Destaques de São Paulo).
É possível se inscrever para ter aulas gratuitas de samba no pé, que serão realizadas no dia 27. Já no dia 14, haverá uma apresentação e aula de samba com Camila Silva e, no dia 20, dez percussionistas vão tocar músicas latinas, MPB e samba.
De acordo com Lucia Helena Silva, que é curadora do Espaço Cultural Carnaval, todas as atrações são gratuitas. "As pessoas podem ir e se integrar. Elas deixam as bicicletas, skate e fazem a aula, com alongamento e passos básicos. Vamos também distribuir CDs e brindes de outros carnavais. Artistas podem se apresentar no palco. Eles não são remunerados, mas divulgam o trabalho", enfatiza.
A Arena de Lazer do Sambódromo Anhembi e o Espaço Cultural Carnaval estão localizados na rua Professor Milton Rodrigues, portão 30. Na visita, é obrigatório o uso de máscaras e distanciamento social, seguindo os protocolos contra a covid-19.