Guarujá: cidade tida como 'Pérola do Atlântico' vê violência crescer e risco para o turismo
Município, que perdeu espaço no turismo de luxo em SP para o litoral norte, convive com o crescimento de roubos
São Paulo|Isabelle Amaral, do R7
Arrastões, invasões, assaltos e latrocínios: antes do fogo cruzado entre a polícia e suspeitos nos últimos dias em Guarujá, a cidade do litoral de São Paulo já vivia uma onda de violência. Moradores e comerciantes entrevistados pelo R7 contam que há alguns anos sofrem com a sensação de insegurança e os impactos causados pela criminalidade.
O cenário é diferente do vivenciado pela cidade nos anos 1960 e 1970, quando passou a ser divulgada internacionalmente como "Pérola do Atlântico". Com cerca de 30 praias, como Enseada e Pitangueiras, o município que durante décadas foi o principal destino do turismo de luxo no litoral paulista hoje enfrenta a concorrência das cidades do litoral norte.
A criminalidade em Guarujá impacta esse processo. No primeiro semestre de 2022, as delegacias da cidade registraram 3.285 roubos e furtos, de acordo com dados da SSPSP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo). No mesmo período deste ano, o número de ocorrências desses crimes foi de 4.103, um aumento de quase 25%.
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Comerciantes contam que é possível observar o impacto da violência com a mudança do volume de turistas nas praias do município. Paulo José Fernandes tem uma bonbonnière na praia do Perequê e afirma que "de dez anos para cá, o número de clientes diminuiu em pelo menos 50% nas altas temporadas".
Adolfo Rogério, dono de um quiosque na praia das Astúrias, uma das mais procuradas por turistas, diz que já viu de perto a ocorrência de arrastões na região. "É até compreensível que os visitantes não queiram voltar", afirma.
O servidor público Alan Medeiros, morador de Guarujá desde que nasceu, deseja vender a sua residência, no bairro Cachoeira, justamente por causa da insegurança.
"A violência acontece na cidade há muitos anos, e quando os visitantes ficam sabendo acabam optando por outros destinos. Mas desta vez foi diferente, não foi um caso isolado. Acredito que vai impactar muito", comenta Medeiros sobre a operação policial que ocorre desde a última quinta-feira (27), após a morte de um policial da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar).
Em uma semana, 16 pessoas morreram na Baixada Santista e dois policiais foram atacados e ficaram feridos durante patrulhamento. Oitenta e quatro pessoas foram presas.
Para o comerciante Edson Silva, a onda de violência que ocorre desde a semana passada deve dificultar ainda mais a vida dos moradores e comerciantes. Há 40 anos ele mora na cidade e é dono uma loja de elétrica. "O desemprego já é grande, e agora tende a piorar."
Baixada Santista dominada pelo PCC
Para especialistas em segurança pública, não só o Guarujá, mas toda a Baixada Santista, é região estratégica para a atuação do PCC (Primeiro Comando da Capital). O porto de Santos é utilizado pela facção como principal meio de escoação de cocaína para países do sul da Europa e da África.
Para concluir essa operação e exportar as drogas, a organização criminosa domina a região desde os anos 2000, principalmente os morros.
Uma moradora, que preferiu não ser identificada, afirma que sempre houve "pequenos confrontos" no litoral em razão da atuação do PCC; porém, "o problema real estourou agora", comenta.
Para ela, tanto a facção quanto a polícia estão instalando terror e pânico nas cidades litorâneas. "A gente tem medo de sair na rua. Não deixei nem o meu filho sair para as aulas de surfe."
Crimes
Alertas nas redes sociais revelam que os arrastões no município têm sido constantes, principalmente os das "gangues da bicicleta", que atuam nas praias.
Comércios têm sido invadidos e vêm sendo alvo até mesmo de tentativas de latrocínio (roubo seguido de morte), como ocorreu com o influenciador Gustavo Henrique, mais conhecido como Menó Kabrinha. Ele foi abordado por dois suspeitos em uma moto enquanto dirigia. Os assaltantes atiraram contra a cabeça do jovem.
Os casos de violência ganharam repercussão. E a Prefeitura de Guarujá pediu apoio da PM, especialmente de equipes da Rota, que estavam fazendo intenso patrulhamento no município.
A SSPSP afirmou que as polícias do estado têm atuado "em absoluta observância à legislação vigente" e que o estado de São Paulo "não terá nenhuma região dominada pela criminalidade".
Prefeitura contesta impacto no turismo
Em nota ao R7, a Prefeitura de Guarujá disse que se solidariza com as famílias das vítimas que perderam a vida. A gestão também reforçou que a crise de segurança pública não é exclusiva da região, mas de toda a Baixada Santista e de outras cidades do estado.
"O município faz a sua parte e é um dos que mais investem recursos próprios em apoio às forças policiais do estado, com cerca de R$ 4,4 milhões por ano. A prefeitura também tem feito recorrentes pedidos de reforço no efetivo policial local, o que é uma demanda regional", declarou.
A gestão municipal ainda contesta as informações sobre a diminuição de turistas. De acordo com o órgão, nas temporadas de verão e feriados, a rede hoteleira bate recordes de turistas hospedados, com índices superiores a 70%.
Destino turístico, Guarujá ficou famoso por suas belas praias; veja
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