Situação crítica em Sapopemba (SP) encoraja ações de moradores
Entre piores índices de covid-19, bairro paulistano se une para enfrentar pandemia e ajuda seus profissionais de saúde e populações necessitadas
São Paulo|Guilherme Padin, do R7
Os bairros periféricos da cidade de São Paulo são os mais atingidos pela pandemia do novo coronavírus. Em Sapopemba, onde a situação atinge níveis críticos, grupos de moradores e associações se uniram para tentar barrar a expansão da covid-19.
Uma destas ações foi, como forma de gratidão, a doação de marmitas aos profissionais de saúde de toda a região. A entrega acontecerá pela quarta vez na próxima sexta-feira (15).
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“Sabemos que eles recebem salário e parte já é pra alimentação. Mas nosso objetivo nesta ação é simbólico, uma forma de agradecimento do nosso bairro pelo trabalho deles”, afirma Cassiano Ferreira da Silva, líder comunitário e responsável pelo Projeto Fazenda da Juta, há quatro anos no local.
Com apoio de moradores e empresas da região, a associação tem atuado em outras frentes: a produção de lives com artistas locais para arrecadar alimentos e cestas básicas, a doação de mais de 300 cestas básicas à população e até sacos de ração para os animais da região.
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A Associação de Moradores e Comerciantes do Teotônio Vilela também se mobiliza pelo bairro. Até o momento, entregaram kits de cestas básicas e produtos de higiene para 500 famílias, segundo Luiz Teotônio, um dos responsáveis pela associação. “Mas ainda tem mais famílias precisando”, lembra Luiz.
Em uma parceria com o Centro Paula Souza, a SDE (Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado), e o Instituto BEI, o Projeto Fazendo da Juta colaborou, ainda, com a captação de 60 costureiras, antes desempregadas, para a produção de máscaras de proteção que serão doadas na região.
Por um mês, no trabalho também coordenado pelo Fazenda da Juta, cada profissional produzirá cerca de 2.000 máscaras. O primeiro lote dessas máscaras será recebido no próximo sábado (16).
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Ao todo, este projeto, que se estende a outros distritos da capital, pretende produzir 1 milhão de máscaras e remunerar 740 profissionais.
Mesmo com situação difícil, aglomerações seguem comuns
Sapopemba está entre os distritos com mais vítimas pela pandemia do novo coronavírus. Até a última atualização quinzenal da Prefeitura de São Paulo, em 21 de abril, eram 64 óbitos por covid-19, atrás apenas de Brasilândia (67). Ao todo, 126 casos confirmados da doença.
Para além disso, segundo o último Mapa da Desigualdade, a região é uma das que possui menos leitos hospitalares. São 0,84 leitos para cada mil habitantes — a média da cidade é aproximadamente quatro vezes maior: 3,4.
Entretanto, o estado crítico não impediu as aglomerações, ainda comuns na região, como em feiras livres, bailes funk e praças. “Aqui a rotina é normal, como se nada estivesse acontecendo. Tentamos de tudo”, lamenta Cassiano.
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E é neste contexto que Luiz Teotônio, junto de sua associação e de outros moradores, tem trabalhado para conscientizar os moradores locais e conter todos os tipos de aglomerações que ali acontecem.
“Em Sapopemba estamos vivendo o caos, mais pessoas estão ficando doentes e os hospitais estão praticamente sem leitos. Por isso precisamos conscientizar a população que, nesse momento, qualquer atividade que cause aglomeração deve ser evitada“, afirma Luiz.
As ações vão das conversas com os moradores sobre a importância do isolamento social, bloqueio de algumas vias e distribuição de máscaras até a utilização de carros de som para alertas onde há maior número de pessoas, mesmo que contra a vontade dos grupos.
A respeito dos bailes funk, muito comuns na região e alvo de recentes críticas pelo contexto da pandemia, Luiz faz uma ressalva: “devemos tomar esse cuidado ao falar do gênero musical, porque estamos falando de movimentos que historicamente são vítimas de preconceito e violência policial“.
Para o líder comunitário, ainda não existe na periferia uma "conscientização uniforme" que concentre todos os moradores. “Porém, é importante salientar que não há isolamento social sem política pública de inclusão, de acesso aos benefícios sociais sem burocracia e que tragam de forma rápida comida na mesa dos trabalhadores e trabalhadoras”, afirma.