A Prefeitura de São Paulo, sob a gestão do PSDB, não implantou nenhum quilômetro de ciclovia tampouco ciclorrota durante quase dois anos. Mobilidade urbana, no entanto, é tema de promessa da administração municipal, que prevê criar 173 km de vias de conexões até 2020. Entidade fala em "abandono da política cicloviária". A gestão tucana frente à administração da maior cidade do país foi iniciada em 2017 por João Doria, hoje governador do Estado, e assumida em 2018 até o momento por Bruno Covas.Leia mais: Lista para reduzir ciclovias em SP gera críticas de adeptos de bicicletas De acordo com dados obtidos via Lei de Acesso à Informação, nenhum quilômetro de ciclovia nem ciclorrota foi criado durante um ano e oito meses, período da administração do PSDB. O relatório aponta apenas a criação de um trecho de 900 metros de ciclofaixa – localizada na Marquês de São Vicente, na zona oeste da capital paulista. Assim que Doria assumiu o comando, a administração registrava 130,2 km de ciclovia e 30,3 km de ciclorrota – os dados permanecem intactos até agosto deste ano. A última implantação desses dois modais foi feita pela gestão Fernando Haddad (PT). Enquanto prefeito de São Paulo, o petista inaugurou 73,8 km de ciclovia, 328,3 km de ciclofaixa e 6,8 km de ciclorrota – mobilidade urbana foi, inclusive, a marca deixada pelo petista. As críticas, à época, foram valor investido, rapidez da implantação, falta de planejamento, entre outras.Veja também: Com mais segurança, 1 em cada 3 paulistanos trocaria carro por bike “O Haddad fez bastante, mas não fez o pavimento antes de fazer a pintura, por exemplo”, critica o ciclista Wagner Luiz Furlaneto. “Com a gestão do PSDB, eu vejo que a mobilidade não é uma prioridade. Eu ando muito pela cidade, e não vejo muita coisa. E quando faz, se faz em bairros melhores, ou seja, tem diferenciação da estrutura da mobilidade de acordo com a condição econômica dos moradores”, avalia. Atualmente, a cidade de São Paulo conta com 503,6 km de infraestrutura cicloviária. Destes, 130,2 km de ciclovia, 343,1 km de ciclofaixa e 30,3 de ciclorrota. Na visão de Yuri Vasquez, historiador e diretor da Ciclocidade (Associação de Ciclistas Urbanas de São Paulo), a atual gestão “não tem colaborado” com o Plano de Mobilidade Urbana de 2015, que prevê São Paulo com mais de 1.500 km de ciclovias até 2030. “Depois que Covas assumiu a prefeitura, a situação se agravou ainda mais com a demora injustificável na divulgação do plano para a sociedade”.Confira: Abaixo-assinado pede volta das ciclofaixas de lazer em São Paulo Vasquez argumenta que a consequência de nenhum quilômetro criado pela gestão do PSDB é “uma cidade com menos acesso e que viu aumentar nos últimos 10 meses em 80% o número de ciclistas mortos comparado com o mesmo período do ano passado”, segundo dados do Infosef. “Há um abandono da política cicloviária em São Paulo”, afirma. O historiador acredita que o trecho de 900 metros criado pela atual administração “não está nem perto de resolver o problema de quem usa a bicicleta como meio de transporte”. “Em avenidas como a Conselheiro Carrão e Aricanduva, na zona leste, e avenida Noé de Azevedo, na zona sul, que contam com projeto de estrutura cicloviária, mas que não saem do papel, continuam protagonizando os números de ciclistas mortos e feridos”, conta.Mais: 'No meu bairro, batizei de ciclodog', diz vereador de SP sobre cicloviasPlano de Metas O Plano de Metas é um plano previsto pela Constituição, em que os governantes se comprometem a cumprir determinadas metas por um período. No caso de São Paulo, Doria moldou um projeto, que foi revisto por Covas quando assumiu a administração municipal. No último Plano de Metas da capital paulista, que dita as metas para o biênio 2019 e 2020, Covas escreveu, no objetivo de número 12, a implantação de 173,35 km de novas vias (ciclovias e ciclofaixas) e de requalificar 310,3 km de infraestrutura cicloviária existente na cidade. Segundo o texto, a qualificação e construção de trechos viários representam “parte fundamental da estratégia de estímulo da adesão da população a modais ativos de transporte”.Teste: Você sabe a diferença entre ciclofaixas, ciclovias e ciclorrotas? Vasquez defende que a gestão Doria/Covas “não avançou em nem um quesito que melhore a mobilidade na cidade”, além de o fato de ter pouco tempo para avançar nas metas expostas no Programa Municipal. “Cabe lembrar que 2020 é ano de eleição e nenhuma ciclovia poderá ser inaugurada depois de abril”, diz.Defesa Em nota, a Prefeitura de São Paulo não justificou o motivo de não ter criado nenhum km de ciclovia nem ciclorrota, mas informou que durante esse período o órgão “estruturou e melhorou” o modal viário. “O Programa de Metas prevê a requalificação de 310 quilômetros. Atualmente, 54,6 km de ciclofaixas passam por obras, sendo que 17,8 km já foram concluídos e entregues”, diz. “A requalificação inclui obras nas guias e sarjetas, de acordo com a necessidade”, exemplifica.Confira: Ativistas criticam Prefeitura de SP por falhas em obras nas ciclovias O órgão acrescenta que obras também contemplam “a raspagem do pavimento antigo e aplicação de nova camada asfáltica”. “Após a ‘cura’ do asfalto, é realizado o serviço de sinalização. A CET está implantando a linha de bordo, de forma emergencial para segregar o espaço entre carros e bicicletas demarcando o espaço destinado aos ciclistas”, finalizou.