SP: confiança e retomada marcam rotina pós-vacinação em Serrana
Sem tensão em relação à pandemia, moradores percebem melhora no movimento do comércio, mas aglomerações ainda preocupam
São Paulo|Guilherme Padin, do R7
A cidade de Serrana (SP) tem vivido semanas de tranquilidade desde o término da vacinação em massa contra a covid-19, em ação do Projeto S, do Instituto Butantan, contam moradores e comerciantes locais ao R7. Segundo os relatos, sem a tensão vivida em pouco mais de um ano de pandemia, o movimento do comércio também melhorou.
“As pessoas demonstram mais confiança depois da vacina. Sobretudo depois do anúncio dos resultados do estudo do Butantan, por terem sido positivos, passaram a acreditar mais na vacinação. Agora, consequentemente, estão bem mais tranquilas”, relatou à reportagem Carlos Pires, morador da cidade que chegou a ficar 20 dias internado por covid-19 e foi intubado duas vezes nesse período: “os piores dias da minha vida, com certeza”.
Outro fenômeno observado por Pires e outros moradores que falaram com a reportagem é que, de modo geral, as pessoas que tinham desconfiança sobre o imunizante agora têm um interesse maior na vacina. “Assim, a população está segura e muito mais alegre”, comenta.
Dois empresários que atuam e vivem na cidade disseram que nas últimas semanas o movimento melhorou significativamente. Thiago de Mattos possui comércios em duas áreas – medicina veterinária e aluguel de quadra de esportes – e comenta que as duas atividades tiveram reações opostas durante a pandemia.
“Na clínica não sentimos mudança. Depois dos primeiros 15 dias, normalizou rápido. Mas com as quadras de esporte foi um desastre: dez meses fechados. Foi difícil porque o IPTU é muito alto e o retorno da prefeitura foi quase zero. Agora estamos voltando aos poucos, limitando horários”, comenta ele, que também observou a melhora no comércio da cidade depois da vacinação.
No entanto, ele ressalta que ainda há uma dificuldade, pois muitos dos trabalhadores de Serrana moram em Ribeirão Preto, que na cidade estão sem trabalho e, em grande parte, ainda não foram vacinados.
Rodrigo Monteiro aponta que a economia na cidade conseguiu ser retomada após a imunização em massa. “Como trabalho com construção civil (serviço essencial na pandemia), o nosso comércio não sentiu, não demiti ninguém. Mas amigos de outros ramos têm me contado que o movimento melhorou muito nos últimos dois meses”, diz Rodrigo.
O comerciante aponta que, mesmo em seu comércio, que não sofreu impactos, houve melhora no movimento após a vacinação e, “agora, todos se sentem mais aliviados e seguros para trabalhar”.
Aglomerações continuam frequentes
Segundo os moradores, as aglomerações na cidade, que já eram comuns antes da campanha de imunização começar, continuaram frequentes durante e após a vacinação.
“As pessoas em Serrana já têm essa cultura de não respeitar muitas regras. E não tem sido diferente nem antes da vacinação nem agora. Desde o início da pandemia, as pessoas não abriram mão das festas, dos churrascos de final de semana, aglomeração, bailes funks. Isso sempre aconteceu e a pandemia não mudou nada”, relata Carlos Pires.
Ele relata que ao menos o uso de máscaras se tornou mais frequente após a vacinação, “talvez porque a campanha trouxe essa consciência, mas infelizmente as aglomerações continuam. É difícil mudar a cabeça dessas pessoas”.
Veja também: Pandemia é controlada com 75% da população vacinada, aponta Butantan
Rodrigo notou que o uso das máscaras se tornou mais comum dentro do comércio, “mas na rua, não”. Ele também percebe que aglomerações continuam ocorrendo com muita frequência: “tem demais, mas faz um bom tempo. Deu aquela relaxada, porque as pessoas acham que tomaram a vacina e vão ficar imunes na hora. A molecada está se sentindo livre mesmo”.
Apesar da frequência, eles ressaltam que as pessoas que se aglomeravam em festas ou outros eventos são as mesmas de antes da vacinação, e que boa parte da cidade continua se protegendo.
Responsáveis pela saúde em Serrana e pelo projeto comemoram
No último dia 31 de maio, o Instituto Butantan e o governo de São Paulo divulgaram dados positivos em relação ao Projeto S: além da queda no número de casos e testes, conforme antecipado pelo R7, as mortes caíram 95%, os casos sintomáticos, 80% e as internações hospitalares, 86%. Além disso, os pesquisadores chegaram à conclusão de que a pandemia pode ser controlada com 75% da população vacinada.
Os resultados animaram os responsáveis pelo estudo e pela saúde no município de pouco mais de 45 mil habitantes. Pedro Garibaldi, um dos coordenadores do projeto, viu com bons olhos os resultados da vacinação.
“Estávamos receosos logo após a vacinação, porque é um período curto pra avaliar. Agora, mais de seis semanas depois, atingimos a imunidade para pessoas vacinadas e mesmo para as não vacinadas”, comemora Garibaldi, ressaltando que a preocupação era garantir a segurança do máximo de pessoas possíveis.
A secretária de Saúde e vice-prefeita de Serrana, Leila Gusmão, ressaltou que a percepção entre os funcionários da linha de frente contra a covid-19, sobretudo da UPA (Unidade de Pronto Atendimento), foi a queda dos números de positivados e até na quantidade de testagem dos munícipes.
“Foi bem além do que esperávamos, uma ótima surpresa para a cidade, comenta.
Gusmão comenta que, assim como as cidades vizinhas, Serrana sofreu o forte impacto do auge da pandemia nos primeiros meses de 2021. Após a vacinação em massa, celebra, “a nossa realidade é outra”.
A vice-prefeita lamenta que, após a imunização, a preocupação da população tenha diminuído: “Acaba-se perdendo um pouco dos cuidados com a pandemia, mas estamos trabalhando nas redes sociais e com panfletos nas unidades de saúde para orientar as pessoas que a pandemia não acabou”.
Da vacinação em diante, os trabalhos continuam no enfrentamento à pandemia no município. Por parte do Butantan, o monitoramento de casos e internações prossegue, bem como a avaliação dos resultados do Projeto S, com divulgações trimestrais dos dados, afirma Garibaldi.
Já pela prefeitura, além do atendimento aos novos pacientes e casos de internações, Leila Gusmão comenta que o trabalho de conscientização sobre os cuidados com a covid-19 seguirá por meio das redes sociais e panfletagem.