"Tiro o atingiu pelas costas", diz primo de cozinheiro baleado em SP
Internado, Claudemir da Silva está assustado e teme sofrer represálias. "Os policiais chegaram atirando e ninguém estava armado", diz primo
São Paulo|Fabíola Perez, do R7
Após o afastamentos dos policiais militares envolvidos no caso do cozinheiro Claudemir Cipriano da Silva, de 32 anos, atingido por uma bala na noite do domingo (26), no bairro de São Mateus, na zona leste de São Paulo, o primo de Claudemir, que prefere não se identificar por medo de represálias, afirma que o cozinheiro foi atingido enquanto estava de costas em frente ao bar Cinco de Julho, onde comemoravam o aniversário do time de futebol do bairro.
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Desde o início da semana, Claudemir está internado no hospital Santa Marcelina, no bairro de Itaquera, também na zona leste da cidade. "Ele estava de costas quando a viatura chegou com os faróis apagados. Meus primos estavam com ele e falaram para irmos embora", diz ele. O familiar do cozinheiro conta que a polícia havia retirado o som do local, multado alguns carros e atirado para o alto.
"Não chegamos a fazer boletim de ocorrência no dia porque não tinhamos prova. Pensamos que era um tiro de borracha", diz ele. O disparo atingiu Claudemir em um dos braços e depois a bala se alojou a três centímetros do coração. "Descemos para casa e ele começou a se sentir fraco", afirma. "Ele começou a ficar cansado, mas conseguiu chegar até a casa."
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O primo afirma ainda que somente depois do exame de raio X os familiares souberam que se tratava de um projétil. "Ele estava pálido, mas não sentia muita dor. Meu primo levou ele para o hospital e o médico disse que ele nasceu de novo porque estava com uma bala alojada a três centímetros do coração", disse.
Segundo o primo de Claudemir, somente depois disso, ambos souberam da existência de um vídeo que registrava a ação de policiais militares a uma distância de 30 metros da fachada do bar, onde ele e os primos estavam. "O vídeo mostra um disparo, mas ele chegam a dar cinco ou seis. Ouvimos os tiros."
O primo de Claudemir afirmou que somente na terça-feira (28) a família teve coragem para registrar o boletim de ocorrência. "Ele está bem assustado com medo de ameaças", afirma. "Mas, policial não pode ficar impune. Mas todas as provas que reunimos já estão com o delegado."
Ele conta que após assistirem ao vídeo em que um policial afirma "vou ser preso mesmo (...) por mim tanto faz" parte da família de Claudemir também sentiu receio de registrar o caso temendo represálias. O primo de Claudemir afirma ainda que a pessoa que fez o registro foi agredida pelo policial, que teria dito: "daqui uma semana vou ser preso, por mim tanto faz."
Segundo o primo, Claudemir passa bem no hospital e, a partir desta terça-feira, poderá receber visitas. De acordo com informações de familiares, ele não terá de passar por cirurgia.
O caso
Claudemir Cipriano da Silva, de 32 anos, foi baleado supostamente por um policial militar, na noite do domingo (26), no Jardim Cinco de Julho, em São Mateus, zona leste de São Paulo. Familiares da vítima afirmam que o tiro partiu de um policial militar.
Moradores do bairro comemoravam o aniversário de time local em uma confraternização com música. Nesse momento, uma viatura da Polícia estacionou perto do local e exigiu que o som fosse desligado. Após uma suposta discussão entre moradores e policiais, o PM disparou.
No vídeo gravado pelos moradores, não é possível identificar a vítima, mas a família de Claudemir afirma que o cozinheiro foi atingido por um tiro que partiu da arma do policial. Ele foi encaminhado ao Hospital Santa Marcelina, na zona leste, e exames constataram que a bala está alojada a 30 milímetros do coração.
Segundo um familiar da vítima, o quadro médico de Claudemir evoluiu e ele não se encontra mais em estado gravíssimo. Novos exames serão feitos na manhã desta terça-feira (28) para que a equipe médica se certifique de que não há riscos na realização de uma cirurgia para retirada do projétil.