Trem leva do centro ao aeroporto de Guarulhos, mas ainda mostra falhas
Reportagem do R7 presenciou sujeira, escada rolante parada e interrupções inesperadas no percurso, que dura 1h30 a partir do centro
São Paulo|Plínio Aguiar, do R7
Aos 78 anos, dona Nair de Andrade levantou cedo nesta terça-feira (5). Só pensava na viagem internacional que planejou por muito tempo com a filha para o Chile.
Não esperava, porém, enfrentar tantos percalços para chegar ao Aeroporto de Guarulhos sobre trilhos.
Por volta de 7h15, dona Nair embarcou na estação Brás, na região central de São Paulo. Levou exatos 53 minutos até a estação aeroporto-Guarulhos.
O trajeto não foi fácil: além dos 14ºC no termômetro, o trem estava lotado. Ao descer na estação Aeroporto-Guarulhos, ainda encontrou longas filas no elevador. Por isso, optou pela escada rolante, que também não estava operando. "Eu já tenho idade avançada, então é muito ruim descer a pé”, lamentou.
Ao sair da estação de trem, a aposentada esperou 17 minutos até que o ônibus, disponibilizado gratuitamente pela concessionária que administra o aeroporto, chegasse. Até o terminal 3, de onde partiria rumo ao Chile, mais 13 minutos — desta vez, sentada e com relativo conforto. Do Brás até o local do embarque, dona Nair levou exatos 1h23. "Tudo bem que demorou! Vou para o Chile com a minha filha", sorriu.
A reportagem do R7 fez o mesmo percurso e acompanhou de perto a saga de dona Nair. Desde o início deste mês, a linha 13-Jade da CPTM leva o passageiro do Brás ao aeroporto internacional de Guarulhos (SP), das 4h à 0h, com paradas nas estações, ao custo unitário de R$ 4,00.
Antes disso, funcionava apenas das 10h às 15h, em operação assistida, desde que foi inaugurada, no dia 31 de março pelo então governador Geraldo Alckmin (PSDB), 14 anos depois de prometida.
A linha tem três estações: Engenheiro Goulart, Cecap e Aeroporto-Guarulhos. O trajeto entre elas é feito em 15 minutos.
A reportagem do R7 presenciou, ao longo do caminho, uma parada do trem sem motivo, luzes que se apagaram por alguns segundos, falha das escadas rolantes e sujeira no chão da estação final. Sacolas plásticas e outros objetos "forravam" os trilhos em pelo menos três estações, e cartazes de divulgação estavam descolados na estação Brás.
O técnico da informação Thiago da Silva, de 34 anos, no entanto, não observou as falhas. Isso porque ele apenas usa o ônibus disponibilizado fora da estação para transportar os usuários aos terminais 1, 2 e 3 do principal aeroporto do País. “Não compensa vir de trem para mim. O ônibus é muito mais rápido”, diz. Thiago utiliza a linha 802 (Terminal Taboão da Serra – Tucuruvi). “Eu atravesso a ponte, pego o ônibus aqui e desço no (terminal) dois”, relata.
Apesar de não utilizar trilhos, Silva reconhece que a chegada do trem facilita a vida de pessoas que trabalham no Aeroporto de Guarulhos. “Acredito que irá diminuir o tempo de percurso para muita gente agora”, diz.
O psicólogo Mauro Brito, de 52 anos, também está esperançoso. Morador da Vila Mariana, na zona sul da capital paulista, decidiu utilizar o trem nesta terça porque é seu rodízio — as placas com final 3 e 4 são proibidas de trafegar na cidade. O destino? Fortaleza, capital do Estado do Ceará, para participar de um evento profissional. “Eu cogitei pedir um carro pelo app, mas estava caro, daí decidir usar o trem”, conta.
“Só que a gente não pode esquecer que o serviço não está totalmente pronto”, alerta. O psicólogo refere-se ao serviço Connect, um trem direto da estação Luz ao Aeroporto-Guarulhos em 35 minutos sem baldeações, que foi adiado por um mês pela CPTM.
O governo justificou que o atraso se deve à “problemas nas entregas de materiais”. “É complicado porque lançou as pressas, só porque é ano eleitoral”, diz o psicólogo.
Outro lado
Por meio de nota, a CPTM disse que não registrou falha operacional e justificou o problema como uma "oscilação de energia momentânea na composição em que o repórter estava".
Em relação ao piso da plataforma, trata-se sobre diferença de coloração na pedra de granito antiderrapante. "A companhia realiza limpeza noturna diária", diz o texto. "Entretanto, muitas vezes o vento gerado pelo deslocamento dos trens arrastam sacolas plásticas para dentro da via", argumenta. "Muitas vezes, essas sacolas plásticas são descartadas pelo próprios usuários, nas plataformas das estações".
A companhia finaliza informando que os mapas da rede metropolitana nos trens e estações estão gradativamente sendo substituídos por novos, com a Linha 13-Jade.