Um ano após repercussão do caso, Margarida Bonetti continua reclusa na 'mansão abandonada'
Vizinhos afirmam que a idosa, apesar do jeito de viver excêntrico, segue a rotina, mas com maior reclusão
São Paulo|Julia Girão, do R7*
Margarida Bonetti, que ficou conhecida como "a mulher da mansão abandonada" após sua história ter viralizado na metade de 2022, continua reclusa e sem aceitar visitas em sua casa, localizada na rua Piauí, em Higienópolis, bairro nobre de São Paulo.
Segundo Helena Monaco, advogada responsável pela defesa da idosa na época da repercussão do caso, "a mulher da mansão abandonada" não mantém contato nem mesmo com ela.
"Teve toda aquela confusão, mas eu não tinha ideia da dimensão do caso, parecia ser uma coisa simples. Depois que tudo abafou, a Margarida não entrou mais em contato comigo", afirmou a advogada ao R7.
• Compartilhe esta notícia no WhatsApp
• Compartilhe esta notícia no Telegram
Relembre o caso
Margarida Bonetti, de 68 anos, ganhou fama nacional após um podcast produzido pelo jornal Folha de S.Paulo revelar que ela era investigada nos Estados Unidos, pelo FBI, por manter no país uma empregada em condições análogas às da escravidão.
O caso aconteceu no fim dos anos 1970. E, antes mesmo de ser julgada, Margarida voltou ao Brasil e passou a morar na famosa mansão da capital paulista.
No dia em que um mandado de busca e apreensão foi cumprido pela Polícia Civil, em julho de 2022, policiais, curiosos e veículos de comunicação se reuniram em frente à casa de Margarida para acompanhar a operação, o que causou uma enorme movimentação no local.
Helena, que é vizinha e síndica há anos do edifício localizado ao lado da mansão, viu a movimentação na rua, que costuma ser calma, e desceu para ajudá-la.
A advogada conta que continua recebendo as atualizações dos inquéritos policiais, mas, como Margarida e a família não entraram mais em contato, não se considera mais a representante legal da idosa. “Ela [Margarida] deveria ter ido até a delegacia, mas não quis ir [...]. Está tudo meio parado, os processos estão meio esquecidos”, diz.
A vida de Margarida um ano depois
A mansão da rua Piauí continua em más condições e sem grandes alterações visuais desde 2022. Três casinhas de cachorro permanecem na varanda da casa, e, de acordo com porteiros e pessoas que frequentam a rua, a vida de Margarida Bonetti continua praticamente a mesma. Ela só está mais reclusa do que antes, pois agora sua fama se estendeu além do bairro.
De acordo com Francisco de Assis Paiva, zelador e porteiro do prédio ao lado da mansão abandonada, pedestres que passam pela rua continuam curiosos em relação à casa, mas o interesse pela história diminuiu bastante.
“As pessoas a fantasiam, mas a Margarida é normal e inteligente. Ela é muito esperta. Tem televisão e celular. É antenada e conversa sobre tudo”, afirma. Entretanto, à reportagem do R7, o zelador não deixou de condená-la pela denúncia sobre trabalho análogo ao da escravidão nos EUA.
Segundo relatos de vizinhos, Francisco é a pessoa que mais tem contato com Margarida. Ele faz pequenos favores e conversa com a idosa, graças à proximidade dos terrenos. Além do zelador, uma das suas irmãs vai periodicamente levar mantimentos a Margarida.
Para Francisco César, porteiro do prédio que fica em frente à mansão, a repercussão do caso foi complicada e estressante para os moradores e frequentadores da rua Piauí. No entanto, além do estilo de vida excêntrico de Margarida, ela não passa de uma vizinha da rua.
Um segurança desse mesmo edifício conta que a idosa é vista poucas vezes. Recentemente, ele a viu conversando com um grupo de pessoas. Na ocasião, a idosa afirmou que todos os acontecimentos de 2022 foram uma calúnia e que daria uma declaração apenas quando tudo fosse esclarecido.
A reportagem tentou entrar em contato com Margarida Bonetti, mas não foi atendida.
Caso na Justiça
No dia da operação policial de 2022, a advogada Helena Monaco foi até a delegacia para iniciar os procedimentos de defesa da família de Margarida Bonetti, que, inicialmente, foi denunciada por abandono de incapaz por um vizinho.
O então delegado-geral de São Paulo, Osvaldo Nico Gonçalves, afirmou que o mandado de busca e apreensão tinha como objetivo ajudar a mulher. Uma equipe médica chegou a ir ao local para fazer uma avaliação da saúde de Margarida.
De acordo com a SSP (Secretaria de Segurança Pública), o inquérito policial de abandono de incapaz instaurado pela 1ª Central Especial de Repressão ao Crime Organizado foi arquivado pela Justiça.
Os familiares da idosa foram ouvidos, e a perícia constatou que não há risco nas estruturas da mansão.
Quando a operação foi deflagrada, policiais encontraram na mansão, avaliada em R$ 15 milhões, entulho, móveis sujos, lixo e restos de comida.
"A casa cheira a lixo, cheira muito forte. A casa é muito insalubre. Existe a possibilidade de ter mais animais”, afirmou a delegada Vanessa Guimarães, responsável pela operação na época.
Na época, o grande choque para o público foram a sujeira, a quantidade de lixo e o acúmulo de objetos, além do mau cheiro.
Além da denúncia de abandono de incapaz, a Delegacia do Meio Ambiente do Departamento de Proteção à Cidadania investigou uma denúncia de maus-tratos nos animais. "Foi constatado que três cães foram realmente maltratados. A polícia trabalha para relatar o caso", informou a SSP por nota.
* Sob supervisão de Letícia Dauer