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Vazamento de caixa d'água de 30m assusta moradores de São Paulo

Reservatório está vazio há três meses e não há condições de armazenamento para 170 famílias de um condomínio da CDHU

São Paulo|Joyce Ribeiro, do R7

Vazamento de caixa d'água de 30m assusta moradores de condomínio com 170 famílias
Vazamento de caixa d'água de 30m assusta moradores de condomínio com 170 famílias

O vazamento de uma caixa d'água de cerca de 30 metros de altura tem tirado o sono de moradores do condomínio Belo Monte, na rua Frei Jorge Cotrim, 77, na Vila Nova Teresa, extremo da zona leste de São Paulo. Há pelo menos três meses ela está vazia e o entorno, interditado.

O condomínio foi entregue pela CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) em 2003. Segundo os moradores, o imóvel seria para abrigar militares, mas acabou sendo oferecido às pessoas que moravam em áreas de risco na favela do Pantanal. Divididas em nove torres, moram hoje 170 famílias.

"Em 2003, eles nos ofereceram o apartamento ou R$ 10 mil. A maioria pegou o apartamento porque a gente morava em favela e aqui é um bairro bom, perto da estação de trem. Mas depois muitos perceberam que aqui tinham muitos gastos e venderam. É contrato de gaveta", revela a síndica Rosa Virgínio Paulino.

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Segundo ela, o problema com a caixa d'água vem de muitos anos. Ainda em 2011, a estrutura apresentou avarias. Uma empresa foi contratada para fazer os reparos, mas o serviço não foi bem executado. O vazamento continuou.


A administradora do condomínio chamou a empresa novamente. O técnico teria dito que a situação era complicada. "Ele disse que tava difícil, que o conserto não ia dar certo. Ele jogou cimento por baixo da caixa e agora está descendo. Não adiantou nada", diz a síndica.

Tempos mais tarde, os moradores ratearam os valores para pintura dos prédios e para corrigir as rachaduras. O reparo envolvia também a caixa. No entanto, se passasse a tinta, os vazamentos ficariam ainda mais visíveis.


Segundo Celso Roberto Miranda da Silva, que é auxiliar logístico e morador do condomínio desde 2010, os vazamentos são visíveis a olho nu. "Tem ferros expostos e água escorrendo do lado de fora. Não sei se foi o tipo de material usado na construção. Tivemos que esvaziar a caixa para evitar um acidente e rompimento. Estamos usando a água da rua, mas, às vezes, ela acaba e não tem nem para o banho", conta.

Contradições na avaliação

O esvaziamento da caixa d'água causa transtornos aos moradores. Ela é a única opção de armazenamento para as nove torres. Ao lado da caixa está o parquinho, que foi isolado, mas ainda assim é usado pelas crianças que têm ficado mais tempo em casa por causa da pandemia.


O estacionamento também está na mesma área da caixa. Celso da Silva teme outros prejuízos: "Antes de secar a caixa, eu nem deixava meu carro lá. Esvaziamos com medo de estourar. O concreto está esfarelando e o ideal também não é deixar a caixa seca".

Água escorre por fora da caixa e se acumula no entorno
Água escorre por fora da caixa e se acumula no entorno

Imagens gravadas por drone mostram fissuras, estruturas metálicas expostas e água nas paredes externas da caixa. Em um vídeo, os moradores dizem que "não podem esperar o pior acontecer".

Para saber se houve comprometimento estrutural, um engenheiro fez a análise da caixa d'água e, segundo a síndica, avaliou que estava condenada. 

No entanto, no último dia 29, técnicos da CDHU vistoriaram o local e afirmaram aos moradores que a caixa não corre risco de cair. "Veio um técnico de obras e não engenheiro. Eu então pedi um laudo por escrito que fale que a caixa só precisa de reforma. Porque um outro engenheiro já tinha condenado a estrutura. A gente não sabe em quem acreditar", revela a síndica.

Ainda não há uma estimativa de quanto vai custar a obra, mas Rosa Paulino afirmou que os condôminos não têm condições de pagar por um laudo de engenheiro e a reforma, ainda mais agora na pandemia e com o desemprego.

"O certo não é a gente tirar dinheiro do caixa e colocar aqui porque o pessoal é de baixa renda. Tem gente que vai na escola buscar marmita para almoçar e jantar. Tirar dinheiro de onde não tem para pagar engenheiro, erradíssimo isso. Eles [CDHU] têm que ver o serviço e falar se a gente pode construir outra caixa ou arrumar essa. A gente não está se negando a arrumar", ressalta a síndica.

Em nota, a CDHU informou que a responsabilidade pelos serviços preventivos de manutenção e conservação das áreas comuns, incluindo a caixa d'água, é do próprio condomínio.

"Nos últimos dias 28 e 29 de julho, técnicos da CDHU realizaram uma vistoria no local e orientaram a síndica e o morador que fez a queixa sobre a necessidade de reparos imediatos para conservação e segurança da estrutura, ainda que o reservatório não apresente risco iminente estrutural", afirma a companhia.

Abastecimento

Sem um reservatório de armazenamento, os moradores usam a água da rua. Mas o abastecimento é cortado no fim do dia, o que prejudica as atividades, principalmente de quem trabalha fora e volta tarde para casa.

"Foi feito um desvio de água da caixa para chegar aos moradores, mas ela vem com muita força e pode até estourar canos. Três meses com a caixa vazia e alguns moradores ficam sem água. O correto seria pagar uma tarifa social de água, mas aqui é a comum", afirma Rosa Paulino.

O morador Celso da Silva relata que tem armazenado água à noite em dois baldes de 10 litros em caso de emergência.

Estrutura metálica exposta e infiltração no interior da caixa
Estrutura metálica exposta e infiltração no interior da caixa

Já a Sabesp, também em nota, informou que técnicos estiveram no condomínio nos dias 30 e 31 de julho e também em 1º de agosto e constataram que o abastecimento da ligação de água está normal, com pressão dentro dos padrões.

De acordo com a empresa, a gestão de pressão da água no bairro ocorre das 23h às 5h. "Reforço a importância de que todos os imóveis possuam reservação interna com capacidade de armazenamento equivalente ao consumo de seus moradores por, no mínimo, 24 horas, segundo as normas técnicas vigentes", explicou em comunicado.

Segundo a Sabesp, a síndica informou que os reservatórios internos não estavam sendo utilizados devido à presença de vazamento, mas a manutenção não compete à empresa. 

Sobre o cadastramento dos moradores na tarifa social, é preciso apresentar um ofício da CDHU descrevendo que o empreendimento é destinado à população de baixa renda e que todos os apartamentos são ocupados por mutuários ou moradores que recebam até três salários mínimos. A orientação teria sido repassada à administração do condomínio durante a vistoria.

Construção da CDHU

A CDHU informou que as 170 famílias do conjunto habitacional Belo Monte foram removidas de uma área de intervenção urbana do Projeto Pantanal e atendidas por Termo de Permissão Onerosa de Uso do Imóvel porque o local estava em processo de regularização.

No entanto, em 2016, segundo a companhia, 20% das famílias realizaram a conversão do termo para contratos de financiamento definitivo. Os demais moradores estariam inclusos na programação de conversão futura de contratos, sem data informada.

O taxista Julival Pereira da Silva participou do projeto de remoção das famílias da favela do Pantanal e negociação com a CDHU. Segundo ele, todos se sentiram enganados porque acreditaram que seriam proprietários do imóvel, mas depois descobriram que pagariam aluguel social.

Ao lado da caixa está o parquinho e parte do estacionamento
Ao lado da caixa está o parquinho e parte do estacionamento

"Disseram que em 15 anos os apartamentos estariam quitados. Mas não somos proprietários, pertence à CDHU. Qual a intenção em não passar a titularidade? Eles são totalmente responsáveis pelo que ocorre no condomínio. Toda obra de infraestrutura é de responsabilidade da CDHU. Devem ter seguro. Como o morador vai arcar com laudo, engenheiro e obra? E se a caixa cair?", defende.

O morador afirmou também que os contratos regularizados são resultado do esforço de alguns moradores e que ele tenta fazer o mesmo, mas está aguardando agendamento.

"Nós pedimos reunião com o Departamento Jurídico da CDHU, enviamos ofício e não deram resposta. Pelo que me disseram, quando regulariza, teria que começar a pagar do zero a prestação e os 18 anos que pagamos?", questiona Julival.

Acidente em Diadema

Os moradores temem que ocorra um acidente como em Diadema, no ABC Paulista, no dia 23 de agosto de 2020. Uma caixa d'água que estava sendo demolida desabou na avenida Afonso Monteiro da Cruz, no bairro Serraria. Ninguém ficou ferido.

A queda da estrutura cilíndrica foi filmada. É possível ver quando parte do concreto cai, na sequência a caixa rola sobre três carros e um muro, arrastando terra como um rolo compressor, e vai parar no meio da rua.

Na ocasião, a Prefeitura de Diadema disse que a obra estava embargada por causa de irregularidades. Mas a empresa Nor Brasil TPD, contratada pela CDHU para demolir dois reservatórios desativados, havia retomado a demolição das caixas d'água do condomínio sem a apresentação de alvará ou autorização da prefeitura.

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