Adoçantes fazem mal à saúde? Confira os efeitos do consumo desses produtos
Especialistas ouvidas pelo R7 reforçam que os adoçantes só devem ser usados por quem tem necessidade fisiológica, pois podem atrapalhar o processo de emagrecimento
Saúde|Carla Canteras, do R7
Quase sempre é assim: uma pessoa começa uma dieta para perder peso, e uma das primeiras indicações que ela recebe é para cortar carboidratos, ou seja, não comer pães, massas nem doces. Na busca por alimentos açucarados, muitos recorrem ao uso de adoçantes artificiais e aos produtos industrializados chamados de diet ou light.
Sempre restam dúvidas se esses produtos fazem bem à saúde e se ajudam mesmo na perda de peso. Os pesquisadores se debruçam sobre o tema e frequentemente apresentam resultados de estudos sobre os efeitos dos adoçantes.
A nutricionista clínica Carolina Angelina Martins explica que essas respostas definitivas ainda não podem ser dadas, mas os riscos de os adoçantes causarem alguns danos são factíveis.
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"Ainda não há tantos estudos para que cheguemos a uma conclusão definitiva. O que sabemos é que, com o passar dos anos, vamos ingerindo uma química, e ela pode, sim, apresentar algum dano. Por exemplo alguma modificação por conta de algo que é químico e o corpo não reconhece", orienta Carolina.
Ela acrescenta: "É um produto novo, que foi criado em laboratório e que está se passando por um açúcar mas não é. Então, acabamos tendo uma química que pode, ao longo do tempo, provocar, sim, algum dano".
Quais os tipos de adoçantes?
As substâncias mais usadas, tanto no cafézinho do dia a dia quanto nos alimentos industrializados, são os produtos sintéticos, como aspartame, ciclamato de sódio, manitol, sacarina, acessulfame k. e sucralose.
Há também os produtos naturais, como stévia, eritritol, monkfruit e xilitol, que são usados nas mercadorias vendidas como mais saudáveis.
Os adoçantes são encontrados em produtos como iogurtes, bolachas, doces, barras de cerais, sucos e pães. O consumidor consegue encontrar no rótulo das embalagens a informação sobre o alimento que está sendo comprado, mesmo os ditos naturais, e saber se eles têm ou não os produtos sintéticos.
"Tem vários tipos de adoçantes no mercado: o sintético, o natural. Os sintéticos evitamos de fazer a indicação, porque realmente tem vários estudos mostrando ali que ele pode trazer algum tipo de malefício à saúde – apesar de os órgãos de saúde colocarem esses produtos como seguros para consumo", afirma a nutricionista funcional e esportiva Thais Barca, da Clínica CliNutri.
Efeito no metabolismo
No mês passado, pesquisadores do Departamento de Microbiologia e Imunologia Molecular, da Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos, mostraram que o uso de aspartame, sacarina, stévia e sucralose podem impactar o metabolismo das pessoas.
Os produtos alteram a microbiota intestinal – população de micro-organismos, como bactérias, vírus e fungos, que habita todo o trato gastrointestinal –, e isso prejudica o processo de reação do organismo às mudanças nos níveis de açúcar do sangue.
Os adoçantes são cancerígenos?
Em março deste ano, cientistas da Universidade Sorbonne, na França, realizaram um ensaio para verificar a ligação entre o uso de aspartame, acessulfame-K e sucralose e o risco de câncer em geral.
Com base nas respostas de 102.865 adultos, que fazem parte da plataforma francesa de pesquisa de saúde e nutrição chamada NutriNet-Santé, os pesquisadores associaram os três produtos ao aumento do risco geral de câncer.
O aspartame, em particular, foi relacionado à obesidade e ao aumento do risco de câncer de mama.
Associação com problemas cardíacos
Com base nas respostas de 103.388 voluntários da mesma plataforma francesa, os mesmos cientistas estudaram a associação do uso de adoçantes artificiais ao aumento de riscos de doenças cardiovasculares, como infarto e derrame.
Segundo os pesquisadores, "nossos achados indicam que esses aditivos alimentares, consumidos diariamente por milhões de pessoas e presentes em milhares de alimentos e bebidas, não devem ser considerados uma alternativa saudável e segura ao açúcar, em linha com a posição atual de várias agências de saúde".
Adoçantes ajudam no emagrecimento?
Uma das respostas que mais interessam os consumidores dos produtos diet e lights é se eles ajudam no processo de emagrecimento. Nesse caso, as duas profissionais ouvidas pelo R7 são assertivas nas respostas.
"Tem estudos que mostram que quanto mais adoçante eu consumir, mais açúcar e carboidrato eu quero. Com isso, eu aumento a absorção de carboidrato no meu intestino. Se eu estou querendo emagrecer, tenho uma vontade maior de consumir carboidrato, pães, massa ou biscoitos", explica Carolina.
Thaís complementa, ainda, sobre os efeitos do adoçante no cérebro: "Nosso cérebro vai mandar mensagem de doce, e o nosso pâncreas vai liberar a insulina, porém não vai ter açúcar para ele fazer a digestão. Isso pode trazer efeitos negativos no emagrecimento, porque o cérebro continua mandando a mensagem que tinha algo doce, e não teve nada doce. Isso provoca, levemente, uma sobrecarga de insulina, porque houve a produção sem precisar. O cérebro continua pedindo o sabor doce, e a pessoa vai ter mais desejo de comer doce".
"O adoçante está só enganando os sensores cerebrais, que ficam meio confusos, e com isso ele não consegue dar a noção de saciedade, porque o adoçante vai lá e engana muito o cérebro", destaca Carolina.
O que diz a OMS?
Diante de todas essas informação, a OMS (Organização Mundial da Saúde), em abril deste ano, anunciou que fará uma revisão sistemática sobre o uso de adoçantes na dieta de crianças e adultos.
De julho a agosto, a organização fez uma consulta pública para ajudar nas definições e diretrizes sobre o consumo dessas substâncias.
Quem deve usar adoçantes?
A verdade é que todos os adoçantes foram criados para os indivíduos que de fato têm restrições ao consumo de açúcar, como é o caso dos diabéticos. Para quem não precisa, o ideal é se acostumar com os sabores azedo e amargo, que podem ajudar no emagrecimento.
"Para quem não tem necessidade fisiológica, é melhor evitar o uso de adoçantes e se acostumar com o sabor natural dos alimentos. Quanto mais você se adapta ao sabor azedo e ao sabor amargo, mais você não aguenta comer coisas muito doces, e, quando vier a vontade, ela não vai ser avassaladora. Se comer um pouquinho, vai passar", finaliza Thaís.
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