Apneia do sono pode provocar enfarte, AVC e impotência sexual
Ronco pode ser sinal do distúrbio, que afeta mais de 50% dos brasileiros
Saúde|Do R7*
Há dois anos, a aposentada Sandra Dias, 57, começou a sofrer com problemas respiratórios. Seu marido dizia que ela tinha um sono muito agitado e parava de respirar durante a noite. Com isso, surgiu também outro incômodo: o ronco.
O ronco moderado — aquele ruído baixo durante a noite — tem diversas causas, pode ser tratado com medidas simples. No entanto, ruído mais altos pode ser sinal de apneia do sono — dificuldade de respirar durante a noite que faz com que a pessoa sofra com "microdespertares" e não consiga recuperar suas energias adequadamente.
Membro da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial, o especialista em medicina do sono Edilson Zancanella a associação da apneia do sono com o ronco é frequente.
— A grande maioria das pessoas que ronca tem a apneia do sono. Você está respirando, tem uma pausa respiratória e volta a respirar. Só de ter mais esforço, já pode dar problema no coração, como hipertensão arterial, enfarte e até AVC [acidente vascular cerebral].
Dados de uma pesquisa recente divulgada pelo Incor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP) mostram que 54% da população adulta do País ronca. A apneia pode levar a problemas graves, como diabetes, obesidade, déficit de memória, depressão, ataques do coração, e até problemas cardiovasculares e morte súbita.
Segundo o diretor do Laboratório do Sono do Incor (Instituto do Coração), Geraldo Lorenzi Filho, especialmente nos homens, o ronco decorrente da apneia do sono também "contribui para a impotência sexual". Isso ocorre porque a circulação sanguínea é prejudicada com a falta de ar, o que pode gerar problemas na hora do ato sexual.
— Isso porque, durante a noite, na fase em que os sonhos se manifestam [etapa conhecida como sono REM], existe ereção peniana, e para que isso aconteça, é fundamental que haja uma boa circulação sanguínea. Essas manifestações são importantes para manter o órgão funcionando normalmente. Com a apneia, a ereção pode ser prejudicada, porque falta oxigênio no sangue, em decorrência da dificuldade da pessoa em respirar.
“Quase me separei por causa do ronco”
O ronco é um sinal de que as vias aéreas, responsáveis pelo transporte do oxigênio, estão sofrendo um estreitamento, o que faz com que as estruturas da garganta vibrem com a passagem do ar. Por isso, trata-se de um barulho que acontece durante a respiração quando a pessoa está dormindo.
De acordo com Lorenzi Filho, o problema pode se manifestar em homens e mulheres de todas as idades. Crianças também estão sujeitas a sofrerem de ronco. No entanto, nesse caso, as causas mais comuns costumam ser relacionadas à um estreitamento da faringe ou inchaço nas amígdalas, diz o médico.
Dentre os adultos, fumantes e obesos são mais propensos a manifestar o ruído. Zancanella ressalta que a má alimentação e a ingestão de bebidas alcoólicas antes de dormir também podem ser fatores decisivos, pois, ajudam a relaxar a musculatura da garganta e o sistema nervoso central.
— Quando você come bastante e muda rapidamente de posição, por exemplo, vai se deitar, favorece o relaxamento da musculatura. O organismo está se preparando para a digestão, e o sono diminui a atividade metabólica geral, o que faz com que a digestão demore mais.
Veja dicas para evitar roncar durante a noite
Além disso, o ronco também pode ser uma consequência do uso indiscriminado de remédios faixa preta, classe de medicamentos que só é vendida com receita e costuma ser usada em tratamentos relacionados à ansiedade.
— Esses medicamentos favorecem o ronco, pois, eles provocam um relaxamento exagerado da musculatura da garganta, o que faz com que ela fique mais propensa a vibrar.
Ronco impacta também a saúde emocional
Zancanella destaca que o ronco causa impactos profundos, tanto físicos quanto emocionais, na saúde de quem sofre do problema.
— Emocional porque vira uma companhia não muito desejada, então, dificulta a convivência com o esposo ou a família. Se a pessoa tem ronco e apneia, ela sofre impactos na vida dela, fica mais depressiva e mal humorada. Fica mais esquecida também. E tem essa coisa de acordar cansado, o cansaço vai virando crônico. Com isso, a pessoa perde o ânimo para fazer as coisas. Fora os riscos de diabetes, hipertensão e obesidade.
A falta de sono em decorrência da apneia do sono já estava prejudicando a vida de Sandra. Segundo a aposentada, as noites mal dormidas cobraram seu preço, e ela vivia constantemente estressada.
— Eu passava o dia inteiro sonolenta, com a sensação de não ter dormido de noite. Dormir mal faz você passar os dias mal. Eu tinha um mau humor, uma sonolência constante. Me dava uma irritação muito grande.
Com a evolução do quadro da aposentada, os sintomas começaram a afetar seu marido, que também não estava conseguindo dormir com o barulho e a agitação da mulher.
— Meu marido tinha uma grande preocupação com como eu dormia. O problema que mais o incomodava eram as paradas respiratórias, ele chegava a sentar na cama para me acordar. Ele dizia que eu tinha um sono muito agitado, parava de respirar várias vezes.
Dificuldade para dormir pode causar consequências graves, como infarto e morte súbita
Depois de se consultar com um otorrinolaringologista e fazer uma polissonografia, exame que busca identificar eventuais distúrbios do sono, Sandra encontrou a solução para o seu problema no CPAP, um aparelho que manda uma pressão contínua de ar para as vias aéreas e deve ser usado sempre que a pessoa for dormir. Com isso, os despertares durante a noite acabaram, assim como o ronco.
Tratamentos
No entanto, segundo o especialista Zancanella, a utilização do aparelho é indicada apenas para casos de apneia do sono grave, já que é um tratamento que não tem prazo definido para ser encerrado, e o paciente costuma ter que utilizá-lo pelo resto da vida.
Terapias como a Higiene do Sono, que consiste em uma série de medidas, como evitar dormir de barriga para cima e não consumir álcool antes de dormir, podem ser a solução. Correções nasais e cirurgias funcionais também são uma opção para se tratar o sintoma. Mas Zancanella alerta que cada caso demanda um tratamento específico.
— Tem casos que precisam de cirurgia, tem casos que não precisa. É sempre muito individualizado. A única maneira de ter certeza é com os exames.
Já Lorenzi Filho afirma que a cirurgia é mais indicada para correções anatômicas na região do nariz, mas as chances de se eliminar a apneia do sono por meio de procedimentos cirúrgicos é baixa.
— Muitas vezes, a apneia do sono não se resolve com esses procedimentos, porque é uma obstrução mais embaixo, na região da faringe. Mas, dependendo do especialista, há visões diferentes. Existe uma cirurgia nova que consiste em quebrar o maxilar e a mandíbula e avançar esses ossos para poder desobstruir a região. Mas o nível de evidência de resultados é muito baixo.
*Colaborou:Luis Jourdain, estagiário doR7
Conheça o R7 Play e assista a todos os programas da Record na íntegra!