Aumento de internações de idosos reflete necessidade de 3ª dose
Anvisa e médicos indicam vacina de reforço para manter proteção de idosos e profissionais de saúde, primeiros vacinados no país
Saúde|Carla Canteras, do R7
Quando a pandemia começou, uma das principais preocupações era como proteger os idosos, já que corriam mais risco de desenvolver covid grave e tinham mais chance de óbito. Surgiram as vacinas e essa faixa etária foi incluída entre as prioridades da imunização, com isso houve queda de hospitalizações e mortes entre os mais velhos. Porém, passados 7 meses do início da vacinação no Brasil, esse público volta estar no centro das atenções.
De acordo com levantamento do SindHosp (Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo), pessoas com 70 anos ou mais representam 52% dos pacientes com covid-19 internados nos hospitais particulares de São Paulo.
Outro dado que reflete a atual realidade é baseado em um estudo da Fiocruz que mostrou um aumento dos indicadores de casos e mortes pela covid-19 entre idosos no Rio de Janeiro. O número de pessoas com mais de 80 anos internadas no Estado atingiu o maior patamar desde o início da pandemia: 848 em uma semana, com 175 mortos.
A infectologista Rosana Ritchman, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, explica que era esperado um aumento de internações nessa faixa etária. "Nós imaginávamos que as novas internações dos idosos iriam voltar a acontecer. Porque essas pessoas receberam o imunizante há mais tempo, foi o primeiro grupo a receber as vacinas, e sabemos que a quantidade de proteção vai declinando com o tempo. Fora que alguém de 80 anos responde pior à vacina do que alguém jovem. A duração de proteção, eu imagino, seja mais curta mesmo", afirma a médica.
A especilista lembra, ainda, que muitos idosos receberam a CoronaVac, que estudos já mostraram uma queda de proteção após 6 meses da aplicação. "Juntamos ao fato de que muitas pessoas nessa faixa etária tomaram a vacina de vírus inteiro, a CoronaVac, que nós sabemos que tem uma proteção inferior ao ser comparada com as outras. Não para doença grave, mas de uma maneira geral. Não é surpreendente que após 6, 7 meses as pessoas comecem a adoecer", acrescenta ela.
As discussões sobre a aplicação da terceira dose estão cada vez mais presentes entre profissionais de saúde, na busca do controle da pandemia. Na quarta-feira (18), a Diretoria Colegiada da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) recomendou que o Ministério da Saúde avalie aplicar um reforço para grupos que receberam as duas doses da vacina produzida no Instituto Butantan.
“No contexto da variante Delta, uma dose adicional pode ajudar a prevenir casos graves e possivelmente fatais em idosos e em pessoas com sistema imunológico prejudicado”, afirmou Meiruze Freitas, diretora da Anvisa.
O ministro da Saúde Marcelo Queiroga afirmou, durante entrevista na quinta-feira (19), que a aplicação da terceira dose só será possível a partir de outubro, quando o país tiver avançado na cobertura com a segunda dose. Além disso, o ministro destacou que a pasta vai esperar resultados de estudos para definir qual será a estratégia usada. Porém, Queiroga já confirmou que a aplicação começará com os idosos e profissionais de saúde.
A decisão do ministério visa a imunidade coletiva, segundo explicação da infectologista. "Em termos de saúde pública, o Ministério vai querer acabar logo com a vacinação, pelo menos da primeira dose, da população adulta. Em termos individuais, a terceira dose é indicada. O ideal seria que nós tivéssemos vacina para todo mundo, tanto para completar a imunização quanto para dar o reforço em quem precisa", diz Rosana.
Raquel Stucchi, infectologista e professora da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), também ressalta a importância da terceira dose e sugere que seja dada em um público específico, já que não há vacina disponível para todos.
"A discussão de uma terceira dose é extremamente necessária. Senão, sempre teremos a quantidade muito grande de pessoas suscetíveis à doença, daí não terminamos esse ciclo vacinal nunca. Neste momento, talvez não seja necessário para todo mundo, só para o grupo que foi vacinado há muito tempo, como os idosos bem idosos e os profissionais de saúde que estão na linha de frente e não podem parar", completa Raquel.