Brasil tem 10 milhões de idosos com dose de reforço contra a Covid atrasada
Dados do Ministério da Saúde mostram atraso do reforço entre as pessoas com mais de 60 anos, e estados fazem busca ativa para reverter quadro
Saúde|Do R7
O Brasil tem 10 milhões de idosos que estão com a dose de reforço contra a Covid-19 atrasada, indica um levantamento do Ministério da Saúde. A dose de reforço é considerada fundamental para prevenir infecções, hospitalizações e óbitos pela doença, principalmente entre os grupos mais vulneráveis. As informações, ainda preliminares, soam o alerta sobre a necessidade de estratégias de mobilização para incentivar a vacinação com a terceira dose.
Conforme o documento da pasta, de 4 de março, 10.026.720 pessoas com mais de 60 anos de idade já poderiam ter tomado a dose de reforço, mas ainda não compareceram aos postos de vacinação ou não entraram nos sistemas de registro. O Brasil tem 30,3 milhões de pessoas acima de 60 anos. Para calcular o número de pessoas aptas a receber a dose de reforço, a pasta leva em consideração aquelas que tomaram a segunda dose há mais de 120 dias e não voltaram aos postos para tomar a terceira.
Todos os brasileiros que tomaram a segunda dose há mais de quatro meses já podem buscar a vacinação com a dose de reforço. Entre o público de 18 e 59 anos de idade, os dados indicam que 54,1 milhões de pessoas estão com o reforço atrasado. No total, 64,2 milhões de brasileiros estão aptos a receber a dose de reforço, mas ainda não compareceram aos serviços de vacinação ou não tiveram a vacina computada, segundo o Ministério da Saúde.
A pasta pondera que parte desses números tem relação com atrasos nos registros. Em muitas áreas do país, a vacinação ocorre, mas os dados sobre a pessoa imunizada não são registrados rapidamente. Por isso é possível que os números de "atrasados" para a dose de reforço sejam menores, na prática, do que aqueles que aparecem nos registros do Ministério da Saúde. Entre os idosos, porém, a aplicação da dose de reforço começou em setembro do ano passado.
O Ministério destaca ser "relevante" a quantidade de faltosos à vacinação contra a Covid-19. "Reitera-se a necessidade de esforços adicionais empreendidos pelas três esferas de gestão do SUS, como a busca de parceiros para avançar no processo de vacinação, melhorar as coberturas vacinais, principalmente sobre as doses de reforço nos públicos mais vulneráveis", conclui o documento do Ministério da Saúde.
A proteção da vacinação com as duas doses cai com o tempo para todas as faixas etárias, mas principalmente entre os idosos. A dose de reforço ativa anticorpos contra a doença e é uma estratégia para deixar os idosos menos vulneráveis à Covid-19.
A dose de reforço também restaura barreiras contra a infecção pelo vírus — ou seja, pessoas que já tomaram a terceira dose têm menos risco de se infectar do que aquelas que só tomaram as duas doses da vacina contra a Covid-19. A ampliação da proteção é importante não só contra casos graves, mas também pode ser útil para evitar a Covid longa — os sintomas duradouros da Covid-19 mesmo após um quadro leve da doença.
Segundo o Ministério da Saúde, a proporção de vacinados com a dose de reforço está abaixo de 90% em todas as faixas etárias. Em algumas regiões, o índice não chega a 60%. Nenhum estado da Região Norte, com exceção de Rondônia, alcançou a cobertura de 60% entre jovens ou idosos. No Nordeste, a cobertura com a dose de reforço também é baixa em estados como Maranhão e Pernambuco.
Em São Paulo, que tem as melhores coberturas do país com as duas doses, o número de registros de atrasados para o reforço ou de pessoas cuja terceira dose ainda não foi anotada chega a 2,3 milhões entre os idosos acima de 60 anos e a 14,9 milhões na população de 18 a 59 anos de idade, segundo o boletim do Ministério da Saúde. Os dados estão atualizados até 21 de fevereiro.
Ainda assim, o estado conseguiu atingir 60% da cobertura com a dose de reforço na faixa etária dos idosos. Por meio de nota, a Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo informou que já aplicou 21 milhões de doses adicionais e reiterou "a importância da conclusão do esquema vacinal para garantir a proteção contra a Covid-19". A Prefeitura de São Paulo informou que a cobertura com a dose adicional está em 66,2% para a população acima de 18 anos.
Gestores e especialistas advertem que a redução na percepção de risco da população contribui para índices baixos de cobertura. Por outro lado, estratégias como busca ativa, campanhas e postos volantes instalados em espaços públicos ajudam a atingir os faltosos.
"A gente historicamente sabe que quanto mais doses se acrescenta à campanha menor a taxa de cobertura. Para cada 100 que vêm fazer a primeira [dose], 90 vêm fazer a segunda e 75 vêm fazer a terceira", diz Renato Kfouri, diretor da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações). Na campanha da Covid-19, no entanto, o abismo entre a procura da segunda e da terceira parece maior.
Fatores como a sensação de proteção da população, o medo de reação, fake news e mudanças nas orientações sobre prazos entre as doses contribuem para a cobertura baixa com o reforço, segundo Kfouri. A boa notícia, diz ele, é que há uma janela de oportunidade, já que os municípios têm hoje nome e telefone dos vacinados — e sabem quem já deveria ter retornado ao posto e não voltou.
No Espírito Santo, um dos estados com o maior avanço na dose de reforço, a comunicação por SMS para avisar a data da vacinação será retomada para aumentar as taxas, principalmente entre os mais jovens. A cobertura com a terceira dose estava em 83,17% na terça-feira (8) entre os maiores de 60 anos. O número é considerado bom pela Secretaria de Saúde, mas ainda abaixo da meta de 90%.
Já na população capixaba mais jovem, de 18 a 59 anos, metade dos que já estão aptos a receber o reforço não voltou aos postos. Para Danielle Grillo, coordenadora do Programa Estadual de Imunizações, é preciso avançar no alcance da terceira dose no estado, principalmente entre a população adulta. "Ela não tem mais a percepção de risco. O idoso ainda adere melhor ao esquema vacinal porque tem medo da Covid."
Além da estratégia de envio de SMS, o estado manda aos municípios uma lista com o nome dos faltosos e o número de telefone de cada um e aplica vacinas em lugares de ampla circulação. Já o acesso a equipamentos públicos no Espírito Santo depende da comprovação de que a pessoa está com o esquema em dia, inclusive a dose de reforço.
Em São Paulo, o governo estadual diz apoiar a vacinação de reforço com envio de mensagem via SMS e por e-mail para lembrar a data do retorno. Também incentiva os municípios a fazer a busca ativa dos faltosos e promover ações de divulgação.
Os idosos voltaram a se destacar entre as principais vítimas da Covid-19 mais de dois anos após o início da pandemia, o que indica que uma quarta dose de imunizante pode ser fundamental para proteger essa faixa etária. Mato Grosso do Sul, por exemplo, já começou a aplicar a quarta injeção nos mais velhos e São Paulo prevê iniciar essa nova fase da campanha em abril.
Por meio de nota, o Ministério da Saúde informou que articula ações de incentivo à vacinação contra a Covid-19, "considerando as características próprias de cada estado e município". A pasta também recomenda a busca ativa das pessoas para completar o esquema vacinal, "a fim de garantir a máxima proteção dos brasileiros, principalmente contra as novas variantes".