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Número de mortes de idosos por Covid cresce e indica necessidade da quarta dose

Dados de fevereiro de dois grandes hospitais de SP e Rio mostram aumento no número de óbitos de idosos com terceira dose aplicada em novembro 

Saúde|Do R7

Especialistas acreditam que onda da Ômicron acabou e é hora de otimizar o combate ao vírus
Especialistas acreditam que onda da Ômicron acabou e é hora de otimizar o combate ao vírus

Os idosos voltaram a se destacar entre as principais vítimas da Covid-19 mais de dois anos após o início da pandemia, o que indica que uma quarta dose de imunizante pode ser fundamental para proteger essa faixa etária.

A necessidade do segundo reforço já vinha sendo estudada, mas a rápida disseminação da Ômicron no início deste ano deixou ainda mais clara a vulnerabilidade daqueles que concluíram o esquema vacinal há mais de quatro meses e são particularmente frágeis.

Mato Grosso do Sul, por exemplo, já começou a aplicar a quarta injeção nos mais velhos e São Paulo prevê iniciar essa nova fase da campanha em abril.

Levantamentos feitos em dois dos maiores hospitais de referência para o tratamento da Covid-19 no país (Emílio Ribas, em São Paulo, e Ronaldo Gazolla, no Rio) revelaram que, no início de fevereiro, de 70% a 90% dos mortos pela doença eram pessoas não vacinadas ou com o esquema de vacinação incompleto. No fim de fevereiro, porém, esse porcentual caiu para aproximadamente 50%, o que revela nova mudança no perfil das vítimas. Na outra metade, a maioria são idosos que tomaram a terceira dose em novembro.


"Nas primeiras três semanas da disseminação da Ômicron, [praticamente] 100% dos mortos eram não vacinados, com o esquema vacinal incompleto ou imunossuprimidos [transplantados, pacientes de câncer, entre outros]", afirma o infectologista Alexandre Naime Barbosa, da Faculdade de Medicina da Unesp, em Botucatu.

"Agora, esse grupo representa 50% dos mortos, e os outros 50% são idosos já com as três doses; a diferença é que eles tomaram essa terceira dose há mais de três meses e a imunidade deles começou a cair." Botucatu, no interior paulista, também já iniciou a aplicação da quarta injeção nos mais velhos.


A primeira onda da Covid-19 no Brasil foi entre abril e outubro de 2020. A segunda onda, muito pior, foi de dezembro de 2020 a junho de 2021, com dias que superaram 3.000 óbitos e colapso do sistema público de saúde em várias cidades.

O começo da vacinação, em janeiro do ano passado, fez com que a média de idade das vítimas baixasse significativamente, uma vez que os idosos foram os primeiros a ser imunizados.


No fim de 2021, o surgimento da variante Ômicron, mais transmissível, favoreceu a rápida disseminação da nova cepa no país a partir de janeiro deste ano, o que marcou uma terceira onda da pandemia no Brasil, segundo especialistas.

"As vacinas foram desenvolvidas para o Sars-CoV2 de antes das mutações e apresentavam proteção alta, acima de 80% para infecções leves e acima de 90% para infecções graves e óbitos", diz a infectologista Ethel Maciel, da Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo).

"Com o surgimento das novas variantes, sobretudo da Ômicron, houve redução significativa da proteção para os casos mais leves, ainda que ela tenha se mantido acima dos 80% para casos graves e mortes."

O número de óbitos voltou a ultrapassar a marca das 1.000 vítimas diárias em meados de fevereiro, embora não tenha aumentado na mesma proporção do número de casos, que ultrapassou 200 mil infectados por dia. Enquanto a letalidade da doença no Brasil ao longo da pandemia variou de 2% a 4%, nesta última onda ela não passou de 0,4%, o que revela o efeito da imunização.

Agora, um dos grandes desafios da imunização contra a Covid-19, segundo especialistas, é a menor eficácia da vacina justamente na parcela mais velha da população. Por causa do fenômeno conhecido como imunossenescência, os maiores de 70 anos são menos protegidos pelos imunizantes do que a população em geral. E essa proteção tende a cair ainda mais quatro a cinco meses depois da vacinação completa.

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O mesmo fenômeno ocorre em indivíduos submetidos à quimioterapia para câncer e a medicações imunossupressoras, em portadores de imunodeficiências, em pessoas que vivem com HIV ou fazem uso crônico de altas doses de corticoide.

No Espírito Santo, por exemplo, um dos poucos estados que fizeram levantamento desse tipo, a taxa de mortalidade dos idosos com vacinação completa (duas doses mais uma de reforço) era nada menos que 35 vezes maior do que entre não idosos com vacinação completa.

Nos Estados Unidos, por exemplo, onde a população é mais velha que a brasileira, a idade média dos mortos por Covid antes da Ômicron era de 68,4 anos. Depois, passou para 74,2 anos. No Brasil, a média da idade de internação pré-Ômicron era de 57,4 anos e depois passou para 62,5, com mais de 70% dos casos de internação de pessoas acima dos 60 anos.

Para o pesquisador Raphael Guimarães, do Observatório Covid-19/Fiocruz, o pico da Ômicron já ficou para trás, com a redução do número de novos casos e mortes nos últimos dias. Nos próximos 30 dias, o Brasil atravessa o que os pesquisadores chamam de "janela de oportunidade" para otimizar o combate ao vírus, porque a grande maioria da população estará imunizada, seja por causa da vacinação, seja por infecção recente pela nova cepa.

"Se conseguirmos alavancar a vacinação, vamos reunir um conjunto tão grande de pessoas imunes que é possível pensar em bloquear a circulação do vírus, diminuindo os casos e óbitos", explica Guimarães. O cenário favorável, entretanto, não permite ainda que as medidas de restrição possam ser flexibilizadas nem autoriza eventos de aglomeração. "É hora de intensificar as medidas de restrição para que o vírus não consiga se espalhar."

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