Chance de variante do AM escapar de imunidade anterior chega a 46%
Estudo sobre cepa P.1 do coronavírus deixa evidente risco de reinfecção por pessoas que tiveram covid anteriormente
Saúde|Fernando Mellis, do R7
Um estudo científico publicado nesta quarta-feira (14) na revista Science traz algumas novidades acerca da variante do coronavírus identificada em Manaus (AM) no fim do ano passado. Uma delas é a estimativa de escape dos anticorpos gerados por pessoas que já haviam tido covid-19.
Os autores do artigo calcularam que existe uma probabilidade entre 21% e 46% de a cepa P.1 conseguir se instalar no organismo de quem já havia sido infectado por uma variante anterior, o que evidencia o risco de reinfecção.
"A P.1 pode ser entre 1,7 vez e 2,4 vezes mais transmissível do que as linhagens não P.1 locais e pode escapar de 21% a 46% da imunidade protetora induzida por infecção anterior com linhagens não-P.1, correspondendo de 54% a 79% de imunidade cruzada", explicam os pesquisadores.
Os cientistas citam a diminuição da imunidade natural da população de Manaus em novembro de 2020, cerca de seis meses após o primeiro pico da pandemia do Amazonas. Mas acrescentam que essa queda dos anticorpos "por si só não é capaz de explicar a dinâmica observada" na cidade.
Eles atribuem como possível explicação as "características epidemiológicas" da cepa mutante.
"Nossos resultados sugerem que as características epidemiológicas de P.1 são diferentes daquelas das linhagens locais de SARS-CoV-2 que circulavam anteriormente, mas também destacam uma incerteza substancial na extensão e natureza dessa diferença."
A maior transmissibilidade da P.1 é atribuída a um trio de mutações na proteína spike (por onde o coronavírus se liga aos receptores de células humanas).
Os autores chamam atenção para o fato de as mutações também estarem presentes na cepa B.1.351, identificada no ano passado na África do Sul.
"O surgimento independente da mesma constelação de mutações em linhagens geograficamente distintas indica um processo de adaptação molecular convergente", anotam.
Inicialmente, também foi sugerido que a P.1 poderia ter uma carga viral até dez vezes mais elevada do que na infecção por cepas tradicionais.
O estudo publicado hoje na Science, todavia, não conseguiu "distinguir se a infecção P.1 está associada a cargas virais aumentadas ou a uma duração mais longa da infecção".
Por fim, os pesquisadores alertam para o fato de a variante de Manaus estar "se espalhando rapidamente pelo Brasil" e pelo mundo.
Eles também recomendam um aumento da vigilância genômica — única forma de identificar rapidamente novas cepas — e de testes para saber o desempenho contra a P.1. das vacinas já em uso.