Como maior exportador de aves do mundo, Brasil reforça defesa contra a gripe aviária
Após a detecção do vírus H5N1 em três aves silvestres do Espírito Santo, país intensificou a coleta e análise de amostra dos animais
Saúde|Do R7
O Brasil está tomando precauções extras para proteger a maior indústria de exportação de aves do mundo de um vírus altamente patogênico da gripe aviária que foi detectado esta semana entre aves selvagens no país, depois de atingir nações vizinhas.
Quase US$ 10 bilhões (cerca de R$ 49 bilhões) em exportações de frango estariam em risco se a gripe aviária H5N1 infectasse rebanhos comerciais no Brasil, que assumiu um papel crescente no fornecimento de aves e ovos para o mundo, já que os países importadores proíbem carne de frango e peru de países com o vírus.
O único laboratório (Laboratório Nacional Agropecuário) credenciado pela Organização Mundial de Saúde Animal (WOAH, na sigla em inglês) na América Latina confirmou nesta segunda-feira (17) a detecção do H5N1 em duas aves silvestres Thalasseus acuflavidus, ou garajaus-de-cabot, e um atobá-pardo (Sula leucogaster) capturados no estado do Espírito Santo.
"Esta pressão para detectar rapidamente a gripe aviária obriga-nos a melhorar o processo de aquisição de equipamentos (laboratoriais) e o processo de automatização dos procedimentos laboratoriais", disse Rodrigo Nazareno, coordenador da rede laboratorial nacional.
Por protocolo, veterinários locais no Espírito Santo coletaram amostras das aves no local e as enviaram ao laboratório de referência em Campinas, Brasil.
Um caso de gripe aviária em uma fazenda geralmente resulta na morte de todo o rebanho e pode desencadear restrições comerciais de países importadores, enquanto a detecção entre aves selvagens não provoca proibições sob as diretrizes WOAH.
O governo brasileiro este ano elevou os investimentos em 19 vezes para aumentar a capacidade de testes em sua rede de seis laboratórios federais e aumentou o orçamento geral de seus Serviços de Saúde e Inspeção Animal e Vegetal em cerca de 12%, para 209 milhões de reais.
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"Para cada 1 real gasto no laboratório de Campinas, são evitadas potenciais perdas de cerca de 64 reais para a indústria da carne", disse Rodrigo Nazareno, coordenador geral dos Laboratórios Agropecuários do governo federal.
A Reuters visitou o laboratório de referência da WOAH em 25 de abril, antes do teste positivo desta semana. Os trabalhadores do laboratório já estavam em alerta máximo depois que mais de 75 surtos de gripe aviária altamente patogênica foram relatados em nove países da América Central e do Sul, muitos deles pela primeira vez.
A receita de exportação de frango do Brasil saltou mais de 27% em dólares no ano passado, uma vez que as empresas locais se beneficiaram do susto global da gripe aviária, que abriu novos mercados.
A China e o Oriente Médio continuaram sendo grandes clientes. E a União Europeia, onde países como a França tiveram que matar milhões de aves para conter surtos, aumentou os volumes de importação do Brasil em cerca de 23%, mostram dados da indústria.
Desde o início de 2022, as aves selvagens espalharam o vírus altamente infeccioso mais longe e mais amplamente em todo o mundo do que nunca. Embora os humanos possam contrair o H5N1, esses casos permanecem raros, e as autoridades globais de saúde disseram que o risco para os humanos é baixo.
Drones
Nas últimas semanas, o Brasil começou a usar drones para patrulhar áreas sensíveis, como o Pantanal, e implementou uma proibição estrita de visitas a granjas comerciais por pessoas não autorizadas.
Após a confirmação de casos nos vizinhos Argentina e Uruguai, o Brasil anunciou no final de março a suspensão de 90 dias de todos os eventos envolvendo a exposição de aves.
O Ministério da Agricultura disse que mais testes podem ser necessários em um raio de 10 km dos casos no Espírito Santo, incluindo em animais de plantéis comerciais. O ministério manterá a vigilância ativa e passiva em aves silvestres em todo o país.
O vírus chegou à América do Sul por meio de aves migratórias, disse Masaio Mizuno Ishizuka, professora titular sênior de Epidemiologia da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de São Paulo.
Normalmente, as aves só transmitem a gripe aviária por cerca de cinco dias. Mas a presença do vírus em pequenos animais marinhos, que servem de alimento às aves migratórias, pode ter permitido sua disseminação mais ampla este ano, disse ela.
"O vírus é extremamente hábil em apresentar mutações para ampliar seu potencial de sobrevivência como espécie", alertou Ishizuka.
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