Covid-19: vacinas inovadoras são menos seguras que tradicionais?
Entre os imunizantes com testes no Brasil, CoronaVac é considerada convencional, já as vacinas de Oxford, Johnson e Pfizer utilizam novas tecnologias
Saúde|Do R7
Mais de 160 vacinas para proteger contra a covid-19 estão sendo desenvolvidas ao redor do mundo. Elas utilizam tecnologias distintas, algumas sem precedentes. Dois imunizantes, da Universidade de Oxford e da empresa Johnson & Johnson, que estão na terceira e última fase de testes em humanos, tiveram as pesquisas paralisadas após graves reações adversas em um voluntário, o que, em um primeiro momento, levanta dúvidas em relação à sua segurança.
Os testes da vacina de Oxford foram retomados menos de uma semana depois, após a comprovação de que a doença neurológica desenvolvida por uma das participantes não tinha relação com a vacina. Sobre a reação adversa no voluntário dos estudos da Johnson, só se sabe até agora que trata-se de "uma doença inexplicada", segundo comunicado da empresa. Os testes estão suspensos no momento.
O pediatra infectologista Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), explica que não é possível afirmar que uma potencial vacina contra a covid-19 é mais segura do que a outra analisando apenas a tecnologia que serve de base para cada uma delas.
"Em termos de segurança, já temos mais dados acumulados em relação às [tecnologias] convencionais, mais isso não significa muita coisa. Elas precisam passar por testes da mesma maneira [que as inovadoras]", afirma.
Ele destaca que o objetivo das pesquisas com os potenciais imunizantes contra a doença é exatamente identificar os fatores que influenciam no risco de reações adversas. "Os estudos são realmente para isso: monitorar grupos e conhecer o perfil de quem é mais suscetível a esses eventos".
As vacinas que utilizam o novo coronavírus inativado, por exemplo, são consideradas convencionais. É o caso da CoronaVac, desenvolvida pela empresa chinesa Sinovac Biotech. Caso seja aprovada, será produzida no Brasil em parceria com o Instituto Butantan, em São Paulo. Ela tem em sua composição o novo coronavírus morto a partir de processos físicos e químicos. Assim, o vírus não consegue se replicar, mas faz com que o sistema imunológico reaja e crie os anticorpos necessários.
Já os imunizantes da Oxford, da Johnson & Johnson e da Rússia são considerados inovadores e nunca foram usados em larga escala. São feitos a partir de uma plataforma vacinal que pode ser adaptada em um curto espaço de tempo para novos vírus, chamada ChAdOx1 (abreviação de chimpanzé adenovírus Oxford).
Como o próprio nome diz, o veículo é um adenovírus de chimpanzés. Este é um tipo de vírus inofensivo e enfraquecido que geralmente causa resfriado comum nos primatas. Partes do coronavírus que julgam ser importantes para ativar o sistema imunológico são acopladas ao adenovírus, o que é feito por meio de um trabalho de engenharia genética.
Na prática, o adenovírus serve de transporte para o que de fato interessa: os fragmentos do coronavírus necessários para induzir o sistema de defesa.
A vacina da Pfizer também é considerada inovadora e nunca foi utilizada antes. Utiliza a tecnologia de RNA mensageiro. Nessa estratégia de pesquisa, a molécula de RNA é produzida em laboratório e aplicada no paciente. Essa molécula entra na célula por diferentes mecanismos, fornecendo a ela as informações necessárias para produza uma das proteínas que compõem o novo coronavírus. Essa proteína será reconhecida como um corpo estranho e assim estimulará a resposta imunológica.
Em entrevista ao R7, a pesquisadora Luciana Cezar de Cerqueira Leite, do Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas do Instituto Butantan, afirmou que, por ter poucos componentes, esse tipo de imunizante tem a possibilidade de produzir menos reações adversas.
“Não tem nenhuma informação comparativa com outras vacinas, mas ela está abaixo dos níveis pré-determinados de preocupação com reações adversas”, explicou.