De tontura a dor no peito: entenda os sintomas do ataque de pânico
Sensações são facilmente confundidas com problemas cardíacos, mas médico garante que não há risco de morrer durante esses ataques
Saúde|Fernando Mellis, do R7
De uma hora para outra, você começa a sentir um mal-estar generalizado, o coração acelera, tem palpitações, a respiração fica ofegante, com sensação de sufocamento, tontura, tremedeira, formigamento nas mãos e na boca e até com dor no peito.
Quem não sabe do que se trata pode achar que foi acometido por algo súbito e grave, e que o risco de morte é iminente. Mas esses são sintomas de um ataque de pânico.
Os episódios "podem ser espontâneos ou aparecer em uma situação de estresse agudo, como um assalto, por exemplo", explica o psiquiatra Luiz Vicente Figueira de Mello, do Programa de Transtornos de Ansiedade do IPq (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).
"É o medo de morrer naquele momento. A pessoa sente que está tendo um infarto ou um problema agudo e corre para o pronto-socorro. A maioria das pessoas que têm transtorno de pânico já passou pelo pronto socorro."
Mello destaca que a crise de pânico dura entre 15 e 30 minutos, período em que existe uma forte descarga hormonal no organismo que provoca as sensações desagradáveis típicas desse quadro. Ele acrescenta que são sintomas automáticos e que aumentam se a pessoa fica mais desesperada.
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"Os ataques de pânico são considerados uma situação de fuga ou luta, uma coisa que acontece com todos os animais. O cérebro manda a ordem e vai para as glândulas que injetam adrenalina para preparar a pessoa para fugir ou lutar. É a adrenalina que faz tudo isso... aumenta a pressão, os batimentos cardíacos, dá tremores porque prepara a musculatura para fugir."
Embora a crise de pânico seja aterrorizante para quem vive, Mello afirma que "não há risco clínico" para o paciente.
"Em alguns casos mais graves de pânico, o máximo que acontece é que as pessoas desmaiam."
Alarme que dispara sozinho
O psiquiatra compara o ataque de pânico a um alarme de uma casa que dispara quando não há um invasor e recomenda que se episódios desse tipo se repetirem, a pessoa deve procurar um médico.
"Um ataque só não caracteriza o transtorno de pânico. Quando esses ataques começam a ser mais frequentes, sem causa relacionada e levam a pessoa a mudar seus hábitos, como medo de ir ao trabalho, medo de pegar transporte público, começa a desenvolver o medo que se chama agorafobia, que é o medo de ter o ataque em situações em que ela não possa ser socorrida. Isso faz com que a pessoa se isole."
A constatação da síndrome do pânico é feita com base nos relatos do paciente. A partir daí, o médico vai prescrever o medicamento mais adequado. Porém, ressalta Mello, não são calmantes.
"Primeiro, é preciso fazer um diagnóstico específico. Nós não usamos de primeira mão os ansiolíticos. O que nós usamos para pânico são os antidepressivos, que vão atuar nos neurônios, diminuindo esses disparos que são os alarmes. Esses remédios levam até três, quatro meses para agir. Quando a pessoa está com muita crise, benzodiazepínicos são usados apenas como coadjuvantes no início do tratamento, que também pode incluir uma psicoterapia específica, a cognitivo-comportamental."
É preciso entender, acrescenta o médico, que o transtorno de pânico atinge entre 4% e 6% da população (sendo mais comum entre mulheres) e tem componentes genéticos.
"Tem níveis: leve, moderado e grave. O leve, passando o tratamento, pode ser que não retorne. O moderado e o grave, em 70% dos casos as pessoas poderão ter uma recaída cinco anos após parar com o medicamento. Em casos mais graves, o uso do medicamento é para sempre, como se fosse diabetes ou hipertensão."
Não há cura para os casos moderados e graves de pânico, já que se trata de uma disfunção na conexão entre os neurotransmissores. No entanto, é possível ter uma vida normal com o uso dos medicamentos.
"Não é dependência química, como drogas, é fisiológica. O remédio age fazendo com que as pessoas fiquem sem essas reações químicas anormais. Por enquanto, o nosso tratamento é assim. O futuro é célula-tronco, que talvez vá nessas regiões reconstruindo essas conexões de neurotransmissores. Você poderia fazer com que os neurônios dessas áreas fossem reconstruídos. Aí é cura. No momento há apenas controle."
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Pânico x ansiedade
Crise de pânico e de ansiedade são ligeiramente diferentes, afirma o psiquiatra.
"A crise de ansiedade é muito mais relacionada com as circunstâncias, como uma prova, uma entrevista de emprego. É prolongada, pode ficar o dia todo ou até mais tempo. A pessoa tem um mal-estar, que pode ter sudorese, tremor, mas é normalmente mais leve e, o principal, ela não tem o medo de morrer característico do ataque de pânico."
Não é todo mundo que tem algum quadro de ansiedade excessiva que vai desenvolver o pânico.
"As pessoas confundem muito, acham que a ansiedade é provocada só pelo meio. Quem é suscetível, no aspecto biológico, é que pode ter o pânico", finaliza.