Entenda a obstrução intestinal que acomete Jair Bolsonaro
Presidente foi internado no fim da madrugada desta quarta-feira com dores abdominais no Hospital das Forças Armadas
Saúde|Fernando Mellis, do R7
Internado no fim da madrugada desta quarta-feira (14) com um quadro de obstrução intestinal, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) já se queixava de problemas gastrointestinais há algum tempo.
Ele chegou a reclamar de crises de refluxo e, mais recentemente, de soluços, antes de dar entrada no Hospital das Forças Armadas, em Brasília, com dores abdominais.
Na avaliação do gastrocirurgião e endoscopista Eduardo Grecco, do Instituto Endovita, em São Paulo, é possível que haja relação entre o soluço e a obstrução intestinal.
"Se essa obstrução for no intestino delgado, ela dificulta o esvaziamento gástrico. Ele está comendo, esse alimento está indo para o intestino, mas está mais difícil de descer. E aí acaba fazendo com que o alimento demore mais, ele fica empachado, acaba tendo refluxo. Um sinal que mostrou para ele foi o refluxo, não é o mais comum. Geralmente esses pacientes evoluem com distensão abdominal, com vômitos", afirma o especialista considerando as informações que já foram repassadas ao público até agora.
No último fim de semana, Bolsonaro passou mal após um jantar com apoiadores no Rio Grande do Sul. Segundo o portal NB Notícias, o político soluçava muito e tinha dificuldade para falar. Ele precisou deixar o evento.
Grecco aponta duas possíveis causas da obstrução intestinal: hérnia abdominal ou aderências intestinais (cicatrizes que podem conectar os dois lados do órgão, criando um bloqueio).
Bolsonaro, que sofreu uma facada no abdômen durante a campanha presidencial, já precisou ser operado em setembro de 2019 justamente por causa de aderências no intestino.
'Tratamento conservador'
Transferido para São Paulo no fim da tarde, o presidente passou por nova avaliação médica ao chegar no Hospital Vila Nova Star.
Segundo boletim médico divulgado à noite, ele apresenta um quadro de "suboclusão intestinal".
"Após avaliações clínica, laboratoriais e de imagem realizadas, o Presidente permanecerá internado inicialmente em tratamento clínico conservador", diz a nota.
Grecco explica que esse tratamento conservador é a opção por não realizar cirurgia neste momento.
"Repouso do órgão total, fica em jejum, é passada uma sonda para ajudar a desobstruir, para aliviar o sistema. Medicações, anti-inflamatórios, deve entrar com antibiótico, para melhorar esse processo todo e observar a evolução dentro de 12 a 24 horas."
Ao reintroduzir a alimentação, os médicos vão ver se o intestino voltou ao normal. Caso o presidente volte a sentir desconforto, a única opção será a cirurgia.
Cirurgia
Segundo Grecco, seja uma hérnia ou aderência, o procedimento é feito por videolaparoscopia, que consiste em pequenos cortes na barriga e uso de câmera e pinças.
"Precisa ver se houve herniação, que é a saída de um pedaço para outro, uma espécie de torção intestinal. Aí é só destorcer isso. Mas pode ser alguma área que realmente está obstruída, que houve alguma aderência. Neste caso, tira aquele pedacinho que está com problema e junta de novo."
O especialista acrescenta que o prognóstico para esse tipo de caso costuma ser "muito bom", tendo em vista que o paciente tem tempo para o preparo cirúrgico, com o esvaziamento do intestino.
Em relação à transferência para São Paulo, o Grecco diz acreditar ser por escolha do médico do presidente, o cirurgião Antonio Luiz Macedo, que opera e tem equipe no Hospital Vila Nova Star, na capital paulista.
"O médico tendo a opção de trazer o paciente para o seu ambiente, a gente sempre prefere trabalhar nesses hospitais onde a gente já está acostumado."