Estudo revela que mulheres pretas têm o dobro de risco de morrer durante ou após o parto
Pesquisadores apontam que os resultados ‘demonstram o impacto do racismo na mortalidade materna’
Saúde|Victoria Lacerda, do R7, em Brasília
Mulheres pretas enfrentam quase duas vezes mais risco de morrer durante o parto ou no puerpério (período pós-parto) em comparação com mulheres pardas e brancas. A pesquisa, realizada pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), destaca a vulnerabilidade desse grupo e seu reflexo na saúde materna.
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O estudo, publicado na Revista de Saúde Pública em 5 de julho, analisou a taxa de mortalidade materna segundo a cor da pele entre 2017 e 2022, comparando mulheres pretas, pardas e brancas. Foram considerados fatores como região geográfica, faixa etária e se o óbito ocorreu antes ou durante a pandemia de Covid-19. Os dados foram coletados do DataSUS, do Ministério da Saúde, seguindo a classificação racial do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Entre 2017 e 2022, a taxa de mortalidade materna geral foi de 67 mortes por 100 mil nascidos vivos, mas entre as mulheres pretas, o índice chegou a 125,8 mortes por 100 mil nascidos vivos, quase o dobro do dado referente a mulheres brancas e pardas, que foi de 64 mortes a cada 100 mil nascidos vivos.
Em todas as regiões do Brasil, a taxa de mortalidade foi maior entre mulheres pretas:
“No Brasil, a cor da pele negra desempenha papel relevante como fator na determinação da taxa de mortalidade materna. É essencial reconhecê-lo em todos os níveis de atenção: durante o pré-natal, parto e período pós-parto, pela detecção precoce da morbidade materna e tratamento de condições potencialmente fatais”, dizem os autores do estudo.
Os pesquisadores apontam que os resultados “demonstram o impacto do racismo na mortalidade materna”. Eles afirmam que o aumento das taxas de mortalidade entre mulheres pretas é consequência de uma construção social que impacta negativamente seus resultados de saúde e não está relacionado a fatores genéticos ou biológicos.
Além disso, fatores socioeconômicos, como falta de acesso a cuidados de qualidade, educação deficiente e rendimentos mais baixos, são citados como explicações para as disparidades raciais. Mesmo ajustando os resultados para essas variáveis, a cor da pele preta foi associada a um risco aumentado de hipertensão na gravidez, ao que faz crescer os riscos de mortalidade materna.
“É necessário que os profissionais de saúde reflitam sobre o impacto do racismo em suas atividades cotidianas na assistência, e os gestores de saúde forneçam formação adequada para evitar o racismo nos cuidados de saúde e também punir esses eventos”, frisam os pesquisadores.