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Febre amarela continua se expandindo pelo país 

Vírus caminha pelo litoral em direção ao Sul; há mais de mil casos confirmados e mais de mil em investigação em 23 estados brasileiros

Saúde|Deborah Giannini, do R7

Sabethes, mosquito transmissor da febre amarela silvestre no Brasil
Sabethes, mosquito transmissor da febre amarela silvestre no Brasil

Embora os casos confirmados de febre amarela tenham diminuído no Brasil nas últimas três semanas, segundo boletins do Ministério da Saúde, o vírus continua se expandindo pelo país, de acordo com especialistas.

A entomologista Maria Anice Sallum, professora do Departamento de Epidemiologia da USP, afirma que o vírus está se dispersando por regiões onde não ocorria anteriormente, caminhando pelo litoral em direção à região Sul. “O brasileiro terá que conviver com a doença, assim como faz com a dengue”, explica.

Segundo Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), o vírus persiste circulando nas matas em regiões onde não circulava. “A epidemia está em decréscimo, como era de se esperar, por causa da sazonalidade da doença. Tende a desaparecer casos em humanos, mas o vírus continua circulando”.

O vírus circula no Norte e Centro-Oeste o ano todo, consideradas regiões endêmicas da doença. Ele explica que a novidade foi sua litoralização, a migração o vírus para o litoral, até então, zona livre de febre amarela. “Vamos ter que conviver com a febre amarela em regiões de mata na região Sudeste como já convivemos nas regiões Norte e Centro-Oeste”.


O Ministério da Saúde afirmou, por meio de nota, que o número de casos confirmados de febre amarela tem diminuído, embora casos suspeitos ainda estejam sendo notificados pelos Estados e municípios.

Atualmente, há mais de mil casos da doença em investigação espalhados por 23 Estados brasileiros, segundo o Ministério da Saúde. Apenas três do total, não apresentam nenhuma suspeita da doença: Acre, Roraima e Sergipe.


“A febre amarela no Brasil apresenta um padrão sazonal bem definido para a ocorrência de casos humanos, com maior registro de casos nos meses de dezembro a maio. Mas, ainda que os casos tendam a reduzir após esse período, é preciso manter a intensificação da vacinação nas áreas afetadas, bem como ampliar a adesão da população, já preparando as áreas adjacentes para a vacinação preventiva antes do próximo verão”, diz a nota.

Aquecimento é a causa da epidemia


O aquecimento climático é a principal causa da epidemia de febre amarela no Brasil, de acordo com o pesquisador Adriano Pinter, da superintendência do Controle de Endemias (Sucen). “Antes, o frio era uma barreira, mas invernos mais quentes nos últimos anos contribuíram para a chegada do vírus ao Sudeste. O desmatamento da Amazônia acelerou a migração do vírus para a região, mas a causa da epidemia está relacionada ao aquecimento”, explica.

A temperatura continua muito favorável à manutenção da epidemia da febre amarela. “Seria necessário ao menos 13ºC para conter seu avanço, e não é isso que estamos observando”, afirma Maria Anice.

Ela ainda aponta a globalização e a urbanização como fatores que contribuíram para a mudança do cenário da febre amarela no Brasil. “O desmatamento provocado pela urbanização coloca a população humana e animal vivendo em contato com mosquitos silvestres. A fragmentação da floresta facilita muito a transmissão”, diz.

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O problema da globalização seria em relação ao trânsito de pessoas em diferentes lugares durante o período de viremia, aquele no qual a o portador de febre amarela dispõe do vírus no sangue, mas não apresenta sintomas da doença. “A globalização facilita muito a transmissão e também leva o vetor de um lugar para outro muito rapidamente”, explica. 

Segundo a entomologista, a grande preocupação, no momento, está focada no primo do Aedes aegypti, o Aedes albopictus. Ele carrega o vírus da febre amarela, mas sua capacidade de transmiti-lo ainda não foi comprovada. “A questão é que ele seria uma ponte entre a febre amarela silvestre e urbana. A grande preocupação é que a febre amarela se torne urbana”, explica.

“No Brasil, há muitas espécies de mosquito e em grande quantidade. Caso outros vetores desenvolvam a capacidade de transmitir a febre amarela o quadro vai ficar complicado”, completa.

Histórico da epidemia

Segundo o Ministério da Saúde, a epidemia teve início em 2014 na região Norte, com expansão no sentido Leste-Sul do país, afetando a região Centro-Oeste entre 2015 e 2016.

Já em 2016 alcançou a Sudeste, a mais afetada pelo vírus da febre amarela nos últimos dois anos, ainda de acordo com o ministério. “O vírus atingiu um grande contingente populacional em áreas que não eram cobertas pela vacina”, explica a entomologista.

“A transmissão do vírus se deslocou do interior de São Paulo e de Minas Gerais, dispersando-se no sentido Leste, onde afetou diversas áreas do bioma Mata Atlântica, avançando no sentido Norte-Sul ao longo de uma grande faixa Leste do Brasil”, diz a nota.

O ministério informa que a vigilância de casos em macacos e em humanos tem indicado as novas áreas de expansão.

“Mesmo com a redução dos registros de casos humanos nas últimas semanas, em virtude do período atual, mantém-se a estratégia de prevenção, enfatizando a importância da vacinação seletiva, onde o vírus já foi registrado, a em áreas ampliadas”, diz a nota do ministério.

Todo o território brasileiro é considerado área de recomendação da vacina. A vacinação será realizada de forma gradual, com previsão de ser concluída até abril de 2019.

As diferenças entre febre amarela, gripe, dengue, zika e chikungunya:

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