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'Irmã' da Ômicron representa mais ameaça ao Brasil do que Deltacron, afirma virologista

Híbrido de duas variantes é mais uma curiosidade do que um risco, segundo especialista; enquanto subvariante é mais transmissível

Saúde|Fernando Mellis, do R7

Subvariante BA.2 foi identificada com outras duas na África do Sul, em novembro de 2021
Subvariante BA.2 foi identificada com outras duas na África do Sul, em novembro de 2021 Subvariante BA.2 foi identificada com outras duas na África do Sul, em novembro de 2021

O anúncio do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, de que o Brasil investiga dois casos suspeitos da variante Deltacron — uma versão híbrida de Delta e Ômicron — chamou atenção nesta semana, embora ela não represente risco, ao contrário do que ocorre com uma subvariante da Ômicron que já circula no país e está associada a um aumento de novos casos de Covid-19 na Europa.

Queiroga corrigiu-se nesta quarta-feira (16) sobre a confirmação de dois casos da variante Deltacron no Brasil. Segundo ele, as notificações foram feitas pelos estados e ainda precisam ser confirmadas pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).

Todavia, é possível que, assim como outras variantes chegaram aqui, a Deltacron seja detectada em breve.

Ela foi relatada em pelo menos 17 pacientes nos Estados Unidos e na Europa em um artigo ainda sem a revisão de pares publicado, na semana passada, na plataforma medRxiv pelo pesquisador francês Philippe Colson.

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É um coronavírus Sars-CoV-2 que combina a proteína de pico (spike) — parte do vírus que se liga aos receptores humanos — da Ômicron com o corpo da variante Delta.

Uma variante Deltacron já havia sido anunciada em janeiro deste ano por um virologista do Chipre, mas no fim constatou-se que se tratava de uma contaminação de amostras e não de uma versão recombinante do coronavírus.

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Desta vez, a verdadeira Deltacron foi classificada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como sendo uma VUM (variante sob monitoramento, na sigla em inglês).

É um tratamento diferente daquele dado à Ômicron, que logo que foi identificada se tornou uma VOC (variante de preocupação), assim como outras que já tinham causado grandes ondas de Covid-19: Alfa, Beta, Gama e Delta.

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O virologista José Eduardo Levi, chefe da unidade de biologia molecular da rede de saúde integrada Dasa e pesquisador do IMT-USP (Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo), explica que "não surpreende" o surgimento desse tipo de variante híbrida ou recombinante.

"O máximo que esse vírus pode ser é tão ruim quanto a Ômicron ou quanto a Delta, que são duas variantes pelas quais a gente já passou. Ele não se torna um monstrinho ou uma quimera pior do que Delta ou que Ômicron. Tende a ser, do ponto de vista biológico, muito parecido com a Ômicron mesmo nas questões de transmissibilidade e de infecção, principalmente por resultado da proteína S [spike]."

Levi acrescenta que com a explosão mundial da Ômicron, desde o começo de dezembro, algumas pessoas podem ter sido infectadas simultaneamente também pela Delta, variante que era dominante no mundo até então, dando origem à cepa Deltacron.

Segundo o especialista, a versão recombinante das duas variantes não representa uma ameaça do ponto de vista epidemiológico. "É mais uma curiosidade virológica", explica.

Subvariante da Ômicron é um risco

O avanço de uma subvariante da Ômicron na Europa, com aumento do número de novos casos, é o que deve ser monitorado com atenção, alerta o virologista.

Levi conta que quando a Ômicron foi identificada, em novembro de 2021, na África do Sul, foram encontradas três subvariantes, como se fossem irmãs: BA.1, BA.2 e BA.3.

A primeira foi a responsável pela maior onda de casos em todo o mundo desde o início da pandemia, entre janeiro e fevereiro, e é predominante. 

A BA.3 circulou na África do Sul, mas não foi detectada em outros países.

Já a BA.2, mais transmissível que a BA.1, foi identificada em algumas localidades, mas em menor proporção, só que voltou a aparecer de forma mais intensa nas últimas semanas.

"Ela é muito diferente da BA.1, tanto que pode receber uma nova letra grega e se tornar a sexta variante de preocupação", salienta Levi.

Na Dinamarca, a BA.2 já respondia por quase metade dos novos casos de Covid em meados de janeiro.

A Europa vive um aumento de novas infecções, mas ainda não há um consenso se é exclusivamente causado pela BA.2, já que muitas medidas de proteção estão sendo relaxadas, incluindo o uso de máscara.

No Reino Unido, por exemplo, onde o número de novos casos cresceu 48% na última semana, o governo iniciou no fim de janeiro o afrouxamento gradual das restrições. O mais recente deles foi a liberação do uso de máscara em aeroportos e aviões, desde que o local de destino da aeronave permita.

Aqui no Brasil, diversas cidades já começam a afrouxar a obrigatoriedade do uso de máscara. O estado de São Paulo desobrigou do uso em espaços abertos e deve estender a medida a ambientes fechados no próximo dia 23.

"Não tem como ao tirar a máscara, principalmente em ambientes fechados, que a gente não veja um aumento do número de casos", comenta Levi.

Por enquanto, a predominância da variante BA.2 é baixa no Brasil. Na rede da Dasa, corresponde a um índice entre 1% e 2% do total de amostras analisadas. No monitoramento da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), a 0,4%.

Dificilmente o Brasil escapará de um aumento da BA.2. A questão principal é: a subvariante terá impacto no número de casos?

Para o virologista da Dasa, é difícil prever neste momento. A resposta está na proteção conferida às pessoas infectadas pela BA.1.

Se não houver imunidade e tendo em vista que as vacinas também não previnem com alta eficácia a infecção, o país estaria sujeito a uma nova onda em meio ao afrouxamento do uso de máscara.

Por outro lado, ele cita o caso da variante Delta, que se tornou predominante em setembro do ano passado, mas com o número de novos casos em queda e também com relaxamento das medidas restritivas. 

Levi afirma que até o fim de março será possível ter uma perspectiva mais fiel sobre o real impacto que a BA.2 pode ter no Brasil e ressalta que a Covid-19 não deixou de ser uma ameaça.

"Não tem nenhum elemento para dizer que acabou, que não vai vir outra variante. Por que não viria outra variante?"

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