Lúpus e fibromialgia: entenda os principais sintomas e tratamentos para estas doenças
A campanha Fevereiro Roxo do Ministério da Saúde alerta para os cuidados e diagnóstico destes problemas; ambos não têm cura
Saúde|Do R7
Dor no corpo, fadiga e saúde mental comprometida podem ser sintomas tanto de lúpus quanto de fibromialgia, duas doenças para as quais não existe cura nem uma causa definida e, por isso, não há como fazer a prevenção de forma efetiva.
Apesar da semelhança, os dois problemas se diferenciam em diversos fatores e podem impactar significativamente a qualidade de vida do paciente diagnosticado. Em entrevista ao R7, o reumatologista André Ramos, da Beneficência Portuguesa de São Paulo, explica quais os principais sintomas e tratamentos para as doenças.
Fibromialgia
A Sociedade Brasileira de Reumatologia define a fibromialgia como uma doença crônica, caracterizada por dor muscular generalizada, mas que não apresenta evidência de inflamação nos locais de dor.
Apesar de existir a hipótese não comprovada de que a doença pode ser de origem autoimune – uma consequência de quando o próprio sistema imunológico ataca o corpo–, não se sabe exatamente o que pode desencadear o quadro, segundo o especialista.
“Ainda não temos uma causa definida, mas sabemos que a fibromialgia é muito mais comum em pessoas que não praticam atividade física de forma regular ou, por exemplo, que existe uma predisposição maior para aquelas que têm uma outra dor crônica como artrite de joelho ou uma lombalgia”, destaca Ramos, que também chama a atenção para a influência de um histórico familiar envolvendo dores.
Os principais sintomas da fibromialgia são, além da dor que pode durar meses, sono não reparador, cansaço, falta de ânimo que, segundo o reumatologista, também estão associados a transtornos do humor como depressão e ansiedade. Além disso, também ocorre a chamada amplificação dolorosa, isto é, pessoas diagnosticadas com o problema sentem dor de forma mais intensa do que seria normalmente.
“Existe uma série de fatores que podem explicar o porquê de a pessoa ser mais dolorida, e pode ser desde uma alteração dos nervos, que faz com que essa sensação dolorosa seja percebida pelo cérebro; também tem o que chamamos de portal da dor, localizado na medula espinhal, que é onde se faz a regulação de tudo aquilo que sentimos – em pessoas com fibromialgia, pode ser que exista uma desregulação nesse local que ativa uma via que vai ser interpretada pelo cérebro como dor [mesmo se a sensação seja de frio ou calor]”, explica o médico.
Além disso, Ramos ressalta que pessoas que não conseguem dormir direito são cronicamente estressadas na região do eixo central do cérebro, o que também pode impactar a forma como o corpo reage a sensações e processá-las como dor.
O tratamento para a fibromialgia é multidisciplinar, segundo o especialista, isto quer dizer que não é possível tratar o problema apenas por um viés. Ramos destaca a importância da implementação da atividade física como prática regular, além da medicação que age nos neurotransmissores, atuando na forma como o cérebro interpreta a dor.
“Primeiramente a pessoa tem que passar por um processo de conscientização, entender como a doença funciona, que aquela dor, apesar de ser aumentada, não põe necessariamente a vida dela em risco, mas tira a qualidade de vida e é preciso tratar como uma condição de saúde. Para isso a psicoterapia ou terapia cognitiva comportamental são muito importantes, porque faz com que o paciente aprenda a se reconhecer e a conhecer as situações estressantes desencadeadoras da dor, por exemplo”, afirma o médico.
Lúpus
O lúpus é considerado uma das doenças autoimunes de maior gravidade e tem caráter sistêmico, o que significa que pode afetar diversos órgãos e áreas do corpo, das articulações ao cérebro, e levar à morte. Seu nome científico é LES (Lúpus Eritematoso Sistêmico).
“Existem uma série de teorias sobre o que pode causar o lúpus. O quadro pode estar associado, por exemplo, à exposição solar, que pode fazer com que as células da pele morram e isso ativa o sistema imunológico; também sabemos que existe uma predisposição familiar. Não temos um modelo único que explique o aparecimento da doença, por isso não temos uma cura definitiva”, explica André Ramos.
Os principais sintomas do lúpus, segundo as definições do Ministério da Saúde, são fadiga, dor nas articulações, febre, rigidez muscular, dificuldade para respirar, sensibilidade à luz solar, dor de cabeça, confusão mental e perda de memória, linfonodos aumentados, queda de cabelo, feridas na boca e mal-estar geral.
Dos sinais que indicam a doença, o mais comum entre os pacientes diagnosticados é o rash cutâneo, caracterizado por uma vermelhidão em forma de “borboleta” sob as bochechas e a ponta do nariz, que piora com a exposição à luz do sol. Apesar de afetar ambos os sexos, o lúpus é mais comum em mulheres e costuma ser identificado entre a faixa etária de 15 a 40 anos.
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Por se tratar de uma doença sistêmica, o reumatologista explica que o tratamento está relacionado a controlar a atividade do lúpus no organismo. Além disso, também há orientações gerais para quem sofre com o problema, como o uso regular do filtro solar mesmo dentro de casa, com a reaplicação pelo menos três vezes ao dia. Vale ressaltar que não há cura definitiva.
“Para controlar o lúpus, se o paciente tem uma artrite ou um inchaço nas articulações, por exemplo, é importante fazer com que pare de doer. Depois que a doença é controlada, existe o risco de ela voltar a se apresentar em ciclos, só que isso é possível de prevenir. Além disso, também é importante prevenir e tratar outras doenças que podem estar associadas ao lúpus”, explica o médico.
As medicações mais usadas para o tratamento são os imunossupressores, que controlam a ação do sistema imunológico, e a hidroxicloroquina, que pode ser usada de forma prolongada pelos pacientes.
“A hidroxicloroquina é uma medicação muito bem estabelecida para os pacientes que têm lúpus, ajuda a diminuir, por exemplo, o risco de infarto, de AVC [acidente vascular cerebral] e de a doença voltar a aparecer. E como os pacientes [devem evitar a exposição solar], o uso de vitamina D também pode ser indicado”, explica Ramos.