Nova técnica amplia chance de curar câncer, mas esbarra no preço do tratamento
Restrita a alguns tumores, protonterapia custa dez vezes mais que a radioterapia tradicional
Saúde|Raphael Hakime, do R7, enviado a Dresden, na Alemanha*
Uma nova tecnologia, ainda em desenvolvimento, promete revolucionar o tratamento de tumores malignos. Pesquisadores alemães desenvolveram uma técnica que usa feixes de prótons, disparados por meio de raios laser (ao invés de raios-X), muito mais precisa — e menos lesiva — na eliminação do tumor que a tradicional radioterapia com fótons.
Enquanto a radioterapia com fótons conta com raios-X que se espalham pelo corpo, desde o ponto em que tocam a pele até atingirem o tumor, o feixe de prótons é muito mais facilmente direcionado, sem destruir as áreas saudáveis ao redor das células doentes.
Os prótons, que são partículas de carga positiva equivalente aos elétrons, são os menores e mais luminosos íons com potencial para barrar o crescimento do tumor.
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Durante testes, em 2015, com 106 pacientes, oncologistas da Universidade Técnica de Dresden puderam constatar que a terapia com prótons não é tão eficaz para cânceres de fígado e de próstata, mas há evidências de que é melhor para melanoma no olho, tumores no cérebro, na base da coluna, no pâncreas e na região pélvica.
“Provavelmente também tem eficácia superior para tumores pediátricos”, explica Wolfgang Enghardt, físico médico nuclear da Universidade Técnica de Dresden, pesquisador do Instituto de Radiologia do Helmholtz-Zentrum Dresden-Rossendorf e membro do OncoRay (Centro Nacional para Pesquisa de Radiação em Oncologia).
— Em casos de câncer na base do crânio e da coluna, chamado de cordoma, nós conseguimos aumentar o índice de controle de 15% para 80%. É considerado um grande sucesso. Porém esse é um câncer muito raro. Nós precisamos mirar nos tumores de massa [que atingem mais pessoas], como aqueles no tórax e de pulmão por exemplo. Temos 60 pacientes com esse tumor como esse por ano na Alemanha.
A palavra “controle” significa a cura para o pesquisador, que explica que “o controle do tumor significa o tempo de cinco anos sem o retorno da doença”.
— Esse é o tempo considerado para a pessoa estar curada. [...] O tratamento [com feixe de prótons] é feito por 30 dias consecutivos, cinco dias por semana. Os efeitos colaterais são muito baixos e facilmente controláveis.
Realidade ainda distante
A nova tecnologia com prótons, porém, ainda está longe de ser uma realidade nos hospitais brasileiros – e mundiais. Isso porque a máquina responsável por criar a radiação a laser para esse tipo de tratamento ainda é muito grande e, principalmente, muito cara, explica Enghardt.
— Enquanto um equipamento com o feixe de fótons custa 10 milhões de euros, uma de prótons custa 100 milhões de euros. Uma nova tecnologia que custa 10 vezes mais e com desempenho melhor para dois tipos de câncer será bem aceita no mercado? Provavelmente não.
A Alemanha tem mais de 480 mil novos casos de pacientes com câncer todos os anos, sendo que 220 mil deles não resistem à doença. Trata-se da segunda principal causa de mortes no país.
Os métodos tradicionais de tratamento incluem cirurgia, radioterapia e quimioterapia, que garantem uma taxa média de cura de 30%. Considerando apenas a terapia com radiação (radioterapia), mais de 60% dos pacientes têm tumores e a taxa de cura é de 50%. Com a radiação com o feixe de prótons, a expectativa é que esse percentual aumente ainda mais.
* O jornalista viajou a convite do Daad (Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico)