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Novos rótulos de alimentos: saiba identificar os ingredientes que fazem mal à saúde 

Produtos fabricados a partir de 9 de outubro devem exibir na embalagem alerta de excesso de açúcar adicionado, sódio e gordura, mas esses não são os únicos vilões

Saúde|Carla Canteras, do R7

Ler a lista de ingredientes dos produtos é fundamental para não ser enganado
Ler a lista de ingredientes dos produtos é fundamental para não ser enganado

Desde o último domingo (9), estão em vigor as novas regras de rótulos para os alimentos no Brasil. As mudanças vão desde um selo, em forma de lupa, na parte frontal da embalagem, até a tabela nutricional, localizada na parte de trás dos produtos. 

A lupa determina se o produto tem excesso de açúcares adicionados, sódio ou gordura saturada. O objetivo é aumentar a clareza e facilitar a leitura do rótulo dos alimentos, para que os indivíduos possam fazer escolhas mais saudáveis.

Porém, é preciso entender o que faz bem e o que faz mal à saúde para aprender a ler o rótulo. 

A primeira questão é: se o produto tiver a lupa, não é indicado para o consumo.


"Pelo fato de ter a identificação, o consumidor já deve verificar os alimentos que são mais perigosos para a saúde. E, assim, procurar os que não têm a lupa", explica Ana Paula Bortoletto, pesquisadora do Nupens/USP (Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo). 

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Com a criação do selo, a expectativa é de que a indústria reformule os alimentos, para, assim, escapar da temida lupa — foram usados padrões internacionais para estabelecer os critérios.


Mas a reformulação pode não ser tão boa para o consumidor; por isso, é importante reparar na tabela nutricional e verificar a quantidade dos três nutrientes que originam o selo. Se eles estiverem muito próximos do limite, também é melhor evitar.

"Se não tiver lupa, é importante olhar a lista de ingredientes, especialmente para ver se aquele produto não é ultraprocessado ou se está no limite de sódio, açúcares adicionados e gordura saturada", orienta a nutricionista Laís Amaral, integrante do Programa de Alimentos do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor).


Os limites impostos pela Anvisa são: 

• Açúcares adicionados: a partir de 15 g por 100 g (para alimentos sólidos) ou de 7,5 g por 100 ml (para alimentos líquidos);

• Gordura saturada: a partir de 6 g para cada 100 g (para alimentos sólidos) ou de 3 g por 100 ml (para alimentos líquidos);

• Sódio: a partir de 600 mg por 100 g (para alimentos sólidos) ou de 300 mg por 100 ml (para alimentos líquidos).

Modelo da nova tabela nutricional
Modelo da nova tabela nutricional

É importante saber quais os ingredientes do produto comprado

Além da lupa e da tabela nutricional, a indústria é obrigada a pôr todos os ingredientes usados na fabricação do produto.

Ler o que compõe a comida que consumimos é fundamental para saber se o produto é saudável. 

"As informações dos ingredientes estão em ordem decrescente: o primeiro que aparece está em maior quantidade, e assim por diante. Por meio da lista, conseguimos ter uma noção dos tipos de ingrediente", explica Laís Amaral.

A partir dessa lista, é possível fazer escolhas melhores.

"Conseguimos identificar os aditivos alimentares, que são aromatizantes, corantes, adoçante ou edulcorante. Além disso, precisamos ficar atentos aos ingredientes que não temos na cozinha da nossa casa, como gordura hidrogenada, amido modificado", complementa Laís. 

Os ingredientes que não conseguimos reconhecer são aqueles que caracterizam um alimento ultraprocessado.

"Há muitos estudos científicos que mostram a relação entre o consumo de ultraprocessados e doenças crônicas. Temos a recomendação, no Brasil e em outros lugares do mundo, de evitar esses tipos de alimento", alerta a especialista.

Fazem parte dessa lista xaropes, emulsificantes e extratos de proteínas. "Essas substâncias mudam a característica original dos produtos. Costumamos chamá-las de aditivos alimentares cosméticos. Funcionam como uma maquiagem mesmo nos alimentos", alerta Ana Paula. 

Todos os produtos comercializados já terão o novo rótulo?

A leitura dos ingredientes também é importante, porque vai demorar um tempo para que os produtos disponíveis contenham as novas determinações da Anvisa. De acordo com as fases de implementação, apenas em outubro de 2025 todos os produtos estarão atualizados. 

Isso porque, nesta primeira etapa, somente os itens fabricados depois de 9 de outubro de 2022 devem obedecer à regra atual. O que foi produzido antes e estiver no prazo de validade poderá ser vendido normalmente. 

"O problema é que os ultraprocessados têm prazo de validade extenso. Então, teremos nas lojas produtos com e sem lupa, mas estes últimos poderão receber uma. Talvez eles só não estejam dentro do prazo de implementação. Não é porque temos rótulo frontal que não devemos ler a lista de ingredientes", ressalta a profissional do Idec. 

Por que a quantidade de açúcar adicionado é importante?

Entre as mudanças na tabela nutricional, a informação da quantidade de açúcares totais e a de açúcares adicionados é considerada fundamental.

"Temos evidências científicas que mostram a relação de doenças com os açúcares, especialmente o que é adicionado ao produto pela indústria. Na maioria das vezes, é posto um açúcar de menor qualidade, o que faz mal", destaca Laís. 

Políticas públicas

Todas essas inovações ajudam na educação da população, mas Ana Paula Bortoletto, pesquisadora do Nupens/USP, avisa que "educação é fundamental. Mas, se falarmos só da educação, pomos demais a culpa nas pessoas por não fazerem escolhas mais saudáveis. Só que é uma escolha que está quase inacessível hoje em dia, pelos preços exorbitantes".

A pesquisadora reforça que as melhores escolhas também dependem de políticas públicas. "Os produtos menos saudáveis poderiam ter impostos maiores, por exemplo, para que possamos subsidiar os alimentos melhores."

Ela acrescenta que o ambiente deve desestimular o consumo de ultraprocessados. "Esses alimentos não poderiam ser vendidos em escolas nem ter publicidade para crianças. Com tudo isso, aumentaríamos a proteção para as pessoas menos favorecidas e ajudaríamos nas escolhas mais saudáveis, que seriam mais baratas e ficariam mais disponíveis", conclui Ana. 

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