O que se sabe sobre a BA.2, subvariante da Ômicron que é ainda mais transmissível
Segundo a OMS, a nova cepa já foi detectada em pelo menos 57 países, incluindo o Brasil; na Dinamarca ela se tornou dominante
Saúde|Hysa Conrado do R7, com Reuters e AFP
A cepa BA.2 do coronavírus ficou conhecida como sendo uma subvariante da Ômicron por conter características semelhantes a esta última, explica o geneticista Renan Pedra, professor de genética da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).
De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), a Ômicron tem diversas subvariantes, denominadas BA.1, BA.1.1, BA.2 e BA.3. Mas, apesar de pertencerem à mesma linhagem, a BA.2 se mostrou ainda mais transmissível, segundo um estudo divulgado por pesquisadores da Universidade de Copenhague e da Universidade Técnica da Dinamarca, país onde a nova cepa já é dominante.
A pesquisa, que ainda não passou pela revisão de outros cientistas, revelou que a subvariante é 33% mais infecciosa do que a Ômicron – esta que causou uma nova onda de Covid-19 no mundo e tem sido responsável pelos recordes diários de casos da doença no Brasil, que neste mês já registrou mais de 298 mil novos diagnósticos em apenas um dia.
Ainda segundo a OMS, a subvariante já foi detectada em 57 países. No Brasil, o Ministério da Saúde confirmou ao menos sete casos de Covid-19 causados pela nova mutação. Não se sabe extamente onde a cepa surgiu pela primeira vez.
Leia também
O geneticista explica que tanto a Ômicron quanto a BA.2 têm um perfil semelhante às outras variantes de preocupação do coronavírus, ou seja, concentram as principais mutações no gene S, o produtor da proteína Spike que, por sua vez, é responsável pela entrada do vírus na célula humana.
“Esse perfil já foi visto anteriormente e indica um processo de seleção do vírus, porque para ter uma maior transmissibilidade, ele precisa ser mais eficiente não só na entrada do hospedeiro, mas também na entrada das células. Então o que estamos vendo é um processo de evolução para que o vírus seja cada vez mais eficiente nessa invasão celular”, destaca o professor.
Não é possível dizer se a BA.2 é mais letal apenas por ser mais transmissível porque, segundo o especialista, são estimativas diferentes. Ele cita como exemplo a variante Delta, que era a mais transmissível antes da Ômicron e, ainda assim, ficava atrás da Alfa no que diz respeito à gravidade da Covid-19.
“Os estudos da América do Norte, quando comparavam a Delta com a Alfa, indicavam que a Alfa levava a uma mortalidade maior. Os dados da Ômicron são um pouco sujos porque já temos a vacina, então fica difícil estimar a mortalidade sem a imunização”, explica.
Na comparação com o volume de novos casos com o número de óbitos, observa-se que a Ômicron tem causado quadros menos graves de Covid-19 no Brasil, onde mais de 70% da população está com o esquema vacinal completo e mais de 25% já recebeu a dose de reforço.
No entanto, Pedra destaca que o Brasil vive um cenário epidemiológico diferente de qualquer outro já visto na pandemia devido a alta quantidade de pessoas diagnosticadas com o vírus, o que significa mais cadeias ativas de transmissão do SARS-CoV-2.
“O vírus está circulando e gera uma doença menos grave em pessoas que estão vacinadas, mas para aquelas que não se vacinaram, a pandemia está da mesma forma que era em 2020, ou talvez até um pouco pior”, afirma.
Neste sentido, o professor ressalta a importância da vacinação no combate à pandemia. Vale destacar que no Brasil já se aplica a dose de reforço para aqueles que receberam o esquema vacinal completo, seja com vacinas de duas doses ou de dose única.
As variantes terão um fim?
Apesar de ser possível que os vírus parem de se replicar a produzir novas variantes, na avaliação do geneticista é pouco provável que isso ocorra com o SARS-CoV-2 dadas as proporções com que ele tem circulado pelo mundo.
“As especulações são muito mais de que em algum momento a Covid-19 evolua para uma doença endêmica ou epidêmica. Mas sumir, como vimos com outros coronavírus anteriores ou o MERS do Oriente Médio, é pouco provável. Ainda é possível, mas pouco provável”, afirma o especialista.
O professor explica que as mutações ocorrem naturalmente à medida que o vírus se multiplica, o que, no contexto da explosão de casos provocados pela Ômicron, é presumível que novas variantes de preocupação surjam durante a pandemia.
“Era esperado que em algum momento esse conjunto de mutações levassem a uma nova variante [a partir da Ômicron], então eu realmente não esperaria que a BA.2 fosse a última cena disso. O vírus não tem como objetivo entrar na célula e matar o ser humano, mas ele está sendo selecionado para que consiga cada vez mais se replicar, então o surgimento de variantes é algo natural durante a pandemia”, explica Pedra.
Apesar da perspectiva, o geneticista destaca que a vacinação em massa da população e os avanços da ciência na elaboração de tratamentos eficazes contra a Covid-19 podem representar uma redução no número de mortes pela doença no mundo.
“O grande salto de complexidade que tivemos foi quando as primeiras variantes de preocupação surgiram em dezembro de 2020. De lá pra cá, estamos vendo variantes cada vez mais transmissíveis, mas também aprendemos o que é a doença, desenvolvemos vacinas, alguns antivirais. Esperamos que progressivamente tenhamos uma doença que seja cada vez menos grave”, afirma.