Obesidade não é escolha, mas uma doença complexa, diz secretário do Ministério da Saúde
Em entrevista exclusiva ao R7, Felipe Proenço comentou desafios enfrentados no país com crescimento da doença nos últimos anos
Saúde|Edis Henrique Peres, do R7, em Brasília
A obesidade é um problema de saúde pública e multifatorial enfrentado pelo Brasil. A avaliação é do secretário de Atenção Primária à Saúde do Ministério da Saúde, Felipe Proenço, dada em entrevista ao R7.
Proenço fez o comentário ao avaliar o cenário de crescimento da doença no país: nos últimos 10 anos, a obesidade cresceu 286%, com o número de adultos acompanhados nos postos e unidades básicas de saúde saltando de 2,1 milhões para 8,2 milhões, segundo dados exclusivos levantados pela reportagem.
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Proenço destaca que a obesidade não é uma questão de escolha individual, mas uma doença complexa de caráter multifatorial.
“Por muito tempo, se tratou a obesidade somente como resultado do desequilíbrio entre consumo alimentar e gasto energético. No entanto, além dos fatores biológicos, o excesso de gordura corporal também se relaciona com aspectos socioeconômicos, culturais, psicossociais e ambientais”, observa.
O secretário acrescenta que, nos últimos anos, o país passou por diversas mudanças sociais e políticas que impactaram nas condições de má nutrição da população, “a exemplo da situação de insegurança alimentar que vulnerabiliza a população à fome e à ‘escolha’ de alimentos não saudáveis, juntamente com a exposição a ambientes de risco que dificultam a prática regular de atividade física”.
O secretário diz, também, que os modos de vida das pessoas, atualmente, “as expõem a uma rotina de estresse crônico, alicerçam limitações na saúde do sono, elevada carga ocupacional e comprometimento da saúde mental, e expandem o ambiente obesogênico”.
Ampliação da cobertura
Proenço lista dados do Vigitel 2023 (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico) das 27 capitais brasileiras, que apontam para 61,4% das pessoas entrevistadas com excesso de peso, ou seja, IMC acima de 25.
“Esses dados podem indicar não apenas um possível aumento real nos casos de obesidade, mas também um aumento na ampliação da cobertura da APS [Atenção Primária à Saúde], maior acesso aos serviços de saúde e crescente conscientização da população sobre a importância do monitoramento e cuidados relacionados ao sobrepeso e à obesidade. Ou seja, as pessoas estão buscando acompanhamento e cuidados de saúde na APS”, observa.
O secretário explica que a oferta de serviços assistenciais aos usuários do SUS compete às secretarias de saúde estaduais, distrital e municipais. Entretanto, reforça que o ministério atua em diversos âmbitos para fortalecer a rede de cuidado de alimentação e nutrição.
“As ações de prevenção e cuidado às pessoas com obesidade nos serviços de APS do SUS incluem estratégias para ampliação e qualificação da vigilância alimentar e nutricional da população no âmbito da APS e inquéritos populacionais para diagnosticar e monitorar a obesidade no país, bem como os fatores de risco para seu desenvolvimento, além de estratégias para a promoção de alimentação adequada e saudável em todas as fases da vida, com base no Guia Alimentar para a População Brasileira”, lista.
Além disso, Proenço cita outras ações para a população ser atingida:
- Estratégias para promover práticas de atividade física e criar polos do Programa Academia da Saúde;
- Fomento ao Programa Saúde na Escola;
- Cooperação técnica entre as secretarias de saúde para qualificar os profissionais no atendimento às pessoas com obesidade;
- Incentivo financeiro e apoio técnico para ampliar a cobertura da APS, que oferece equipes multiprofissionais;
- Incentivo financeiro para construção de novas Unidades Básicas de Saúde.
O secretário também citou o programa Mais Médicos, que leva “assistência aos territórios com vazios assistenciais”.