Ômicron XE, XD e XF: o que elas têm de diferente da variante original
Novas cepas do coronavírus são recombinantes, uma espécie de cruzamento entre si, e já circulam em diversos países
Saúde|Fernando Mellis, do R7
Responsável pela maior onda de Covid-19 em quase dois anos, a variante Ômicron do coronavírus começa a ter uma série de subvariantes circulando por diversos países. Algumas delas são "irmãs", mas outras são versões híbridas, chamadas de recombinantes.
Quando a Ômicron foi detectada na África do Sul, em novembro do ano passado, foram identificados três tipos: BA.1, BA.2 e BA.3.
A Ômicron, independentemente da subvariante, sempre foi considerada a mais transmissível de todas as variantes do coronavírus.
Ela foi imediatamente classificada pela OMS como uma variante de preocupação, juntamente com a Alfa, Beta, Gama e Delta, responsáveis por picos anteriores.
A BA.1 foi responsável pela explosão de casos no fim de 2021 e começo deste ano.
Mais recentemente, a BA.2 – ainda mais transmissível que a BA.1 – começou a causar novos picos, especialmente na Europa e também na China. No fim de março, a OMS (Organização Mundial da Saúde) afirmou que a BA.2 já representava 86% de todas as amostras sequenciadas.
A BA.3 circulou por um tempo na África do Sul, mas não se espalhou mais.
Também se constatou que as vacinas disponíveis são pouco eficazes na prevenção da infecção pela Ômicron, embora mantenham uma boa taxa de proteção contra casos graves e hospitalizações – as pessoas vacinadas costumam ter casos leves.
Versões recombinantes
Com a circulação de outras variantes, especialmente a Delta, começaram a ser detectados coronavírus que eram uma mistura de material genético da Ômicron BA.1 e da Delta, subvariante que foi batizada popularmente de Deltacron.
Esses vírus recombinantes ganharam o nome oficial de Ômicron XD e Ômicron XF. Os dois têm diferenças genéticas, mas basicamente possuem a proteína S, que se liga aos receptores de células humanas, da Ômicron e o restante do genoma da Delta.
Em entrevista recente ao R7, o virologista José Eduardo Levi, chefe da unidade de biologia molecular da rede de saúde integrada Dasa e pesquisador do IMT-USP (Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo), explicou que os coronavírus recombinantes não são uma ameaça.
"O máximo que esse vírus pode ser é tão ruim quanto a Ômicron ou quanto a Delta, que são duas variantes pelas quais a gente já passou. Ele não se torna um monstrinho ou uma quimera pior do que Delta ou que Ômicron. Tende a ser, do ponto de vista biológico, muito parecido com a Ômicron, mesmo nas questões de transmissibilidade e de infecção, principalmente por resultado da proteína S [spike]."
A Ômicron XF, por exemplo, não foi mais detectada no Reino Unido após um surto local em fevereiro, segundo a UKHSA (Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido).
Já a Ômicron XE é a combinação das subvariantes BA.1 e BA.2. A UKHSA estima que essa cepa seja 10% mais transmissível que a BA.2, mas um comunicado emitido pela agência em 11 de março fazia ressalvas.
"Como essa estimativa não permaneceu consistente à medida que novos dados foram adicionados, ela ainda não pode ser interpretada como uma estimativa de vantagem de crescimento para o [vírus] recombinante."
O Ministério da Saúde brasileiro confirmou nesta quinta-feira (7) o primeiro caso de uma pessoa que teve Covid-19 provocada pela Ômicron XE.
Em entrevista, o diretor de emergência da OMS no Pacífico Ocidental, Babatunde Olowokure, afirmou que, diante do cenário atual, coronavírus "recombinantes surgirão".
Segundo ele, o fenômeno "ocorre quando pelo menos duas cepas virais diferentes infectam a mesma célula e trocam genes entre elas".
"Continuamos a monitorá-los e como eles estão se desenvolvendo e se espalhando, principalmente em termos de serem mais transmissíveis ou não."