Postos fecham antes e têm confusão em vacinação contra febre amarela
Secretaria de Saúde diz que unidades devem ficar abertas de 8h às 18h
Saúde|Dinalva Fernandes, do R7*
Os moradores do entorno do Horto Florestal, na zona norte de Sâo Paulo, estão correndo atrás da vacina contra a febre amarela, após um macaco bugio ser encontrado morto dentro do parque por causa do vírus. A reportagem do R7 esteve no local na tarde desta quarta-feira (25) e verificou que, de forma geral, a imunização contra a doença está organizada. Mas houve confusão em pelo menos uma das UBSs (Unidade Básica de Saúde) devido ao horário de funcionamento. A Polícia Militar precisou ser acionada para conter o início de tumulto.
A reportagem esteve na UBS Horto Florestal, localizada na rua Luis Carlos Gentile de Laet, e presenciou, por três vezes, o fechamento da unidade.
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, as unidades devem permanecer abertas das 8h às 18h para a imunização. Porém, moradores que chegavam para se vacinar no local viram o portão se fechar às 16h40.
Inconformadas, pessoas reclamaram porques algumas já haviam sido dispensadas de outras UBSs da região que não tinham mais doses. Foi o que aconteceu com a monitora infantil Luciana Silva, de 38 anos. “Eu já tinha ido em outro posto, mas tinha acabado a vacina e vim para cá. O portão estava fechado e não iam aplicar mais hoje. Com a confusão, reabriram o portão e voltaram a vacinar. Ainda bem que consegui aqui”, diz.
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O portão foi novamente fechado às 17h20. Moradores relataram terem saído mais cedo do trabalho para tentar se vacinar, e a confusão recomeçou em frente à unidade. A coordenadora da UBS, Simone Rocha, afirmou ter restringido o horário “para que quem já estava aqui dentro seja vacinado até às 18h”.
Ficou acordado entre os funcionários e os moradores do lado de fora que, se até às 18h, terminasse a vacinação de quem já estava dentro da unidade, a campanha seria retomada para os demais. Minutos depois, algumas pessoas que aguardavam no portão conseguiram se vacinar.
Também houve princípio de tumulto pouco antes das 18h, com o novo fechamento do portão. A polícia foi chamada e, após negociação, uma funcionária informou que havia apenas dez doses. Foram priorizadas pessoas acompanhadas de crianças. Os demais voltaram para a casa.
O problema com o horário também aconteceu em pelo menos outras três UBSs. De 27 unidades que aplicariam vacinas, o R7 conseguiu contato telefônico em 13 delas, como na UBS Conjunto Ipesp que fechou as portas às 16h41.
A vacina acabou antes da hora na UBS/PSF Alpes do Jaraguá e na do Jardim Arapuã. Já na UBS Jardim Rosinha, havia doses, mas o estoque de insumos para a aplicação tinha acabado.
A Secretaria Municipal de Saúde informou que as unidades têm organizado para atender a todos que procuram pela vacinação, o que inclui a distribuição de senha próximo ao horário de fechamento. Quanto à falta de materiais, a pasta disse que sempre há reposição de insumos e vacinas. "Podem acontecer casos pontuais de desabastecimento, mas as ações estão sendo organizadas para não haver descontinuidade da vacina e dos insumos".
Conscientização no bairro
No posto do Horto, a vacinação estava demorando cerca de 15 minutos, assim como na UBS/AMA Jardim Peri, na mesma região. A manicure Genice Silva, de 22 anos, escolheu esta última por ser mais próxima da casa dela.
— Eu vim tomar a vacina para me proteger. Todo mundo lá de casa está tomando. Nos primeiros dias, a fila estava bem grande, mas hoje está tranquilo.
Eliane Lopes, de 43 anos, não pode receber a dose porque amamenta a pequena Juliana, de um mês e meio, mas levou filho mais velho, Vinícius, de 11 anos.
Nesta quinta-feira (26), será a vez de outra filha, de nove. "A gente tem medo porque não sabe como é a doença. Então é melhor se prevenir, né?".
O local também foi escolhido pela recepcionista Ana Catarina Tondin, de 33 anos. A jovem relata que já esperava que os moradores do Horto Florestal fossem chamados para campanha.
— A gente já sabia que isso iria acontecer quando começou o surto de febre amarela por causa da mata do Horto [Florestal] e só estava esperando. Tem vários macacos lá e eles são muito próximos das pessoas. Agora, as pessoas têm medo de chegar perto deles.
A reportagem viu policiais militares do lado de fora das duas unidades. Na do Jardim Peri, os funcionários estavam distribuindo senhas para agilizar o atendimento.
Vacina já na seringa
A cuidadora Francilene Mantenuto, de 45 anos, presenciou uma cena que considerou “esquisita” enquanto recebia a imunização na UBS Horto Florestal. “Eu achei bem estranho quando fui me vacinar porque a seringa já estava cheia com a vacina. Disseram que era para agilizar a fila”, afirma.
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O vice-presidente da SBIm (Sociedade Brasileira Imunizações), Renato Kfouri, explica que a recomendação é aplicar a vacina imediatamente após prepará-la. No entanto, em casos de campanha de vacinação, esse tipo de situação pode ocorrer devido ao grande número de pessoas na fila.
— Não é ideal deixar a vacina pronta, mas, em tempos em que a demanda é muito grande, pode acontecer de um funcionário preparar a vacina e outro aplicá-la. O tempo é curto, questão de minutos, então não tem problema porque esses profissionais são treinados e, não há um tempo definido para que o medicamento estrague. O que não pode é deixar a vacina pronta na seringa na geladeira e só aplicar no dia seguinte.
A secretaria reforçou que não há orientação para que isso ocorra, mas, por conta do grande volume de atendimento, o processo de aplicação está vacina está sendo agilizado excepcionalmente para maior fluidez. "Apesar de não ser padrão, o procedimento não oferece qualquer risco", completa.
* Colaborou Raquel Gamba, estagiária do R7