Quarentena deixa idoso duplamente vulnerável à depressão
Isolamento social pode ser agravante para pessoas na terceira idade, que já têm mais risco de ter a doença por causa da degeneração cerebral
Saúde|Brenda Marques, do R7
A depressão é uma doença crônica que tem como principal sintoma a perda de energia para fazer atividades do dia a dia. Ela tem causas genéticas e sociais.
Estudos mostram que pessoas idosas têm mais risco de desenvolver depressão por causa da degeneração cerebral. O quadro pode ser agravado pelo isolamento social imposto pela pandemia do novo coronavírus.
"[Ao envelhecer], o nosso cérebro começa a degenerar, ou seja, perde neurônios que são responsáveis por estimular a produção de serotonina, dopamina e endorfina", explica o professor Alberto Filgueiras, do Instituto de Psicologia da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).
Leia também: Notícias sobre covid-19 podem levar ao estresse crônico e ansiedade
Esses hormônios citados pelo especialista são conhecidos como "hormônios da felicidade". O contato com outro ser humano é essencial para produzi-los, de acordo com ele. "É cientificamente impossível ser feliz sozinho", resume.
Por isso, o isolamento social pode agravar quadros de depressão. "Idosos que residem na casa de seus filhos apresentam menores níveis de depressão", diz Filgueiras.
Nesse contexto, idosos estão duplamente mais vulneráveis à doença: por causa da degeneração cerebral e da quarentena, que deve ser ainda mais rígida, já que eles fazem parte do grupo de risco da covid-19.
Leia também: Idosos em casas de repouso falam da saudade em meio à pandemia
O geriatra Natan Chehter, da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, concorda com o professor da UERJ. "O fato de tirar essa rede de proteção pode fazer com que o idoso que já tinha depressão tenha recaída e ocorra um agravamento da doença", pondera o médico.
Percepção é mais difícil
Idosos, naturalmente, têm menos energia, por isso, pode ser mais difícil perceber que alguém nessa faixa etária está com depressão, observa Filgueiras. O especialista chama atenção para a mudança de comportamento em relação a atividades habituais.
"Se está deixando de fazer a barba, tomar banho, passa muito tempo na cama e prefere olhar o teto, pode ser que esses sinais estejam associados à depressão. Mas é importante ter a avaliação de um profissional", destaca.
Leia também: Pandemia de covid-19 faz dobrar casos de ansiedade, diz pesquisa
Chehter acrescenta que o diagnóstico de depressão precisa ser estabelecido em pelo menos três meses e que idosos podem apresentar sintomas atípicos, como diminuição do apetite, aumento ou redução do sono, dor crônica e tontura. "Tudo isso tem que ser avaliado a longo prazo", enfatiza.
Contato e terapia virtual
A depressão pode ser tratada por meio de medicamentos associados à terapia. Porém, a forma de tratamento depende muito dos sintomas de cada um, de acordo com o geriatra.
"A família tem muita importância. Se você tem um parente que é deprimido, a tecnologia pode ajudar a manter contato com essa pessoa. Mas, em casos mais graves, é necessária uma intervenção pessoalmente", analisa.
Filgueiras também avalia que a família tem papel imprescindível para diminuir o impacto da depressão e enfatiza que a interação, mesmo que virtual, é muito benéfica para amenizar os efeitos da doença na quarentena.
"O ideal é manter o contato diário virtual com a família, isso vai ajudar na produção dos neurotransmissores durante o isolamento", ressalta.
Leia também: Idosos se adaptam às novas tecnologias durante isolamento
A terapia a distância é outra aliada. Segundo ele, há pouco tempo, estudiosos da área de psicologia acreditavam que a psicoterapia on-line não era tão efetiva quanto a presencial. "Alguns ainda acreditam nisso, mas as evidências científicas sugerem que a eficácia é a mesma", esclarece.
Veja também: Saiba como é o processo para achar um remédio eficaz contra a covid-19