Remédios usados no tratamento do HIV falham contra coronavírus
Combinação das drogas lopinavir e ritonavir eram tidas como uma esperança para tratar casos mais graves de covid-19, mas estudo indica que não
Saúde|Fernando Mellis, do R7
Medicamentos contra o HIV, usados off-label (que não segue as orientações indicadas na bula), para tratar alguns pacientes com covid-19 (doença provocada pelo novo coronavírus SARS-CoV2) não se mostraram eficientes, concluiu um estudo publicado no periódico científico The New England Journal of Medicine nesta quarta-feira (18).
Não existem medicamentos específicos contra o novo coronavírus. A combinação de drogas contra o HIV era uma esperança de cientistas e médicos.
Pesquisadores da China, Reino Unido e EUA analisaram 199 pacientes com infecção por SARS-CoV2 e internados no Hospital Jin Yin-Tan, em Wuhan, na província chinesa de Hubei, entre 18 de janeiro e 3 de fevereiro.
Destes, 99 foram tratados com a combinação de drogas lopinavir/ritonavir; os outros 100 foram submetidos ao tratamento padrão, que inclui apenas medicações para os sintomas e suporte respiratório (se necessário).
"Os cuidados padrão incluíram, conforme necessário, oxigênio suplementar, ventilação não invasiva e invasiva, agentes antibióticos, suporte vasopressor, terapia de substituição renal e oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO)", diz o estudo.
No grupo submetido aos antivirais usados contra o HIV, 13 pessoas precisaram ter o tratamento interrompido por causa de efeitos adversos.
Os cientistas concluíram que "em pacientes adultos hospitalizados com covid-19 grave, nenhum benefício foi observado com o tratamento com lopinavir-ritonavir na comparação com o tratamento padrão".
No entanto, os autores do estudo afirmam que mais evidências são necessárias para tornar consenso os resultados obtidos na China.
China e Estados Unidos têm testado também um antiviral usado em pacientes infectados com o vírus ebola, o remdesivir, desenvolvido pelo laboratório norte-americano Gilead Sciences.
Não há ainda evidências claras de que esta droga, que não está disponível no Brasil, é capaz de combater o SARS-CoV2. Estudos sobre a eficácia ou não do remdesivir devem ser publicados nos próximos meses.