Saiba qual a real gravidade do ebola e a chance do vírus chegar ao Brasil
Doença é altamente contagiosa sendo transmitida, inclusive, após a morte da pessoa infectada; República Democrática do Congo passa por epidemia
Saúde|Deborah Giannini, do R7
O ebola – pronuncia-se ebóla – é uma doença febril hemorrágica que causa deterioração das condições gerais de saúde rapidamente, conforme explica o epidemiologista Juan-Carlos Cubides, da organização humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF).
Pouco conhecida pelos brasileiros, já que se dissemina de forma isolada em determinadas regiões do continente africano, como a República Democrática do Congo, que enfrenta uma atual epidemia, a doença é transmitida por um vírus altamente contagioso.
O epidemiologista explica que o contato com secreções corporais de uma pessoa infectada – suor, saliva, sêmen, fluxo vaginal e secreções nasais – ou com superfícies e utensílios que tiveram contato com essas secreções – roupas, roupas de cama e de banho, talheres e copos – podem causar a infecção.
A ebola, inclusive, continua sendo transmitido após a morte do doente. “Depois da morte, o corpo se desidrata liberando um grande fluxo de secreções. Assim, o contato com os cadáveres constitui um dos focos principais de infecção. Neste caso, há protocolos para sepultamento seguro ou incineração como uma das principais medidas para evitar o contágio”, afirma.
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Acredita-se que a transmissão inicial do ebola no continente africano se deu por meio do consumo de carne de caça de macaco e de morcego contaminada. A carne de macaco é vendida defumada nos mercados centrais da República Democrática do Congo.
De abril até o momento, 27 pessoas morreram e 58 estão com a doença nesse país da África. A epidemia atinge principalmente a cidade de Bikoro, com 200 mil habitantes, e chegou também a Mbandaka, uma cidade de cerca de 1,5 milhão de habitantes localizada às margens do rio Congo, o que foi motivo de preocupação, segundo a MSF, já que este rio é utilizado para comércio e transporte.
Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), o risco de disseminação da doença para outros países do continente africano é elevado, no entanto, o risco global ainda é considerado baixo.
Em relação ao risco de o ebola chegar ao Brasil, os especialistas afirmam que ele existe, mas é improvável que isso ocorra, neste momento. “Risco sempre existe, desde que tenha alguém lá no período de incubação da doença, mas, na prática é pouco provável”, explica o infectologista Jesse Alves, coordenador do Comitê de Medicina do Viajante da Sociedade Brasileira de Infectologia, que esteve no continente africano durante a epidemia de 2014 que afetou Libéria, Serra Leoa e Guiné, infectando 28 mil pessoas e matando 11 mil.
Cubides menciona a globalização como um fator preponderante na disseminação do vírus. “Existe uma área onde o vírus circula naturalmente, que engloba alguns países mais centrais e a oeste do continente africano. Entretanto, devido à globalização, pessoas infectadas que ainda não apresentaram sintomas podem eventualmente viajar a outras regiões transmitindo o vírus entre humanos”, afirma.
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Alves explica que, os casos que têm surgido na África, se restringem a uma área limitada – cidades remotas – com pouca chance de os habitantes desses locais realizarem viagens internacionais. “Portanto, não enxergo risco neste momento”.
Segundo ele, os profissionais de saúde estrangeiros, que trabalham no local e que devem retornar a seus países de origem, seguem um protocolo rígido de segurança com uso de luvas, máscaras e roupas impermeáveis que impedem o contato com secreções de pacientes.
“O problema é quando não se sabe que a pessoa tem a doença. Geralmente são os profissionais de saúde locais que correm mais risco de contágio porque entram em contato com pessoas que ainda não têm suspeita de ebola. Foi isso o que aconteceu em 2014”, diz Alves.
A sintomas do ebola podem se manifestar em até 21 dias. Os homens, mesmo após a cura da doença, carregam o vírus no sêmen por ao menos seis meses.
Existe cura para o ebola
Os primeiros sintomas do ebola são os mesmos da dengue, malária, febre amarela, febre tifoide e muitas outras doenças: febre, dor no corpo, dor de cabeça e mal-estar. A diferença é que esse quadro evolui rapidamente para náusea, vômitos e diarreia e, eventualmente, sangramento.
Segundo o infectologista, o diagnóstico não pode ser obtido apenas por meio de exame clínico, é preciso um teste de sangue. Já existe uma vacina experimental que está sendo utilizada no Congo. A vacinação teve início na última segunda-feira (21) e 7,5 mil pessoas já foram imunizadas.
A doença é considera sistêmica, ou seja, afeta todo o organismo, provocando um desequilíbrio hidroeletrolítico, queda dos níveis de hidratação e de eletrólitos corporais, como sódio, cálcio, potássio e magnésio, principal causa de morte, segundo Alves. “Podem surgir ainda complicações no decorrer da doença, como infecções bacterianas”.
Outra caraterística da doença é a deficiência na coagulação, que pode resultar em sangramentos espontâneos. “Mas isso não ocorre na maioria das pessoas”, diz.
A mortalidade do ebola é de cerca de 50%. Muitos passam por ela e se curam. Não existe remédio específico para a doença. O tratamento tem o objetivo de cuidar dos sintomas, como conter a desidratação, para que o próprio corpo consiga reagir, segundo o MSF.
“O problema em países pobres como esses e que não há UTI para garantir a sobrevivência desses indivíduos. Isso faz toda a diferença no tratamento”, afirma Alves.
“Quando estive na Libéria o que mais me impressionou foi a falta de recurso. Por que essas doenças começam nessas regiões tão pobres da África? Não se consegue identificar precocemente os casos de ebola e as pessoas voltam para casa, infectando familiares. Além disso, as condições precárias não permitem um tratamento adequado para o equilíbrio da perda de hidroeletrolítico. O índice de sobrevivência entre os estrangeiros que tiveram ebola e voltaram para seus países de origem é muito maior”, conclui.