Sente muito sono durante o dia? Problema pode comprometer memória e concentração
Especialista explica quais são as principais características da chamada sonolência diurna e por que ela acontece
Saúde|Yasmim Santos*, do R7
Sentir uma vontade irresistível de dormir durante o dia e enfrentar pequenos ataques de sono ao realizar as atividades diurnas pode ser um sinal de sonolência excessiva. A situação, além de incômoda, pode trazer danos à saúde.
Lidar com o sono após dormir mal ou pouco na noite anterior, próximo ao horário de dormir e depois do almoço, por exemplo, são situações comuns. Porém, quando a sonolência passa a atrapalhar a rotina, deve se tornar uma preocupação.
"Quando começa a atrapalhar o dia, quando a pressão do sono — vontade de dormir — é irresistível durante a vigília [período diurno] e você acaba não conseguindo se manter acordado, é excessivo", explica o biomédico Guilherme Luiz Fernandes, pesquisador do Instituto do Sono.
Essa interferência no cotidiano é o principal sinal de que a sonolência atingiu níveis excessivos. Se isso se repetir por mais de três vezes na semana também é um alerta.
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Segundo o Episono (Estudo Epidemiológico do Sono), apenas em São Paulo, 9% da população sente sonolência durante as atividades diurnas.
Uma das possíveis causas para isso é o cronotipo, que é a preferência de um indivíduo por determinados horários.
"Se, por acaso, você é uma pessoa que gosta de dormir e acordar mais cedo e tem que trabalhar, estudar, fazer qualquer outra coisa no horário diferente do seu ideal, isso pode acarretar sonolência excessiva", diz Fernandes.
Os distúrbios do sono, como a apneia obstrutiva do sono, além de atuarem como um fator de risco para diversas condições, estão ligados à sonolência diurna.
Pessoas com transtorno psicológico diagnosticado, como depressão, têm como sintomatologia a sonolência. Segundo o biomédico, "ela dorme muito e ainda continua sonolenta durante o dia".
No entanto, de forma geral, independentemente da causa, a sonolência diurna excessiva pode agravar a saúde e merece um cuidado especial.
"[Pode afetar] seu desempenho no trabalho e no estudo. Ela vai atingir sua memória, por exemplo, sua capacidade de concentração em uma atividade que, talvez, seja monótona. Isso tudo vai prejudicando o seu rendimento", relata Fernandes.
Funcionários que operam máquinas, trabalhadores da área da saúde com carga horária estendida durante a noite e aqueles que trabalham por turno, por exemplo, lidam com horários diferentes e podem enfrentar uma queda na produtividade, na eficiência e na retenção de informação em decorrência do excesso de sono no dia.
Para os estudantes, essa sonolência pode prejudicar o desempenho em testes.
Segundo o pesquisador do Instituto do Sono, há estudos que relacionam a sonolência diurna ao aumento do risco de declínio cognitivo e doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer.
Uma pesquisa publicada no periódico Sleep, em 2018, mostrou que adultos com sonolência diurna excessiva tinham quase três vezes mais risco de ter acúmulo de placas beta-amiloide no cérebro, proteína associada à doença de Alzheimer.
Essa condição também facilita a incidência de acidentes no trânsito. De acordo com dados da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego), o sono é uma das principais condições de saúde responsáveis por acidentes de trânsito nas rodovias do Brasil.
Prevenção
Para evitar todas essas situações, exceto os distúrbios do sono e os transtornos psicológicos, que necessitam de cuidados especiais, manter uma boa higiene do sono é fundamental.
"Tentar dormir e acordar em horários similares todas as noites, tentar sempre dormir o suficiente — então, se a pessoa tem uma necessidade de dormir por oito horas, que ela durma as oito horas", exemplifica o biomédico.
E acrescenta: "Não utilizar celular antes de dormir, porque a luz dele, principalmente a azul, tem um efeito inibidor no hormônio promotor do sono, a melatonina. Evitar atividades físicas excessivas perto do horário de dormir, refeições muito pesadas próximas ao horário de dormir e usar a cama apenas para dormir e para sexo".
O ideal também seria deitar na cama tendo apenas em mente a vontade de pegar no sono, ou seja, não carregar preocupações nem pensar nas tarefas do próximo dia quando estiver deitado. O ambiente, por sua vez, deve ser silencioso e escuro.
Para as pessoas que têm dúvida se enfrentam uma sonolência diurna excessiva ou não, a escala de sonolência de Epworth pode ser uma aliada. A ferramenta determina o grau de sonolência durante o dia de acordo com a probabilidade de aquele indivíduo adormecer em oito situações cotidianas, como sentado no carro em um trânsito.
Porém, o resultado deve ser interpretado por um profissional médico, para entender o contexto da sonolência e avaliar o restante do quadro clínico.
"Dormir é uma parte integral do nosso funcionamento como seres humanos, é uma parte essencial da nossa saúde, então é necessário prestar atenção ao sono", finaliza Fernandes.
* Estagiária do R7, sob supervisão de Fernando Mellis
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