Surto de hepatite A: "Fraqueza me impedia até de tomar banho”
São Paulo registrou mais de 500 casos desde janeiro; conheça os sintomas
Saúde|Dinalva Fernandes, do R7
Febre, dores e, principalmente, náuseas. Foi com esses sintomas que a desenhista e estudante universitária Milena Duran, de 31 anos, perambulou por prontos-socorros e consultórios durante quatro dias. Entre falsos diagnósticos de virose, ela só descobriu que sofria com hepatite A quando consultou um médico particular.
— Eu acordei com dor, febre e calafrios. No dia seguinte, não queria comer nada porque estava com muita náusea e vômito. Foi em um posto de saúde, onde disseram que eu estava com virose e me medicaram. Voltei para casa e não melhorava nada, mesmo com a medicação. Fiquei indo em vários médicos por quatro dias antes de descobrir o que realmente tinha.
A doença já acometeu 394 casos no Estado de São Paulo, segundo a Secretaria Estadual de Saúde, frente 154 diagnósticos do ano passado. Já a capital paulista, vive um surto de hepatite A, com 517 casos registrado entre janeiro a setembro, afirma a Secretaria Municipal de Saúde. O aumento foi de mais de 700%, pois o número foi de 64 casos no ano passado.
Moradora de Penápolis, no interior de São Paulo, Milena se consultou com um gastroenterologista após a tia dela desconfiar de que se tratava de algum problema no fígado. Ela conta que não ficou com a pele ou olhos amarelados, que são alguns dos sintomas clássicos da doença.
— Eu achava que se tratava de alguma intoxicação alimentar. A gente nunca imagina que é uma doença séria como essa. O médico pediu vários exames e um deles detectou a hepatite. Como ele conhecia a minha família, deixou que eu ficasse em casa, sem precisar permanecer em isolamento, como acontece com muitos pacientes. Mas tivemos que adaptar tudo em casa.
Milena revela que os talheres, a roupa de cama e os objetos particulares dela foram separados dos do resto da família, inclusive na hora da lavagem, para evitar mais contágio.
— Eu tive que ficar de repouso absoluto, não podia me levantar nem carregar peso. Durante oito dias não consegui comer nada e emagrecei mais de 5 kg. Só ficava de barriga para baixo porque sentia muita náusea e chupava picolé de limão, que era a única coisa que não me fazia mal. Fiquei tão fraca que não conseguia nem levantar para tomar banho, que era dado pela minha mãe. Não desejo isso para ninguém.
O tratamento durou um mês, mas Milena conta que os sintomas persistiram, mesmo após a eliminação do vírus.
— Eu fiquei 15 dias em repouso, mas, mesmo após ter voltado à minha rotina normal, ainda não podia carregar peso. Depois de um mês, refiz o exame que indicou que eu já estava curada. Porém, passei por uma espécie de reeducação alimentar depois disso. Voltei a comer aos pouquinhos porque ainda me sentia enjoada, já que o fígado estava fragilizado. Só depois uns cinco meses voltei ao normal.
Milena ficou doente em 2010, aos 24 anos, mas até hoje toma precauções por causa do trauma da hepatite.
— Fiquei meio neurótica com a higiene. Na época em que fiquei doença achamos que eu tinha sido contaminada após comer um queijo vendido por um senhor que passava na minha rua. Então, quando foi a bares, por exemplo, sempre passo guardanapo nos talheres e nos copos, e presto mais atenção onde compro os alimentos.
A hepatite A é causada por um vírus que provoca a destruição das células do fígado, explica o infectologista do Hospital Villa-Lobos, Cláudio Roberto Gonsalez.
— Essa infecção do fígado leva a sintomas como icterícia — coloração amarela da pele —, diarreia, dor abdominal, vômito e febre. Não há um remédio que atue diretamente contra a hepatite A, o organismo é quem faz sua defesa e acaba com o vírus.
As formas de transmissão da doença incluem o contato com alimentos e água contaminados e atividade sexual.
Doença pode ser fatal
A funcionária pública Idamara Oliveira, de 49 anos, sabe bem o que são os sintomas da doença. Ela ficou doente aos 15 anos, poucos meses depois de perder a irmã mais nova, aos quatro anos, para a mesma doença.
— A minha irmã pegou hepatite A na creche há 34 anos. Na época, descobriram que a água estava contaminada, mas o a doença já estava avançada. Ela chegou a ser internada, mas morreu. Vistoriaram o apartamento onde a gente morava para ver se encontravam algum foco, e nada. Porém, depois de um ano eu fiquei doente.
Idamara ficou internada em isolamento durante um mês, só se alimentando de alimentos pastosos, sem açúcar ou sal. A alimentação era complementada com balinhas doces.
— Os médicos diziam que as balinhas doces fortaleciam o fígado, mas eu não conseguia comer. Tudo que comia colocava para fora. Nada parava no meu estômago. Fiquei com os olhos, a pele e a urina amarelados, e perdi muito peso.
Mesmo após tantos anos, a funcionária pública acredita que o fígado dela nunca mais foi mesmo após a hepatite.
— Meu organismo demorou para se recuperar. Até hoje sinto meu fígado fraco, principalmente se bebo qualquer coisa ou como algum alimento mais gorduroso.