Transtorno faz com que pessoas não consigam parar de se cutucar
Distúrbio é relativamente novo entre médicos e psicólogos, mas estima-se que atinja 3,4% da população, o que equivale a 7 milhões de brasileiros
Saúde|Fernando Mellis, do R7

Cutucar a pele de maneira repetitiva a ponto de provocar lesões caracteriza um tipo específico de distúrbio psiquiátrico chamado dermatotilexomania ou transtorno de escoriação.
A classificação desse problema no Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) é recente, de 2013. Esse é um dos motivos que fazem com que o transtorno de escoriação ainda seja pouco compreendido, até mesmo entre profissionais da saúde.
De acordo com o DSM-5, "os locais mais comumente beliscados são rosto, braços e mãos, porém, muitos indivíduos beliscam múltiplas partes do corpo. Podem beliscar pele saudável, irregularidades menores na pele, lesões como espinhas ou calosidades ou cascas de lesões anteriores. A maioria das pessoas belisca com as unhas, embora muitas usem pinças, alfinetes ou outros objetos. Além de beliscar a pele, pode haver comportamentos de esfregar, espremer e morder."
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Autor de um estudo de mestrado sobre o tema, o psicólogo Daniel Carr Ribeiro Gulassa, do IPq (Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP), explica que alguns fatores são usados para fechar o diagnóstico do transtorno de escoriação.
"A pessoa precisa cutucar a pele resultando em lesões clinicamente verificáveis; precisa ter tentado cessar ou diminuir o comportamento sem sucesso; precisa gerar sofrimento significativo; e prejudicar alguma área social da vida dela. Além disso, o ato de se cutucar não pode ser justificado por problemas dermatológicos, uso de remédios ou drogas e também não pode ser explicado por outro transtorno mental."
Segundo o psicólogo, um estudo feito em 2018 mostra que 3,4% da população brasileira, ou seja, cerca de 7 milhões de pessoas, sofrem com esse tipo de transtorno. É comum que elas apresentem também ansiedade ou depressão.
O transtorno de escoriação pode surgir acompanhado de outros comportamentos repetitivos focados no corpo — como a tricotilomania (arrancar pelos e cabelos) e a onicofagia (roer unhas). Os hábitos de morder lábios e bochechas, embora não classificados como distúrbios específicos, também podem estar presentes.
Alguns pacientes nem sequer percebem que se cutucam, que é a forma de manifestação automática do distúrbio. Por outro lado, existem pessoas que tiram um momento do dia para se beliscar (tipo focado). Há também o tipo misto, que varia entre consciente e inconsciente das lesões autoinduzidas.
Parentes e amigos que percebem esse comportamento podem ajudar. No entanto, repreender tende a ser pior em muitos casos, explica Gulassa.
"A própria pessoa sofre por não entender por que ela faz isso. [...] As pessoas chegam ao consultório, em geral, com muita raiva e frustração de serem chamadas atenção. Ao longo do processo terapêutico a gente vai trabalhando que as pessoas que chamam atenção são as mais preocupadas com elas, mas a forma como chamam atenção é de uma maneira que não favorece a ajuda."
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Fundo emocional
Em comum, os pacientes portadores desse tipo de distúrbio têm dificuldades em lidar com as emoções, explica o psicólogo do IPq.
"São pessoas de maneira geral bastante perfeccionistas, com expectativa de produtividade muito alta, não se permitem muito descansar e têm dificuldade em planejar e executar tarefas. Esses ingredientes são um convite à frustração, porque elas costumam ter um perfil controlador."
Gulassa acrescenta que o hábito de se cutucar é, mesmo sendo inconsciente, uma maneira de a pessoa sentir "como se estivesse fazendo alguma coisa até mesmo quando está descansando".
"Ela encontra uma saliência na pele, isso incomoda. Quando ela tira aquilo, é como se ela tivesse resolvido um problema. [...] Todo mundo faz vez ou outra isso, mas nesses casos, ocupa um longo período do dia. Tem gente chega a passar a noite se cutucando."
O psicólogo chegou a resultados positivos ao desenvolver terapia de grupo com pacientes com transtorno de escoriação. Ele avalia que a possibilidade de falar sobre o problema e ouvir pessoas que vivem uma situação semelhante é algo muito significativo durante o tratamento.
Apesar disso, a terapia individual também pode fazer parte do tratamento. Em alguns casos, o uso de medicamentos é associado à psicoterapia.
A principal recomendação de Gulassa é que pessoas com o transtorno de escoriação não façam tratamentos dermatológicos agressivos na expectativa de melhorar as lesões na pele. O fundamental, segundo ele, é antes de qualquer coisa buscar ajuda psicológica.
"A cutucação é uma manifestação de que algo não está sendo percebido, tampouco sendo saudavelmente cuidado na vida daquela pessoa. Um exercício constante de parar e prestar atenção em como você está se sentindo é um instrumento muito importante para todos nós. Você tem uma informação que pode te explicar o que você precisa."
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Na sexta-feira (12), o humorista publicou um desabafo no Twitter. "Eu queria conversar com meus fãs das antigas, com as pessoas que por algum motivo gostam de mim, sobre o que está acontecendo comigo, eu tive que tomar muita coragem para vir aqui. Mas ...
Na sexta-feira (12), o humorista publicou um desabafo no Twitter. "Eu queria conversar com meus fãs das antigas, com as pessoas que por algum motivo gostam de mim, sobre o que está acontecendo comigo, eu tive que tomar muita coragem para vir aqui. Mas eu apesar de tudo de bom que vem acontecendo comigo, com tudo que já conquistei, eu me sinto há alguns anos triste. Eu sinto um angústia todos os dias, todos os dias, algumas risadas, algumas brincadeiras e depois lá estou eu de novo com esse sentimento ruim. Me sinto mal por não poder me ajudar, mesmo eu às vezes ajudando alguém, eu procuro ajuda nos amigos, na família, mas eu me sinto tão triste, tão triste", iniciou o youtuber mais famoso do Brasil









