Remoção de mioma, trombose e amputações: saiba mais sobre o que levou MC Katia à morte
A cantora, de 47 anos, era fumante havia muitos anos e já se queixava de problemas de saúde
Saúde|Do R7
A morte da funkeira MC Katia, aos 47 anos, chamou atenção devido a uma série de complicações de saúde que ela enfrentou desde meados de junho, quando foi internada para a retirada de um mioma de 5 kg.
Ele foi classificado como "um tumor benigno, composto de tecido muscular e fibroso, localizado no útero", segundo o Manual MSD de Diagnóstico e Tratamento.
Desde que deu entrada em um hospital público do Rio de Janeiro para a cirurgia, Katia, considerada uma pioneira no funk, enfrentou diversos problemas, que incluíram trombose e duas amputações.
A trombose é descrita pelo guia médico como a formação de coágulos de sangue (trombos) nas veias profundas, geralmente acometendo as pernas.
O cirurgião ginecologista Thiers Soares, especialista em endometriose, adenomiose e miomas, explica que o mioma pode causar trombose de forma direta, mas é algo raro.
"Existem estudos que mostram que o útero acima de 1 kg [devido ao mioma] tem até quatro vezes mais chances de uma trombose do que um útero menor. [...] Tem que ser um mioma volumoso, porque ele faz uma compressão dos vasos da pelve, ou da veia cava inferior, e isso causa uma estase — o sangue tem dificuldade de retornar para o coração, acumula ali —, e uma das características para ocorrer a trombose é justamente uma estase venosa."
Durante a internação, a cantora falou sobre o arrependimento de ter fumado durante 30 anos — segundo ela, até dois maços por dia.
"O cigarro fez isso comigo. Eu peço a vocês de coração, se vocês fumam, parem enquanto há tempo. O cigarro levou o meu pé. O cigarro me fez perder o pé", falou, no Instagram.
"Estou sentindo muita dor no pé. É uma sensação de queimação e dor intensa. Estou urinando e evacuando em quantidades reduzidas. Há semanas não durmo por causa da dor. Não posso tomar nenhum medicamento anti-inflamatório ou antibiótico, pois isso prejudicaria ainda mais meus rins. Além disso, estou com trombose", contou em outra ocasião.
O angiologista e cirurgião vascular Vinicius Bertoldi, vice-diretor de Defesa Profissional da SBACV-SP (Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular — Regional São Paulo), afirma que o tabagismo e as consequências dele foram cruciais para o desfecho ruim na cirurgia da funkeira.
As queixas de dores nos pés e dificuldade para caminhar, de acordo com Bertoldi, já eram um indicativo de tromboangeíte obliterante.
"[Essas dores nos membros inferiores] sugerem uma doença arterial em um estágio mais importante. O que pode acontecer, no caso, é um procedimento cirúrgico levar a uma descompensação dessa doença que ela já tinha. A cirurgia agravou essa má circulação", ressalta.
De acordo com o Manual MSD, "pouco se sabe sobre a relação entre o tabagismo e a tromboangeíte obliterante, e a causa da doença é desconhecida. Uma teoria afirma que o tabagismo desencadeia a inflamação e o estreitamento (contração) das artérias. Entretanto, apenas uma pequena parcela dos fumantes desenvolve tromboangeíte obliterante. Algumas pessoas podem ser mais suscetíveis do que outras por razões ainda desconhecidas. No entanto, a tromboangeíte obliterante piora invariavelmente em pessoas que continuam fumando, e a amputação é comumente necessária".
Os dois médicos ressaltam que o fato de uma mulher ter um mioma não a deixa em risco de ter um membro amputado. Eles entendem que o que aconteceu com a funkeira foi um conjunto de fatores negativos.
O mioma, adiciona Soares, tem prevalência de 80% na população. "A maioria não precisa operar."
"Ela já tinha uma doença de base grave, apresentava um sintoma disso, que era a dor para caminhar. A cirurgia do mioma não tem uma ligação direta com a evolução do quadro dela. Isso poderia ocorrer de uma forma ou de outra, por se tratar de uma doença arterial de base grave, provocada pelo cigarro. Cirurgias de mioma ou quando precisa tirar o útero são feitas de forma rotineira, com baixíssimos riscos de complicação", observa o angiologista.
Mioma
Soares acrescenta que hoje existem métodos de cirurgia minimamente invasiva, por meio de robôs e videolaparoscopia, que garantem muito mais segurança na remoção de miomas.
Ainda assim, é necessário que o médico avalie, caso a caso, se realmente existe a necessidade de operar.
Os sintomas que devem ser observados são: dor, sangramento vaginal anormal, constipação, repetidos abortos espontâneos e vontade de urinar com frequência ou urgência.
Miomas grandes podem causar o aumento do abdômen. Nos casos em que estão maiores, pode ser necessário fazer a remoção do útero.
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