Vacina da Pfizer é mais rápida a ser aprovada na história
Entenda como empresas conseguiram em poucos meses desenvolver, testar e submeter a órgãos reguladores imunizante contra a covid
Saúde|Fernando Mellis, do R7
As empresas BioNTech (Alemanha) e Pfizer (EUA) conseguiram nesta quarta-feira (2) um feito histórico: desenvolveram e obtiveram aprovação de uma vacina em tempo recorde, menos de um ano.
O Reino Unido foi o primeiro país do mundo a autorizar o uso emergencial da BNT162, nome da vacina contra a covid-19 fabricada pelas duas companhias.
O órgão regulador de drogas e alimentos dos Estados Unidos (FDA) se reunirá no próximo dia 7 para analisar o pedido de registro.
O curto espaço de tempo entre o surgimento da doença e a disponibilidade de uma vacina contra ela é motivo para alguns criarem as mais absurdas teorias da conspiração.
No entanto, isso só é possível pela existência de alguns fatores.
1. Pandemia requer trabalhos acelerados
A covid-19 parou o mundo. Desde fevereiro, milhares de voos foram cancelados, empresas fecharam, hospitais ficaram sobrecarregados, pessoas foram forçadas a ficar dentro de casa.
Sem contar a tragédia humanitária, com mais de 1,4 milhão de mortes e pessoas recuperadas com sequelas.
A ciência precisou dar uma resposta nunca antes vista para um problema de saúde pública global também jamais vivenciado por algumas gerações.
O novo coronavírus (SARS-CoV-2) foi detectado na cidade chinesa de Wuhan, em meados de dezembro de 2019 — embora haja pesquisas para saber a real origem dele.
Em 12 de janeiro de 2020, a China já havia disponibilizado a sequência genética do vírus, algo que permitiu a cientistas de todo o mundo estudá-lo, inclusive para o desenvolvimento de vacinas.
2. Domínio de novas tecnologias
Ainda em janeiro, a empresa alemã de biotecnologia BioNTech, sediada em Mainz, lançou o projeto "Lightspeed" (velocidade da luz, em português).
A companhia é especializada na tecnologia de RNA mensageiro para doenças infecciosas e iniciou o desenvolvimento da vacina assim que a China publicou o código genético do SARS-CoV-2.
Nesta fase, os cientistas selecionaram qual candidato a imunizante seria mais adequado, começaram os estudos em animais, testes de toxicidade e os estudos de boas práticas de fabricação.
Mais uma vez, todo o trabalho foi feito simultaneamente, antes mesmo de a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarar que a covid-19 havia se tornado uma pandemia.
A tecnologia escolhida pela BioNTech nunca foi usada para vacinas no mundo, mas não por falta de interesse — a empresa estuda imunizantes de RNA mensageiro contra gripe, por exemplo.
O método dispensa a manipulação de vírus, como ocorre em vacinas tradicionais, que os atenuam ou inativam.
O RNA mensageiro (RNAm) consiste em uma molécula produzida em laboratório que simula o material genético do SARS-CoV-2, mas é incapaz de causar doença, apenas ativa o sistema imunológico ao ser inserida e o faz produzir anticorpos contra esse vírus específico.
Uma vez que o indivíduo tenha contato com o SARS-CoV-2, há grandes chances de que o organismo combata o agente invasor antes que ele cause a covid-19.
3. Parcerias e investimentos público e privado
O sucesso da BioNTech dificilmente teria sido atingido sem acordos comerciais — com a chinesa Fosun (16 de março) e com a gigante norte-americana Pfizer (17 de março).
A Pfizer já era parceira da BioNTech desde 2018 no desenvolvimento de uma vacina de RNAm para influenza.
O acordo de março permitiu às duas companhias planejar o desenvolvimento global (exceto na China, devido ao acordo com a Fosun) do imunizante.
Além do capital e expertise do setor privado, a empresa recebeu também financiamento do governo alemão: 375 milhões de euros (cerca de R$ 2,37 bilhões).
4. Vírus em circulação abundante
Os primeiros testes em humanos tiveram início em 23 de abril, na Alemanha, e no dia 4 de maio nos Estados Unidos. Quatro formatos da vacina foram aplicados em 500 voluntários nas fases 1 e 2.
Estas etapas costumam ser feitas separadas, mas a pandemia permitiu que os processos fossem aprimorados e os dados analisados simultaneamente.
Os primeiros resultados da fase 1 foram divulgados em julho na Alemanha e nos EUA. No mesmo mês, a Pfizer iniciou o recrutamento de 43,5 mil voluntários em 154 centros de pesquisa nos Estados Unidos, Argentina, Brasil, Alemanha, África do Sul e Turquia.
A abundante circulação do SARS-CoV-2 em alguns locais permite que mais pessoas do grupo estudado sejam infectadas em um curto espaço de tempo, o que é fundamental para avaliar uma vacina.
Foi graças a esse padrão de transmissão do vírus, principalmente nos Estados Unidos, que a Pfizer conseguiu o número mínimo de pessoas com covid-19 para concluir a terceira fase de testes, no último dia 18.
A constatação foi de que a vacina tem 95% de eficácia contra o novo coronavírus. Isto porque, entre os que receberam o imunizante, apenas 5% contraíram a doença. Os demais que foram infectados estavam no grupo de voluntários que receberam placebo.
As duas empresas preveem a produção de 1,3 bilhão de doses da vacina em 2021, algo capaz de garantir a imunização de aproximadamente 650 milhões de pessoas.
Saiba mais sobre as vacinas contra covid-19 testadas no Brasil:
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