Variante de coronavírus no Brasil deve aumentar internações
Maior transmissibilidade da cepa faz com que mais pessoas sejam infectadas, o que aumenta o número de casos graves, afirma especialista
Saúde|Brenda Marques, do R7
O Brasil registrou nesta segunda-feira (4) os dois primeiros casos da variante do novo coronavírus que foi identificada inicialmente no Reino Unido. As infecções foram confirmadas no na cidade de São Paulo. Por ser mais transmissível, a nova cepa pode aumentar o número de internações no país, de acordo com o infectologista Rodrigo Molina, consultor da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) e professor da Universidade Federal do Triângulo Mineiro.
Segundo o governo britânico, a variante pode ser até 70% mais contagiosa. "Como você vai aumentar o número de pessoas que vão adquiri-lo [o coronavírus], haverá mais casos graves. Isso gera um problema muito grande na ocupação de leitos. Então, a maior transmissibilidade causaria, indiretamente, mais mortes", afirma Molina.
"O que eu fico com mais medo é que agora, por causa das festas, há uma chance grande de propagação dessa nova variante", destaca.
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O especialista explica que qualquer vírus pode sofrer diversos tipos de mutações, o que faz com que ele se torne mais infeccioso ou mais capaz de provocar doença - é a chamada virulência. Entretanto, ele acrescenta que não há comprovação científica de que a nova linhagem do coronavírus, chamada de B.1.1.7, seja por si só mais virulenta e, portanto, mais letal.
Também não é possível assegurar que essa nova cepa se dissemina mais rápido entre crianças, embora pesquisadores do Reino Unido, tenham levantado essa hipótese. Molina pondera que essa possibilidade pode ser apenas uma dentre as várias explicações para sua maior transmissibilidade na população em geral.
"Pode ser que a pessoa produza mais vírus depois de ser infectada por essa variante, assim ela poderia infectar mais gente", exemplifica. "Porém, a quantidade de vírus [no organismo] não está relacionada com a gravidade da doença", acrescenta.
O infectologista observa que mudanças genéticas como essa já´eram esperadas, pois todos os vírus respiratórios, como é o caso do novo coronavírus, tendem a sofrer maior quantidade de mutações, contudo, se comparado ao influenza, o causador da covid-19 tem uma taxa muito menor de variações.
Ele também faz uma comparação com o vírus da Aids, que é sexualmente transmissível. "A taxa de mutação do novo coronavírus é um terço da do HIV".
Ainda de acordo com o consultor da SBI, a variante que veio do Reino Unido não interfere na eficácia de vacina porque, nesse caso, as alterações não ocorreram na estrutura do coronavírus. "O que as vacinas usam para induzir resposta imune ainda está presente nessa variante", afirma.
As primeiras análises da cepa B.1.1.7 identificou 17 mudanças importantes, sendo algumas na proteína spike, que as vacinas da Pfizer, Moderna e Oxford estimulam o sistema imune a atacar. Contudo, esse ataque se direciona a diversas partes, por isso as autoridades de saúde apostam que o poder de proteção desses imunizantes não será afetado.
Molina enfatiza, por sua vez, que uma outra variante diferente desta pode aparecer e ser resistente a vacinas. Esse, inclusive, é o temor de cientistas britânicos em relação à linhagem identificada na África do Sul.
"Por isso as pessoas precisam continuar adotando as medidas de prevenção, como higiene das mãos, uso de máscara e distanciamento social. Ou seja, fazer tudo ao contrário do que foi feito agora no final do ano", aconselha o professor.