Variante entrou há pouco tempo no Brasil, diz pesquisadora da USP
Ester Sabino, uma das responsáveis pelo estudo que identificou a nova cepa do coronavírus, em SP, conta detalhes da mutação
Saúde|Ricardo Pedro Cruz, do R7
A nova variante do coronavírus identificada em dois pacientes, em São Paulo, provavelmente está circulando há pouco tempo no Brasil. A análise é da pesquisadora Ester Sabino, do IMT-FMUSP (Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo), uma das responsáveis pelo sequenciamento genético que detectou pela primeira vez a cepa no Brasil, a mesma encontrada no Reino Unido.
"Provavelmente, essa variante entrou recentemente no país. Podem existir outras, mas o mais provável é que tenha sido uma coisa recente. Como todo mundo está detectando em outros países. Já foi detectado em 18 países, além do Brasil. Não tem nada de muito diferente do que está acontecendo no restante do mundo", explicou.
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De acordo com a pesquisadora, há mais de 800 variantes do coronavírus em todo o mundo. Só no Brasil, por exemplo, já são mais de 42. Entretanto, a descoberta inicialmente na Inglaterra apresenta um ritmo acelerado de multiplicação. "O Reino Unido percebeu que uma delas, que é essa B.1.1.7, tinha um crescimento mais rápido que as demais que estavam lá, e estava tomando conta da pandemia naquele país."
Embora ainda não existam estudos conclusivos sobre o assunto, as informações preliminares indicam que, provavelmente, a nova variante seja a mais contagiosa até o momento. "Essa cepa está sendo considerada a mais contagiosa porque os dados epidemiológicos feitos na Inglaterra detectaram que ela estava crescendo muito rapidamente. Foi isso que fez com que eles achassem que ela fosse mais contagiosa. Ainda não existem estudos claros, laboratoriais, que comprovem isso, mas os dados epidemiológicos são muito sugestivos", completou.
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A pesquisadora do Instituto de Medicina Tropical da USP ressalta, no entanto, que tudo indica que as vacinas produzidas até o momento também sejam capazes de frear a transmissão. Há uma expectativa pela realização e divulgação de estudos mais detalhados sobre a resposta dos principais imunizantes. "Tudo sugere que essa cepa vai ser neutralizada pelo soro de pacientes vacinados, mas nós ainda não temos certeza."
Ester Sabino, que também foi responsável por coordenar o primeiro sequenciamento genético do novo coronavírus, no início da pandemia no Brasil, é categórica ao defender a importância dos estudos para a identificação de alterações importantes que, em suposição, possam inibir a ação de um imunizante.
"O sequenciamento ajuda exatamente a gente entender, classificar as variantes, monitorar para o surgimento de variantes que tenham alterações importantes que possam inibir uma vacina. É uma forma também de detectar variantes que possam não ser detectadas pelos testes atuais. Então, é algo que a gente tem que fazer de forma rotineira, por muitos grupos, porque é bastante esforço de todos os grupos científicos".