Cientistas realizam 1ª conexão sem fio entre cérebro e computador
Pacientes com paralisia poderão usar tablet e outros eletrônicos apenas com transmissores presos no topo da cabeça
Tecnologia e Ciência|João Melo, Do R7*
Cientistas da Universidade de Brown, em Rhode Island, nos Estados Unidos, desenvolveram um sistema que permitiu, pela primeira vez, conectar o cérebro de um paciente com paralisia a um tablet sem precisar de um fio. O estudo foi publicado no IEEE Xplore.
No lugar dos cabos, normalmente usados para transmitir sinais de sensores do cérebro para computadores, os pesquisadores utilizaram um pequeno transmissor que fica no topo da cabeça do usuário. Com aproximadamente 5 centímetros e pesando 42 gramas, o dispositivo se conecta a um conjunto de eletrodos localizados no córtex motor do indivíduo.
Dois voluntários com paralisia participaram dos testes clínicos do dispositivo e os resultados mostraram que eles conseguiram digitar e clicar em elementos apresentados em um tablet à distância. O estudo revelou também que o sistema transmite os sinais cerebrais com a mesma fidelidade dos modelos anteriores que necessitavam de fios.
Os dois participantes testaram o equipamento em suas casas durante 24 horas e, no lugar dos cabos, eles foram conectados aos tablets através de conexão wireless. Assim, os cientistas conseguiram coletar dados importantes, inclusive enquanto os voluntários estavam dormindo.
“Demonstramos que este sistema sem fio é funcionalmente equivalente aos sistemas com fio que têm sido o padrão no desempenho das ICMs ao longo dos anos. A diferença é que as pessoas não precisam mais estar fisicamente presas ao nosso equipamento, o que abre novas possibilidades em termos de como o sistema pode ser usado”, disse John Simeral, membro do BrainGate e professor assistente de engenharia na Universidade de Brown, em comunicado divulgado pela instituição.
As tecnologias que promovem a comunicação direta entre pessoas e dispositivos externos são conhecidas como ICMs (Interfaces cérebro-máquina), e fazem com que indivíduos com algum tipo de paralisia ou algum grau de comprometimento nos movimentos consigam digitar em computadores e manipular próteses robóticas, por exemplo.
O projeto foi produzido pelo BrainGate que desenvolve tecnologias que auxiliam pessoas com doenças neurológicas ou perda de membros a restabelecer a comunicação e a mobilidade. Entre os profissionais envolvidos na pesquisa estavam neurocientistas, engenheiros e cientistas da computação.
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Útil na pandemia
O sistema também se mostrou importante por conta da pandemia causada pelo coronavírus e a consequente necessidade de realizar distanciamentos sociais. Os médicos não conseguiam mais estar sempre em contato com seus pacientes, e a tecnologia oferece maior autonomia a eles por não necessitar de fios conectados a computadores.
"Em março de 2020 ficou claro que não seria possível visitar nossos pacientes em suas casas. A partir do treinamento de seus cuidadores para estabelecer a conexão sem fio, eles puderam usar os ICMs sem que precisássemos estar lá. Então, fomos capazes de prosseguir com nossos estudos", destacou Leigh Hochberg, professor de engenharia da Universidade de Brown e líder do BrainGate.
*Estagiário do R7 sob supervisão de Pablo Marques